Por Gabriel Brito
Como em todo novo desafio na vida, o início exige certo comedimento, cautela. Nunca é confortável entrar de sola na primeira jogada da partida. Não poderia ser diferente neste espaço, recém-criado por colegas de grande apreço, generosos em convidar um modesto jornalista para a nova empreitada, a fim de falar exatamente do que mais gosta.
Porém, como já alertara Tom Jobim, esta não é uma terra para principiantes, o que pode rapidamente colocar nossa teoria abaixo. Falar de futebol por um ponto de vista político, em um momento aparentemente histórico da vida nacional, não sugere longas apresentações e ambientações.
Vamos, então, tentar rolar a pelota. Vivemos um ano marcado por uma Copa do Mundo de polêmicas e ilusões já desmentidas pelos fatos, que culminarão em eleições gerais para presidente da República, além de governadores, deputados e senadores. Tudo sob a incógnita a respeito das manifestações populares de protestos, de dimensões ainda imprevisíveis.
Colocar todos os temas desta seara num único texto é inviável, de modo que podemos ‘subir as linhas’ a partir do acontecimento mais recente: a ‘eleição’da Confederação Brasileira de Futebol, aquela entidade cujo ex-, e quase eterno, presidente, lá em 2007, prometeu realizar a Copa do Mundo com “95% de dinheiro privado”. Quase isso, mas ao contrário.
Todos viram o cerimonial: Marco Polo del Nero, responsável pelas piores edições de campeonato paulista da história, para não falar da sempre progressiva falência dos times do interior, foi aclamado sucessor de José Maria Marin, que, por sua vez, voltou a comprovar seus talentos biônicos e ganhou uma boquinha na ‘nova direção’.
De uma paulada só, fica a impressão de que nosso querido futebol brasileiro voltou a escolher o ‘caminho para lugar nenhum’. Tivemos a vitória, por w.o., do que o senso comum considera as piores combinações de práticas políticas e administrativas, onde a democracia, com diria o secretário geral da FIFA, só atrapalha. Assim, é sempre a primeira eliminada da disputa.
Vale lembrar que quando da renúncia de Ricardo Teixeira – que continuou a receber módicos 100 mil mensais a título de consultoria – criou-se um clima de mudança, ainda que com figuras já conhecidas. Andrés Sanchez, presidente do clube mais bem sucedido do país nos últimos cinco anos, parecia nadar de braçada, com fortes articulações na política parlamentar dominante e com apoio razoável de federações que ameaçaram, e só, sair da mesmice.
Nada muito inovador. No entanto, impressionantemente, ninguém se mexeu, a não ser o presidente da FPF – que até advogou pelo amaldiçoado antecessor de Sanchez no Corinthians. Desta forma, Del Nero se elegeu presidente da CBF com um pé nas costas. Sem ‘programa’, isto é, absolutamente nenhum discurso a respeito de mudanças ou projetos para o futebol nacional.
Longe disso. A ‘nova diretoria’ faz questão de enaltecer os mandatos de Ricardo Teixeira e anunciar a preservação de sua herança. Em pleno momento em que o Brasil, pela primeira vez nos tempos de globalização, tem a oportunidade de se colocar no centro das atenções do futebol mundial, além de manejar cifras nunca antes vistas, dada a atual projeção do país na economia mundial.
Cômico, não fosse muito trágico. Figuras que cansaram de colocar nosso futebol na insolvência, há décadas incapazes de solucionar os problemas do calendário, graduadíssimas em malversação de recursos, além de responsáveis por viradas de mesa, completo desrespeito ao torcedor e talvez a pior escola de arbitragem possível, continuam dando as cartas com a maior tranquilidade.
São muitas as doenças do futebol brasileiro, inclusive dentro das quatro linhas. E num momento decisivo, com Copa do Mundo, novos estádios e enxurrada de recursos, já temos a certeza de que algumas coisas mudaram para ficarem exatamente iguais. A coluna não quer roubar para si o mote do colega Fernando Toro, de “ódio eterno ao futebol moderno”. Mas não faltarão assuntos para essas mal humoradas linhas.
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Gabriel Brito, 29, é jornalista e escreve no blog da Central 3 semanalmente. Além disso, é o apresentador do programa Central Autônoma e participa do Conexão Sudaca, dois programas que você acessa, respectivamente, aqui e aqui.
Andre vIdiz disse:
A situação da CBF é tão dominada pelo mesmo grupo que eles nem tentam fingir que existe uma disputa, discussões e propostas, etc. Apenas assinam a ata da eleição e pronto, se não saísse no jornal (como quase não sai) era melhor ainda! A falta de perspectiva é desesperadora…