*Por Fabi Maranhão
O domingo passado (9) começou pesado para mim. Pouco depois de acordar, me deparei com aquelas cenas assustadoras de intimidação e violência psicológica protagonizadas pelo agora ex-BBB Marcos, 37, contra Emilly, 20. Ainda ouços os gritos dele e vejo seu dedo em riste tocando o rosto da jovem encurralada na parede.
Instantes depois, lá estava eu compartilhando as imagens nos grupos de amigas no Whatsapp e comunidades feministas no Facebook, dos quais faço parte. Na mente, um pensamento: “Precisamos fazer barulho contra esse absurdo!”.
Ainda estava fresca na minha memória a bela e impressionante mobilização de mulheres famosas e anônimas, ocorrida na semana passada pelas redes sociais, que resultou no afastamento do ator José Mayer, 67, da próxima novela das 9 Rede Globo, para a qual ele estava escalado.
Em um depoimento chocante, publicado no blog #AgoraÉQueSãoElas, a figurinista da emissora Su Tonani, 28, acusou Mayer de assediá-la moral e sexualmente ao longo de oito longos meses.
http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2017/03/31/jose-mayer-me-assediou/
A princípio, o ator se limitou a dizer “não misturem ficção com realidade” e colocou a “culpa” em seu personagem machista e misógino na novela “A Lei do Amor”. A Globo emitiu nota, na qual declarou que “repudia toda e qualquer forma de desrespeito, violência e preconceito”, que “todas as questões são apuradas com rigor” e que “não comenta assuntos internos”.
Tudo parecia caminhar para o conhecido “não dar em nada” quando um grupo de atrizes e funcionárias da emissora deu início a uma mobilização contra o ator e a violência sofrida pela figurinista. A tag #MexeuComUmaMexeuComTodas incendiou as redes sociais. Não demorou muito para que a Globo anunciasse o afastamento de Mayer, que logo em seguida divulgou outra nota, desta vez admitindo: “Errei no que fiz”. Foi mais que erro; foi crime!
Voltando ao domingo passado, lembro de ter ficado desanimada ao notar que poucas companheiras tinham expressado a mesma indignação que senti em relação ao que tinha acontecido dentro da casa do Grande Irmão.
Passei o dia postando no Twitter (já que quase não uso o Facebook), desejando ver nascer uma nova mobilização como a que havia sacudido o país na semana anterior. Demorou, mas o assunto, enfim, alcançou os TTs.
À noite, minha esperança e a de milhares de outras mulheres e homens era que, devido à repercussão do caso, a direção do BBB anunciasse a expulsão de Marcos. Para a nossa decepção, isso não aconteceu. Pior mesmo foi ver o público eliminar, por 77% dos votos, a participante Marinalva e manter o Marcos na casa.
Mas felizmente estamos em plena primavera feminista, que começou em meados de 2015 e não dá sinais de que pretende ir embora tão cedo. A pressão das redes sociais chegou até a polícia, que, no dia seguinte, foi bater na porta da tal casa mais vigiada do país. À noite, o apresentador do programa anunciou a expulsão de Marcos.
Em ambos os casos ficou evidente que a mobilização popular, principalmente das mulheres, foi decisiva para pressionar a emissora a tomar providências devidas. Infelizmente, não é sempre que gritamos e somos ouvidas, mas destas duas vezes triunfamos. E nossas gargantas já estão afiadas para as próximas batalhas.
*Fabi Maranhão é jornalista, vegetariana, feminista e militante dos Direitos Humanos.