Por Felipe El Biglia de la Gente Dominguez
Tirando o Rojo de Avellaneda e Luis Fabiano, coincido com o Cururu – companheiro de VVT – na imensa maioria das discussões. Fã de Sandro de América, Gary Medel e cumbia villera, Bruno de Oliveira – que atende pelo apelido do simpático anfíbio – é também o jogador que todo treinador gosta de contar na várzea. Aos sábados, no glorioso Bicudão, envergando a camiseta rubro-negra do segundo quadro do Autônomos FC, Cururu personifica a canção de Jorge Ben, que diz que “para ser um bom zagueiro não pode ser muito sentimental,tem que ser sutil e elegante, ter sangue frio, acreditar em si e ser leal”.
Cururu é também um secador convicto da atual seleção chilena: “Biglia, o Chile pode até ser campeão, mas nunca será reconhecido como um grande escrete, tal qual a Inglaterra de 66”. Ora Cururu: La Roja, arbitragens à parte, assume a condição de protagonista em todas as situações, ao passo que o Uruguai especula, o Brasil se dunguisa e a Argentina ainda busca uma nova identidade, dependendo do curto circuito entre Messi, Pastore e Di Maria. Eis que Cururu seguia destilando seu desdem pelo Chile: “Bando de nanicos, apenas correm, fazem faltas como loucos e jogam sujo”.
Jogar sujo vai contra o ideal bielsista, é bem verdade, porém essa geração repleta de fanfarrões da estirpe de Medel, Valdivia e Vidal, demonstrou a justa malandragem para pilhar Carlos Zambrano, Edinson Cavani e Jorge Fucile. Temperamento latino é fogo, diria Moreira da Silva. Alexis Sánchez e Arturo Vidal não alisaram, sempre com um que te pasa conchetumadre? como a primeira opção após uma dividida. Zambrano caiu fácil e, assim como Cavani, abriu o caminho para um amplo domínio mapuche. Vale recordar que o Peru pressionava a saída de bola chilena até então, somando estocadas perigosas e quase letais. Gareca armou um 4-4-1-1 com Cueva e Carrillo evitando a subida de Isla e Albornoz, aportando rapidez e pressão no campo chileno. La Foquita Farfán quase anotou o primeiro para La Franja com um toque de cabeça que raspou a trave. Antes, o inoxidável Carlos Lobatón, homem símbolo do começo da era Gareca, mostrando os predicados de quem responde pela possessão da seleção blanquiroja, acertou um chute de três dedos rente ao poste defendido por Claudio Bravo.
Vamo Peru Carajo! gritava Cururu. O Peru logo perdeu ímpeto. Gareca teve que sacar Cueva, repondo a linha defensiva com Ramos. La Roja, enfim, tomava conta da partida, com seu jogo de passes e pressão constante nos últimos 40 metros. Valdivia e Aranguiz eram os condutores. O gol amadurecia, quando de um cruzamento de Alexis, e um posterior toque na trave, surgiu o gol irregular de Vargas. O Chile, assim como nas quartas-de-final e na estreia contra o Equador, gozava da força dos homens do apito, sempre localistas na América do Sul. As demais seleções do continente já desfrutaram do mesmo pecado, mas o Chile, claramente superior a todos os seus rivais na competição, vê seu possível título inédito ser arranhado no inconsciente coletivo.
O Peru voltou do intervalo ainda mais audaz. Gareca adiantou as linhas, saindo outra vez a pressionar no Estadio Nacional. Fiel a suas convicções, Sampaoli provava que é ainda mais corajoso. O pelado mais famoso de Tandil sacou Albornoz, o zagueiro escolhido para aumentar a estatura da defesa, colocando Mena, de claros predicados ofensivos. Marcelo Diaz, o seu volante mais recuado, dava lugar a David Pizarro, meia experiente, de cadência, inversões precisas e pouca marcação. O Peru empataria o cotejo com uma triangulação entre Lobatón, Guerrero e Advincula, que culminou no gol contra de Medel, o ídolo de Cururu.
“Biglia, torcer para o Racing eu até supero, mas ser fã do Medel…”. Eis que Vargas, 3 minutos depois, acertaria um petardo, pegando Gallese no contrapé. 2 a 1 para os donos da casa. “O chile não existe” seguia Cururu. La Roja tocava e tocava. Felipe Gutierrez seguiu com o ímpeto ofensivo no meio, que mantinha picos de 70% de posse de bola, evitando chutões ao ritmo elegante de Pizarro. Valdivia, o grande maestro do time nos últimos jogos, supriu a noite apagada de Sánchez e Vidal, mostrando que a força coletiva suplanta seus dois melhores jogadores “A mística contará. Pode anotar a Argentina leva essa ai” rogava Cururu. Que chegue sábado com um bom Carbenet do Valle Central, azeitonas e sopaipillas. La Roja, vice-campeã em quatro oportunidades, não sabe o que é definir uma Copa América desde 1987, quando perdeu na bola e no tapa para La Celeste de Alzamendi, Bengoechea e Francescoli. Enquanto isso, Cururu segue secando o Chile.