Por Marcelo Mendez, o gonzo da várzea paulista
Dos sábados pela manhã nada se espera de muito diferente das idiossincrasias que esse dia reserva para quem mora nos Bairros do ABCD, como no meu caso, no Parque Novo Oratório. Geralmente é assim, desde que existem os sábados pela manhã. Via de regra é isso, mas no último final de semana vivi a exceção da coisa toda. Eu teria um jogo de várzea para fazer.
Pois é.
Da vez em questão não aconteceria clássica peleja dominical que rege a tradição do futebol varzeano. É assim desde sempre, desde que havia os campos espalhados pelas periferias que não existem mais, por sonhos que não se sonham, por poesias que não são escritas, por musicas que não são mais tocadas, por paixões que não são mais vividas. Sendo assim, de acordo com o que não mais se tem, do que se nega, o fato de haver jogo na várzea sábado à tarde, afora de mudar minha rotina, nada de mais estranho provoca. Dessa forma lá fui eu.
Munido de caneta bic, bloco de notas e alguns sambas assoviáveis e épicos, rumei para o Estádio do Nacional na minha quebrada para cobrir a rodada inicial do Torneio Uniligas, uma copa que reúne os campeões e vice das sete cidades do ABCD. Um campeonato que vem com toda pompa de uma competição recheada de patrocinadores, apoios, olhos atentos de todos e muitos interesses, até alguma ansiedade, ora veja.
A peleja se daria entre os times do Metalúrgico de São Caetano e o IV Centenário de Santo André. A expectativa era grande, afinal, tratam-se de times formados pelo que há de melhor no futebol amador da região. Tinham camisas novas, equipamentos bons, técnicos atentos, focados, jogadores aflitos pelo tocar na bola. Tudo, portanto, estava pronto para que houvesse ali um daqueles jogos de muita grita. No entanto, apesar do dia ser outro, mesmo não havendo aquele romantismo de outrora, as coisas citadas são do Universo da Várzea e este meus caros, é impar. Sendo assim, não demorou muito para que aparece-se um personagem que fizesse jus a esta tradição.
Dez minutos de jogo e então temos a primeira falta dura; um carrinho dado com a voracidade de um solo de sax de Sonny Rollins, a riscar a perna do atacante. O árbitro, ali ao lado da jogada, o que faz? Nada. Absolutamente nada. Avisado pelo auxiliar muito se dá em apitar uma falta, mas não uma falta portentosa, digna de um zagueiro bufão, não; apitou uma faltinha, desconsiderando totalmente o clima do jogo, tal e qual um juiz de jogo de condomínio. O resultado foi péssimo.
A partir dali surge então o Juiz Fraco. Sim, meus caros. O Juiz Fraco não coíbe nada, não grita, não se impõe, não ta nem aí para nada disso. Ele tem no semblante toda a tragédia de uma obra shakespeariana, tem toda a melancolia de um Huckleberry Finn, tem a tristeza dos amantes de amores frustrados. Não há nele a febre de uma paixão impossível, não existe em seus atos o impulso que vira um jazz flamejante, um rock sanguíneo, nem a epifania do primeiro beijo na boca de uma adolescente virgem. Nada disso. Ele, além de triste, nada mais é que um correto. Sim, vos afirmo:
O Juiz Fraco é um honesto! Nele não há o encanto de um juiz tendencioso, não há a poesia daquele clássico apito caseiro, nada disso, Erra porque é ruim. Falha porque apenas é fraco. Ouve gritos, xingos e palavrões diversos por obstinação, como ouviu o juiz de sábado. Ao término, após o 1×1, me aproximei do moço, descobri que o seu nome era Luiz. Vendo seu rosto melancólico, nada falei. Apenas lhe dei um abraço.
Sem entender muito, ele retribuiu me abraçando fortemente…