Reinvenção permanente

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por Gabriel Brito, do Conexão Sudaca

Joga bem o Corinthians deste Brasileiro. Em mais uma reformulação comandada por Tite, praticamente a segunda após o vendaval chinês, o balanço dos primeiros cinco jogos é bastante positivo.

Apesar do recorrente pragmatismo, a controlar cada passo do processo evolutivo, o time mostrou uma faceta mais solta nesse arranque de campeonato, no qual, como bem disse Guardiola, deve-se evitar perder a competição, antes de pensar em ganhá-la.

Mais uma vez, temos um Brasileiro eclipsado por um torneio de seleções e o embalo das fases finais da Libertadores, além dos estádios fechados que comprometem a campanha de alguns times ora sem teto.

Dessa forma, uma boa arrancada é fundamental. E consegui-la enquanto se busca uma mínima reinvenção dos padrões de jogo é boa notícia. Já está claro que Marquinhos Gabriel e Giovanni Augusto (como é bom contar com o drible!) são os dois eixos laterais que abrem os caminhos.

O meia atacante recém-chegado das Arábias já parece ser o melhor e mais talentoso jogador do time e um dos principais do campeonato. Foi bem em todas as partidas. E em todas elas foram criadas um considerável número de chances de gol.

De outro lado, Tite tenta encontrar a dupla ideal de volantes. Bruno Henrique e Cristian (este voltou a ser jogador de futebol) parecem boa pedida para alguns jogos fora de casa, mas em Itaquera, diante de retrancas como a de Dorival, são um cuidado exagerado.

Maycon continua a pedir passagem, em nome de seu próprio talento, mas também de uma base que trouxe outro troféu de prestígio. Parece o melhor candidato a repetir os grandes momentos de Elias e Paulinho, jogadores que conseguiam jogar de área à área como poucos. Falo de Elias um tanto no pretérito, pois me parece injusto esperar que aos 31 anos seja o baluarte do time numa função tão exigente.

Guilherme melhorou ladeado pelos já citados meias, que o dispensam do recuo excessivo e permitem que tente seus bons passes em zona mais perigosa para o rival.

Falta resolver o homem gol. Lucca já mostrou ter faro suficiente para receber uma chance a sério como 9, mesmo sem o perfil clássico de centroavante. Ainda assim, foi o único a ir às redes nessa posição.

A zaga é outro problema à vista, com a saída de Felipe, Balbuena na Copa América e as incógnitas do doping de Iago e da qualidade de Vilson, que nesta quarta praticamente não foi exigido por um Santos cuja retranca encontra poucos precedentes em sua história.

No caso de ontem, a insistência venceu o excessivo pudor e já firma o time no topo da tabela. A perspectiva é continuar em curva ascendente, com um futebol mais vistoso do que o imaginado após um desmanche tão severo e uma Libertadores recheada de apresentações insossas e travadas.

Apesar da amarga eliminação para o Nacional, não há motivo para vaias ou perseguições a atletas, ainda mais aqueles que nunca prometeram brilho intenso. Mais uma vez, o Corinthians de padrão tático impecável e sempre em atualização aponta para disputar mais um título de peso.

Nota de óbito

Não é possível deixar de relatar que em alguns momentos até esquecíamos se tratar de um clássico. Péssima experiência a de enfrentar um grande rival sem aquela parcialidade incômoda e petulante num cantinho.

Antes de a bola rolar, a falta de clima tornava a chegada dos torcedores ainda mais preguiçosa e assim o momento da entrada em campo se perde de vez no imaginário lúdico do futebol, tornando-se uma formalidade executada como no videogame. Times entram caminhando juntos, ouvem o hino, se posicionam e dão a saída.

Depois do gol, que teve belos traços de drama e suspense, aquele grito que vem do âmago e a corrida em direção à torcida visitante é travada: não havia ninguém pra mandar à merda após o tento salvador de Giovanni. E isso é triste. Aliás, nessa hora lembrei que eu mesmo tratei de ocupar o lugar que não deveria.

Diante de mais esse embotamento, não surpreendeu a toada da torcida ao longo do jogo, claramente abaixo do que pedem os clássicos.

E assim os mesmos ceifadores de sempre, há décadas proibindo, restringindo e nada resolvendo, constroem mais um vazio em nossas vidas. Mais um dia de luto para o futebol paulista e sua paz de cemitério.

Do canto onde deveriam ter ficado os santistas,

Gabriel Brito.

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