Fagner Fafá, o Água Santa e os Sonhos

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Por Marcelo Mendez

De quantas vezes some o verbo?

São inúmeras as vezes em que uma grande conquista ludopédica engasga o peito dos que são realmente apaixonados pelo futebol.

Decerto que uma dessas vezes aconteceu neste domingo, na confirmação do acesso do Água Santa de Diadema para a primeira divisão do Campeonato Paulista de futebol.

Nessas horas, o cronista ludopédico se vê em uma encruzilhada muito mais santa que aquela em que Robert Johnson vendeu seu blues ao Diabo.

Então nesse instante se faz a escolha: ou caminha pela obviedade e se livra “profissionalmente” do verbo, ou se joga de cabeça pelos caminhos tortuosos e redentores da poesia e se arrisca pelo lado escuro e selvagem da coisa.

Como você que me lê aí do outro lado já me conhece, nem preciso dizer o que prefiro.

Afinal de contas, um feito ludopédico é muito mais que futebol. É uma desorientação de sentidos plena e linda. Então tratemos como tal o que conseguiu o Água Santa de Diadema no último domingo em Rio Claro. Para tal, escolhi um moço, um garoto, o bom amigo Fagner Fafá. Membro da Torcida Aquáticos e apaixonado contumaz pelo time de Diadema.

Nos conhecemos no ônibus que nos levaria até Rio Claro, onde aconteceria a partida contra o Velo Clube. O moço de rosto de jazz, sorriso farto e jeito de poesia, vestia a camisa da torcida, o boné do Água Santa e a caixa de bateria com a qual entonava sambas do Jorge Ben no fundo do veículo.

“Repórter… Canta aí, porra! Tá com sono? Bate palma, faz coro, mas levanta aí!”

O amanhecer das seis horas da manhã do domingo parecia não desanimar o meu novo amigo torcedor. Tomando goles de um drink colorido, sorrindo como quem vê uma anca santa, em meio aos sambas que cantava, começamos nossa prosa. Me falou de sua vida e de como ela está intrinsecamente ligada à paixão pelo Água Santa…

“Ja briguei com mãe, pai, mulher, família toda, tudo pelo Água. Hoje, repórter, tá fácil de torcer, olha só quanta gente, foram 15 ônibus alugados. Eu sou do tempo que a gente tinha um onibus para 15 pessoas apenas e eu era um dos 15!”

Falou-me dos duros tempos da várzea, quando toda cidade jogava para derrotar a hegemonia do Água Santa. De como foi importante o time ter a origem que teve.

“Repórter, a várzea é nóis, repórter. De lá a gente veio, num pode esquecer.”

Me encantou ouvir o rapaz sambista ao longo daquela viagem. Lá pelas tantas ele me mediu e perguntou o tamanho da minha camisa da Holanda de 1974. Com a resposta afirmativa, não pensou duas vezes. Em um gesto bonito, tirou a camisa que vestia e mesmo com meus pedidos para que não o fizesse, me presenteou com sua camisa dos Aquáticos. Me emocionei e isso tudo me fez pensar em coisas da ludopédia.

Que importa a derrota de 0 a 1 que o Água Santa sofreu em Rio Claro? Futebol é apenas isso? De jeito nenhum! E o que falar do Água Santa? Que agora que está na tal elite do futebol, agora é grande?

Não. Seria um erro rotundo. O Água Santa sempre foi grande. Foi grande porque sua origem é grandiosa. Porque só o futebol de várzea é capaz de produzir um time e uma história como a do Água Santa. Dos campos de terra da cidade de Diadema de onde vem a sua origem, o time do Inamar já era grandioso.

Agora, a tal da elite terá a honra de conhecer isso tudo porque o Água Santa vai participar dela. Porque o Água Santa é capaz de produzir essas histórias de grandeza. Porque o Água Santa é capaz de produzir histórias como a de Fagner Fafá.

A ele dedico minha crônica. Ao Água dou meus parabéns e meu muito obrigado.

Me emocione, Água Santa! Sempre…

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Ouça a participação do repórter na penúltima edição do Titulares

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