Na última segunda-feira (01) desembarcaram em São Paulo três familiares e um colega de parte dos 43 estudantes da Escola Normal Rural Isidro Burgos do povoado de Ayotzinapa (localizado no Estado de Guerrero, México) desaparecidos desde 26 de setembro do ano passado, quando arrecadavam dinheiro no munícipio vizinho de Iguala para custear uma viagem ao Distrito Federal. Seis vítimas fatais, entre eles um futebolista de apenas 15 anos, mais dezenas de detidos e feridos completam os números daquela famigerada noite.
A caravana chegou ao Brasil depois de passar por Argentina e Uruguai e está sendo construída através da solidariedade de militantes sul americanos, afinal os três países visitados ainda reclamam os seus desaparecidos, tanto do passado ditatorial quanto do presente “democrático”.
O episódio foi ignorado por grande parte dos meios de comunicação brasileiros – prática comum em relação aos acontecimentos ao sul da fronteira – enquanto no México a cobertura da imprensa é considerada tendenciosa, pois a suspeita do desaparecimento dos normalistas recai sobre autoridades estaduais em conluio com os narcotraficantes da região. Cabe nota que Guerrero é o maior produtor de papoula do país.
Este silêncio foi quebrado pelas vozes das ruas e também das arquibancadas. Porristas de Chivas, León, Querétaro, entre outros clubes levaram faixas de apoio. O mesmo foi observado no amistoso de El Tri em Amsterdã, diante da anfitriã Holanda. Imigrantes de origem mexicana que vivem em diversos países europeus levaram cartazes com os rostos dos estudantes e se manifestaram massivamente, especialmente quando faltavam dois minutos para o final do 1º Tempo, para que o atentado fosse noticiado do outro lado do Atlântico. Atletas como Chicharito Hernandez e Rafa Marquez se posicionaram publicamente cobrando respostas. Enquanto que os atacantes Eduardo Herrera, do Pumas, e Marcelo Alatore, dos Leones Negros, comemoraram gols fazendo um gesto alusivo aos desaparecidos.
Já a publicação de cultura marginal La Garganta Poderosa, de Buenos Aires, realizou um ensaio com diversos jogadores da elite do futebol argentino exibindo a camiseta de seus respectivos clubes com o número 43 às costas.
Na semana passada a presidenta Dilma Rousseff visitou o seu par mexicano Enrique Peña Nieto. Entre um trago de tequila e goles de caipirinha, ambos negociavam a ampliação de acordos comerciais. Amarildo Dias de Souza e Julio César Mondragón – só para citar os dois casos mais notórios de vítimas do Estado – foram ignorados no encontro de chefes de Estado das duas maiores economias da América Latina e que também lideram o funesto ranking de homicídios deste lado do Mundo.
E neste domingo quem retribui a visita é a seleção mexicana comandada por Miguel el Piojo Herrera – outra personalidade que lamentou publicamente a tragédia – formada somente por jogadores com menos de 23 anos, assim como a maioria dos caídos em Iguala.