Passaram Messi, Garay e Banega. Também Lavezzi e um infeliz Biglia. Depois, na tensa série alternada, chegou a vez de Rojo provar o gosto de ser um pouquinho Roberto Baggio. Só então, já na sétima cobrança argentina, Carlos Tévez iniciou a pesada caminhada, que o separava das preces e dos companheiros, rumo à marca da cal, que bem sabemos, não costuma respeitar história, curriculum ou ídolos.
Aquele mesmo círculo branco marcado no chão, de forma tão perfeita que representa uma completa anomalia em um cenário tão verde, quatro anos antes sentenciou o destino do jugador del pueblo na seleção Albiceleste. Na ocasião, o Cementerio de los Elefantes, cancha do Colón de Santa Fé, seguiu com sua rotina e derrubou mais um gigante. A cobrança à meia altura foi perfeita para que o goleiro Muslera arquitetasse a ponte que levaria o Uruguai ao título da Copa América de 2011.
Mas a decisão ficaria mesmo para as injustas penalidades. Um time que foi superior durante todo o jogo deveria decidir a sorte estando cara a cara com o próprio algoz. E pela primeira vez – talvez na vida mesma – El Apache se assustou e deu alguns passos para trás. Tévez não queria cobrar de forma alguma. Não queria correr o risco e depois assumir compulsoriamente, caso falhasse, outro insucesso de uma seleção que parece ter esquecido qual o peso que as taças costumam ter.
Foi somente após as falhas de dois companheiros que Carlitos, enfim, tomou coragem. Provavelmente pensou, naqueles minutos concentrado no meio de campo, que a sorte estava lhe oferecendo uma nova oportunidade. Parece caminho trilhado e é mesmo. Porque para quem se acostumou a enfrentar dificuldades na vida desde sempre, não seria uma partida de futebol que iria assustá-lo.
Aproveitou os passos para trás, o tímido recuo, e pegou impulso para uma corrida firme e decidida até a bola. O chute seco, forte, parecido com aquele de quatro anos antes, dessa vez decidiu beijar a rede lá no fundo do gol. O grito veio meio que discreto, mas os braços, agitados em movimentos rápidos e com o punho fechado, delataram o que já não poderia mais ser contido. Adrenalina, explosão, alegria e alívio. Tudo isso foi soterrado pela quantidade de abraços que desabaram alguns segundos depois.
Ver a bola estufar as redes de um goleiro que parecia invencível foi a merecida revanche do artilheiro que tirou o peso de uma América das costas.