Por Leandro Iamin
É curioso, o momento do Sport.
De um lado, a tentativa boba, cujo coro é engrossado pela facilidade das redes sociais, de, de uma decisão judicial para outra, passar a patrulhar tudo e todos que não falem, sem espaço para interpretações, dúvidas, controvérsias, que “só o Sport é campeão brasileiro de 1987”. Abraçaram a decisão da justiça brasileira com um engajamento que só depõe contra eles mesmos. Creem que, com uma martelada jurídica, todos que vivem o e do futebol mudarão aquilo que pensam sozinhos sobre determinado campeonato, quando, na verdade, a única coisa que muda é o ponto final. As opiniões seguem livres e as mesmas, mas o ponto final é substituído por uma vírgula, e a observação sobre o que a justiça brasileira definiu entra ali, após a vírgula e antes do ponto. Sociedade democrática não é sociedade legalista.
Por outro lado, o Sport tem uma chance imensa de perceber isto sem que “os outros” apontem o dedo para o caminho. Joga nesta quarta a primeira final da Copa do Nordeste, que é a antítese quase perfeita do que representa para os observadores de fora o campeonato de 1987. A Copa do Nordeste é o maior fenômeno de espontaneidade do futebol brasileiro, e o caso mais vivo de torneio efetivado, consagrado, legitimado pelo povo, pelos torcedores. A Copa do Nordeste foi abraçada pelos que vivem a Copa do Nordeste. Ninguém precisou dizer na televisão que ela era importante. Nenhum crivo judicial ou de federação foi necessário. Enquanto a Primeira Liga e seus derivados definham na indiferença popular, a Copa do Nordeste representa a força que os próprios times possuem, junto de suas torcidas, de criar e manter suas próprias narrativas e, sobretudo, de decidirem o que é importante e o que não é.
Dá para perceber o que uma competição diz à outra, com trinta anos de espaço entre elas? Seria a Copa do Nordeste de 2017 tudo que a Copa União de 1987 gostaria de ser? Será que a competição que começa agora a decidir o ocupante do trono nordestino não metaforiza exatamente o que o torcedor do Sport, cego pelo papel burocrata do judiciário nacional, nega que aconteceu três décadas atrás? Qual é, afinal, o crime em um jornalista, torcedor, amante do futebol considerar que em 1987 houveram dois campeonatos brasileiros paralelos? Por que tanta preguiça com os contextos e tanta disposição com a exatidão dos fatos? O Sport enfrenta o Bahia pela Copa do Nordeste de 2017, que, se vencida, será, penso eu, a segunda maior conquista de sua história, atrás apenas do campeonato brasileiro de 1987, e, na minha opinião, à frente sim da Copa do Brasil de 2008 e das outras conquistas da Copa do Nordeste, em anos de menor engajamento popular.
Pois é disso que se trata o futebol, afinal de contas. É o que a gente escolhe. Trata-se do que a gente decide ser valioso sem necessárias influências midiáticas, sem “dar vaga para a Libertadores” para que sirva, sem uma base geográfica comparativa, enfim, sem que hajam explicações matemáticas ou prêmios que traduzam um sentimento. É o que o Sport vai experimentar na decisão nordestina mais importante para o futebol brasileiro. E é o que o Sport deveria considerar, como reflexão, para preservar o que realmente foi vivido em 1987.
Gabriel Brito disse:
Revisionismo de baixo calão considerar aquele módulo vencido pelo Sport como algo superior à Série B. Mas no Brasil cola.
Edgar Carreiro Jr disse:
Pra falar a verdade, foi BEM superior a uma “Serie B”. Para efeito de análise: contou com o atual (no tempo) vice-campeão brasileiro, o Guarani, e com um dos semi-finalistas, o America-RJ (trivela.uol.com.br/o-ultimo-brilho-do-america-semifinalista-do-campeonato-brasileiro-de-1986/), do Campeonato Brasileiro do ano anterior. Tambem contou com um dos finalistas do Brasileiro de dois anos antes (Bangu).
Em suma, nao sou torcedor do Sport, mas tambem nao desmereçam o modulo Amarelo como o fazem a 30 anos
Abr
Edgar Carreiro Jr disse:
“Em suma, nao sou torcedor do Sport, mas tambem nao desmereçam o modulo Amarelo como o fazem há anos”
Edgar Carreiro Jr disse:
“HÁ 30 anos”, perdão.