Na última semana, no programa Titulares, lembrei da imagem que ilustra este texto. Botafogo x Palmeiras, duas das maiores equipes do Brasil, na competição mais importante do país, em jogo fundamental para as duas equipes, duelam em um Maracanã sem absolutamente ninguém assistindo de uma até outra bandeirinha.
Em qualquer país que não tenha se rendido para a loucura, o campeonato paralisaria no dia seguinte. A organização entraria em recesso e reunião permanente até que a solução fosse descoberta ou definida.
O fracasso de público, tão retumbante quanto antigo, simplesmente retira da competição mais do que emoção. Retira razão de ser. Não há motivo para seguir em frente com algo que tem 75 mil cadeiras à espera de alguém que não vem.
No campeonato inglês, a competição pararia ainda que fossem times muito menores que Botafogo e Palmeiras. No campeonato turco, também pararia. No japonês, no cipriota, no hondurenho. Em qualquer lugar a imagem causaria um horror capaz de alterar os rumos do esporte local.
Aqui, isso não acontece. Ao contrário, o torcedor rival comemora pois enxerga ali o fracasso do time que detesta. A TV finge que é normal e o acostumado põe a culpa no dia, no horário, no acesso. Defende, contudo, que haja jogo mesmo assim. Eu não. E se eu integro o tal do Bom Senso FC, eu não jogo.
Uma semana depois tive de falar, também no programa Titulares, que, na manhã da partida entre Palmeiras e Santos, torcedores do visitante foram capturados no meio da estrada que liga as cidades e forçados ao confronto. Um torcedor palmeirense morreu, e a vida de uma porção de gente alheia ao absurdo esteve em risco.
O jogo aconteceu. O campeonato não parou. Desta vez o estádio estava cheio. Ninguém está nem aí pra nada.