Por Felipe El Biglia de la Gente Dominguez
48 horas da despedida. Sigo aqui, parado, resignado pela solidão. A sobriedade é impossível. Que venha outra dose de vinho. Mil Ferraris não serão o bastante para tanta saudade. A noite segue embalada por Leonardo Favio. Seu dramalhão “Ella Ya Me Olvidó”, ilustra toda a dor de cotovelo, como pede a ocasião.
Ela, neste justo momento, está em Santiago. Diz que faz frio, 6 ou 7 graus, com a Cordilheira imponente, como sempre. O calor materno, de Doña Leti, também de “La Villana” e dos sobrinhos Juan Andrés, Nicolás e Martín, contrastam com o quase inverno trasandino. Da para ver o sorriso, uma possível roda de sopaipilla, mote con huesillo, ou alguma guloseima típica, que ilustre a alegria “placentera” de voltar ao lar depois de longos anos. Poucos quilômetros separam a residência dos Barrientos, na comuna de Estación Central, do Estadio Nacional, em Ñuñoa. La Roja esta em campo. O publico é tão frio quanto os Andes. Sampaoli aplica mudança, de nomes e estrutura. Haja audácia, diria Roger Flores.
A estreia vitoriosa deixava mais duvidas do que certezas. Inquieto, como deve ser, o treinador argentino tratava de arrumar o problema aéreo com Albornoz pelo lado esquerdo do tridente defensivo. Eduardo Vargas, cada vez mais polivalente, se posicionava em uma nova função, quase como um ala pela esquerda, tendo de cobrir muitos metros do campo, ao passo que Isla destilava liberdade pela direita, duelando com Vidal, Valdivia, ou qualquer ser flutuante desse mosaico futebolístico de camisetas vermelhas. A linha de ônibus nos parece impossível. Marcelo Diaz, o único homem fixo, cobria por todos os setores, além da obrigação de ser criterioso no primeiro passe. Aranguiz, Valdivia, Vidal se aproximavam para dar opção a Alexis Sanchez, o falso 9, o falso 10, o verdadeiro faz tudo, que nunca se esconde, para alegria de Arsene Wenger, Nick Hornby e da metade vermelha do norte de Londres.
El Tri de Piojo Herrera assumia o rol de coadjuvante no 5-3-2. Entregando a bola e saindo rápido com os meias Medina, Corona, Flores e Aldrete. Não há de se surpreender os três gols astecas. Fruto de um time que joga e deixa jogar. Com serias dificuldades em conter o contra ataque rival, as bolas paradas e seu próprio ímpeto ofensivo. O interminável Matias Vuosso, que vi em ação no começo da década passada ao lado de Forlán no Independiente, matou a pau. 2 gols em 2 oportunidades. Seu companheiro de ataque, o goleador Raul Jimenez do Atlético de Madrid, manteria o 100% de efetivamente com a cabeçada que contou com a complacência dos zagueiros chilenos, e também de Claudio Bravo.
O Chile jogou bem. Muito bem na maior parte do jogo. O gol de Eduardo Vargas é de almanaque. Toque de bola lindo, inversão precisa de Alexis, projeção de Isla, somado ao cruzamento 5 estrelas de Vidal, trasvestido de ponta direita, encontrando a cabeça goleadora do ex-atacante do Grêmio. La Roja seguiu pressionando, teve dois gols mal anulados, além de outras situações importantes. Sampaoli tentou de tudo. Colocou Beausejour e Pinilla no final do jogo para o abafa derradeiro. Pinilla, como não lembrar de Pinilla. Justo ele, o protagonista do dia inicial de nosso romance no Bexiga.
Voltemos ao jogo dessa segunda feira de cinzas. Não há como dizer algo distinto: O Chile dignifica o futebol. Um tapa na cara da mediocridade, das duas linhas de 4, do “resultadismo” a todo custo. Aumento o som, tomo outra taça e me indago: Nosso amor bateu na trave, tal qual o chute de Pinilla?