Durante os últimos dias os meios de imprensa chilenos informaram que a concessionária Blanco y Negro – empresa que administra o Colo Colo – tinha a intenção de apresentar um requerimento à Intendência de Santiago para permitir a entrada do bumbo no Estadio Monumental na partida diante do Deportes Iquique – vitória do Cacique por 1 a 0 – no domingo passado. Finalmente, a medida não prosperou, devido às múltiplas exigências que colocou a Intendência e que a seu juízo não se cumpriram ainda.
Diferentes torcidas já entraram em contato com as empresas que administrar os seus clubes para emular os passos dados pelos administradores albos, no entanto, devemos fazer uma análise crítica em relação a este tipo de medida e não somente aplaudir algo por parte de empresários disfarçados de torcedores. A iniciativa tomada por Aníbal Mosa – presidente da ByN – busca estabelecer um ponto ao seu favor, fazendo com que os torcedores e simpatizantes avaliem positivamente a sua gestão, assim como a sociedade anônima representada por ele. Assim, os empresários estabelecem uma relação harmônica entre os seus torcedores, ocultando veladamente os verdadeiros problemas que se queixam os sócios, torcedores e simpatizantes: o alto preço dos ingressos, a péssima organização na entrada das partidas devido ao excesso de seguranças em grande parte dos acessos e a nula participação dos associados têm nos temas ligados ao clube.
Uma experiência similar é percebida na Universidad Católica – administrada pela empresa Cruzados. Ali, um grupo de torcedores realizou uma petição para que o clube para que o clube gestionasse a volta do bumbo frente à Intendência, o qual, se iniciou nesta semana.
Em ambos os casos estamos frente a iniciativas que muitos torcedores tomarão como positivas, mas que somente maquiam e encobrem a verdadeira relação entre as sociedades anônimas e os hinchas: consumo. E afirmamos isto, pois os fato que voltem os bumbo, faixas, trompetes e outros artefatos não muda em absoluto a forma em que desde as empresas se concebe o esporte, um mero espetáculo do qual se deve tirar a maior quantidade de rendimentos econômicos para manter sempre o lucro dos seus investidores. A entrada desses instrumentos será baixo as condições que se imponham desde o Estado e as próprias empresas, portanto, o espetáculo que esses podem brindar seguirá nas mãos daqueles que sempre usurparam os nossos bolsos. A volta destes instrumentos não é uma vitória por parte dos torcedores, não ao menos se pensarmos que para isto fosse possível se negociou e/ou tramou com as concessionárias e, por fim, serão elas que coloquem as condições as quais se devem operar. Assim, a volta do bumbo só será possível se resultar em um benefício a largo ou médio prazo para os empresários.
Por outro lado, se viabiliza e legitima a relação sombria regida entre os donos das empresas e os chefes das hinchadas, quer dizer, entre aqueles que usurparam os clubes e os autodenominados líderes das barras bravas, situação que permitirá aos mafiosos de terno transparecer a relação econômica e de vassalagem que têm mantido por anos com aqueles que ganham dinheiro em nome do amor às nossas camisas. Um salário pelo que se chamaria prestação de serviço – permitido pela nova lei de violência nos estádios – que é tocar bumbo e organizar seu uso no interior dos estádios. Cooptação da iniciativa popular em todo sentido, controle e redução dos espaços de descontentamento dos torcedores com os atuais donos dos seus clubes, passamos de policiais de verde à policiais vestindo as cores de cada clube em questão. Negócio redondo, paz para o futebol moderno, controle e cooptação por parte das sociedades anônimas.
Por último, devemos ser claros que não estamos contra os bumbos e tudo o que gere espetáculo no futebol, reconhecemos nisto um importante elemento para apoiar às nossas equipes. No entanto, cremos que os torcedores devem ser críticos no que diz a respeito às medidas tomadas pelas empresas; não basta organizar-se para pedir estes elementos secundários, mas, pelo contrário devemos ser férreos opositores das sociedades anônimas, representantes do futebol-negócio, e construir espaços, instâncias e ações com as quais nos organizemos de forma horizontal e democrática-popular em torno da recuperação dos nossos clubes, único fator com o qual podemos voltar a viver uma autêntica festa em cada partida… o resto é enganação.