O maior vazio possível

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O brilhante Sérgio Rodrigues, do definitivo O Drible, deu a seguinte teoria a um de seus personagens: não é que o futebol de antigamente era melhor, é que no rádio, com sua narração empolgante e propositalmente exagerada, todo mundo parecia ser bom, enquanto na televisão foi possível ver que a maioria dos jogadores são bagres, não craques.

Nessa linha, adapto a teoria para a estética dos jogos nas arenas construídas por sobre os estádios de futebol brasileiros: do mesmo jeito que a televisão expôs os atletas que você só ouvia do gogó de locutores impressionistas, as neocanchas escancaram as piores cenas possíveis relacionadas ao futebol: com luz branca, telão megalomaníaco e orientadores de festival de rock, explode nos olhos aquele infinito de cadeiras enfileiradas e vazias, rotineiras no Brasil, mais agressivas do que nunca.

A minha pior experiência num ambiente com pessoas jogando futebol – aqui vale tudo, de pelada de praia a bola de meia no intervalo da escola – se deu na chamada Arena Fonte Nova, em fevereiro último, para Bahia x Campinense.

Foram 3,6 mil pessoas num lugar de 50 mil cadeiras, ou seja, uns 7% de ocupação. Na chegada, perguntei por um ingresso no setor da torcida organizada do clube baiano, e fui informado que o mais barato era do outro lado. Como eles têm desconto de sócio, sai mais em conta eles ficarem do lado de lá, mas como você paga inteira normal, me explicou o vendedor, fica mais em conta comprar pro lado de cá. Num estádio vazio, que sentido faz a divisão por setores? Enfim.

O jogo começou naquela sombria sensação de ouvir o estouro da chuteira na bola a cada lançamento. Silêncio total. Depois a bateria ainda chegou, mas nada empolgante. Na imensidão de lugares vazios, não tinha clima, não tinha nada, quer dizer, tinha o telão com um videografismo de ganhar o Globo de Ouro pra anunciar o cartãããão amarelooooo para o camisa número seis do Campinense. Fiquei pensando que deve ser uma loucura ver seu cartão amarelo ser anunciado nesse volume, dá até medo de ir na bola no lance seguinte.

O Bahia fez um gol no começo, ganhava por um a zero e eu fui embora com três minutos do segundo tempo. Prometi pra mim mesmo nunca mais voltar a um desses anti-estádios. Tem sido difícil, confesso, até porque inclui o novo prédio da saudosa rua Turiassu.

Pobres areninhas, tsc

A discussão não pode acabar:

– Nessa semana, o amigo Esequias Pierre, direto de Recife, participou aqui do Titulares, na Central 3, e relatou a falência do projeto entre Arena Pernambuco e Náutico;

– nos principais portais, as notícias de que a OAS colocou a venda a Arena das Dunas e parte da Fonte Nova;

– o Bahia, inclusive, anunciou que está se livrando da própria Fonte Nova;

– a Arena Pernambucano com prejuízo milionário pela segunda temporada;

– e tantas outras histórias que vão pipocando nessa ressaca da arenas goela abaixo.

Dessa crise de identidade vão também nascendo reflexões mais do que necessárias sobre esses tempos nebulosos.

Aqui, o trailer de Geraldinos, documentário de Pedro Asbeg e Renato Martins, que estreia no próximo festival É Tudo Verdade. A dupla filmou os dez últimos jogos da geral do Maracanã e completou, já em tempos de Copa do Mundo e novas arenas, com uma crítica, pela lupa do Rio de Janeiro, do novo modelo de cidade, futebol e sociedade urbana brasileira.

Por fim, o artigo de Gilmar Mascarenhas, no novo e já obrigatório Puntero Izquierdo, que trata, como diz o título, do direito ao estádio.

Sigamos.

 

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