Por Felipe El Biglia de la Gente Dominguez
Ricardo Gareca tem o destino atado ao futebol peruano. O gol mais importante da sua carreira valeu a classificação agônica para o Mundial de 86, contra o duríssimo selecionado do Peru. La Franja vinha de jogar duas edições consecutivas sob a batuta de craques da estirpe de Cesar Cueto, Juan Carlos Oblitas e Julio Cesar Uribe. Era o começo do fim para a segunda geração exitosa dos incaicos e a primeira das oito lamentações consecutivas nas Eliminatórias para a Copa do Mundo.
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Como treinador, foi no Universitario de Deportes que o Flaco faria seu primeiro grande trabalho fora da Argentina, conquistando o Apertura de 2008 com o conjunto crema. Mais do que essas anedotas, El Tigre Gareca comparte o mesmo paladar futebolístico do futebol peruano: toque de bola, ímpeto ofensivo e protagonismo.
Com todas as limitações impostas pelo péssimo trabalho de revelação de jogadores nas últimas décadas no Peru, Gareca tem conseguindo nessa Copa América recuperar alguns aspectos clássicos da maneira de ver futebol do povo peruano. O grande exemplo foi o maior índice de posse de bola contra o Brasil, na estreia. A derrota, no lance final, não refletiu a paridade do confronto, onde o Peru jamais se meteu atrás para defender um empate.
Um dos trunfos de Gareca esta na escolha da dupla de volantes. Ballon e Lobatón se destacaram no título nacional do Sporting Cristal. Ballon é puro ímpeto na marcação, ao passo que Lobatón dá pausa, cadência, conduzindo com sua experiência e convidando seus companheiros a ter a redonda. Na frente, teve a grande sacada de apostar em Joel Sanchez e Christian Cueva. Os dois jovens ponteiros vem se destacando com arranques e assistências. No comando do ataque, a ideia era contar com o entrosamento de Jefferson Farfán, em uma nova posição, ao lado de Guerrero. Com o problema alérgico, Farfan deu luga ao experiente Pizarro, reacendendo uma nova polêmica nacional sobre a utilização de dois centroavantes genuínos, os famosos tanques, que de certa forma, vai contra o ideal de Gareca – apesar do mesmo ter representando em sua carreira como centroavante de Boca Juniors, Sarmiento de Junín, América de Cali, Veléz Sarzfield e Independiente, essa especie de jogador. Contra a Venezuela, ironicamente, a vitória veio com uma tabelinha entre Guerrero e Claudio Pizarro, concretado pelo maior goleador estrangeiro na história da Bundesliga.
Gareca já conta com o respaldo de parte da imprensa e da crítica peruana, que nota a melhora nesses primeiros jogos em relação ao ciclo dos uruguaios Sergio Markarian e Pablo Bengoechea, que apostavam por um jogo mais ríspido e defensivo. O novo treinador já tem até um quadro humorístico em sua homenagem, no qual Ricardo Karateka mostra toda a humildade e confiança característica de um porteño da gema.
Nas quartas-de-final, a vitória diante da Bolívia, em Temuco – justamente a sede mais distante dos vizinhos andinos – refletiu o bom momento da Albirroja, que soube comandar as ações desde o início no 4-4-2. Farfán voltava a jogar pela ponta direita, deixando Pizarro e Guerrero como referência, em meio ao novo tridente defensivo da seleção boliviana. Do lado oposto, o garoto Cueva do Alianza Lima, foi o grande destaque participando dos dois primeiros gols de Guerrero. No primeiro servindo Loco Vargas na ponta esquerda, que cruzou na medida para o novo centroavante do Flamengo. No segundo, um contra ataque letal de Cueva, que serviu Guerrero de forma primorosa.
O Peru, assim como em 2011, volta as semifinais. O “Clássico do Pacífico” é ingrato, contra o anfitrião Chile, quem como diriam os próprios; “viene de menor a mayor”. Mais do que um possível trunfo histórico, Gareca vai em busca da consolidação e uma espinha dorsal definida para brigar nas Eliminatórias por uma vaga no Mundial, que não é concretizada desde 1982.