Por Pedro Pereira Buccini
Após falhar em mais uma final com a Argentina, Lionel Messi, o melhor jogador desta década, anunciou que não jogará mais pela seleção sul-americana. A partida já confirmara e o decisão do atleta apenas reforçou o que Maradona dissera sobre ele: não tem personalidade e liderança. Complexo de “dono da bola”, não ganhou, não joga mais. Mentalidade incutida em jogadores por empresários e jornalistas, que exaltam atuações medianas como se fossem geniais. Que tecem elogios sem pesar o contexto socioeconômico em que estão envoltos os grandes boleiros da atualidade.
Messi é um grande jogador, mas o futebol é um esporte coletivo. Ele não decide nada sozinho. Nem quando perde, mas muito menos quando ganha. Todavia, o afã por encontrar mais um personagem midiático, por vender jornais, revistas, camisetas e anúncios individualiza as conquistas, mesmo quando elas são realizadas em conjunto com outros grandes craques, reunidos em seleções mundiais graças a um poderio econômico gigantesco de clubes que são verdadeiras empresas monopolistas do esporte bretão.
Ao lado dele, jogaram no Barcelona das grandes conquistas: Eto’o, o melhor jogador africano de sua geração; Henry, um dos pilares de uma França histórica; Ibrahimovic, o melhor jogador sueco de sua geração; Iniesta e Xavi, os dois melhores jogadores da melhor geração espanhola; Fábregas e Pedro, outras importantes peças dessa geração; Rakitic, um dos dos melhores jogadores croatas contemporâneos; Neymar, o melhor jogador brasileiro da atualidade; e antes Ronaldinho, o melhor jogador brasileiro da época; Suárez, o melhor jogador uruguaio dos últimos tempos; e Bravo, só para não se alongar mais, melhor arqueiro sul-americano.
O mesmo valeria para Cristiano Ronaldo, o melhor jogador europeu contemporâneo, nome quase inseparável de Messi. Ele atuou ao lado de Rooney, melhor inglês de sua geração; também com Scholes e Giggs, dois dos grandes jogadores britânicos das últimas três décadas; Tévez e Dí Maria, dois dos principais atletas argentinos do século; e Van der Sar e Casillas, dois dos cinco melhores goleiros do século. Hoje joga, em seu clube, ao lado de Kroos, um dos pilares da geração germânica campeã mundial; Bale, disparado melhor jogador britânico da atualidade; Benzema, um dos três melhores franceses de sua geração; Modric, ao lado de Rakitic, o elo do futebol croata; e Navas, melhor goleiro das Américas e, talvez, do Mundo. O mesmo valeria para os que atuam no Bayer, PSG, Juventus, Manchesteres, Chelsea, Arsenal, etc…
A imprensa, que ganha muita grana com patrocinadores e anunciantes no futebol mercantilizado, pouco comenta sobre tal aglomeração de grandes jogadores em um punhado de clubes, que se tornam símbolos do ludopédio global e tem suas camisas vendidas em todo o Mundo, cooptando jovens que, ao invés de sonhar jogar em seu clube do coração (e no caso de alguns países da Ásia de começar a montar times de futebol), idealizam desfilar – essa é a palavra – nos gramados da Liga dos Campeões da Europa.
Mas há um outro lado da moeda de jogar com tantas estrelas: quase nunca este grande atleta precisa chamar o jogo para si. Como diz Fernando Toro, o futebol virou um grande “Rotary Club”, onde estes jogadores são a todo momento servidos, no campo e também na vida pessoal. O senso de personalidade e liderança, que Maradona vê faltar em Messi, são completamente dissipados. Adicione isso ao fato de que os boleiros promissores e de porte médio também também são aglomerados em times intermediários (Sevilla, Atlético de Madrid, Porto, Benfica, etc…) e estes jogadores reunidos em seleções mundiais passam a maioria esmagadora da temporada enfrentando grandes babas nos campeonatos nacionais europeus e nas fases iniciais das competições continentais europeias.
Com sua declaração, até mais do que pela sua atuação, Messi, o maior de todos os jogadores atuais em campo, também se torna seu grande espelho como homem. Uma geração de atletas superprotegidos na era do capitalismo monopolista no futebol. Um grande jogador superestimado para gerar lucro, rodeado de outros bons jogadores pinçados de todos os rincões periféricos para formar seleções mundiais. Jogadores que deveriam jogar em oito a onze clubes diferentes em mais de um continente, reunidos em um só. O problema é que esses craques, jogando ao lado de tantos outros, não precisa decidir, assumir a responsabilidade e TER PERSONALIDADE, como disse Diego. Messi e outros seriam tão grandes se não jogasse em clubes que são seleções mundiais? Ou será que seriam muito maiores do que são, sem números tão expressivos pelas circunstâncias que os rodeiam e superestimados e explorados por uma mídia predatória, mas com taças e apresentações individuais que desbravassem a história? Não saberemos porque o futebol mundial está viciado pelo sistema econômico e financeiro em que vivemos.
Se o modelo não mudar, continuaremos exaltando em demasia “Messis”, de hoje e do futuro, durante oito ou nove meses de um ano quando estão cercados pelos melhores dos quatro cantos do Mundo em um único continente e em pouquíssimos países e buscando desculpas para atenuar o desmanche de suas imagens superestimadas em vinte ou trinta dias quando eles mais precisam demonstrar sua capacidade.