Por Esequias Pierre
O ano de 2015 para o Santa Cruz FC começou finalizando um ciclo vitorioso, que foi construído e resultou em dois acessos em competições nacionais e um título, três estaduais e campanhas consistentes nas competições que disputou no ano de 2014. O Santinha que chegou a cair e ficar na Série D por três temporadas, estava de volta à Segunda Divisão, tendo saindo do calabouço do futebol brasileiro. Depois de anos de sofrimento e incerteza para sua imensa torcida, a temporada atual se iniciou com uma série de incertezas e dificuldades, naquele momento fora da Copa do Nordeste e da Copa do Brasil e com poucos recursos para montar um time competitivo, os objetivos da nova composição e da torcida, eram modestos e realistas.
O trabalho que se iniciou no clube visou inicialmente promover a renovação no elenco, conquistar novamente a oportunidade de disputar as Copas citadas, além de seguimento ao processo de reorganização fora de campo e seu enorme passivo. Assim foi feito, o novato Ricardinho foi o escolhido para conduzir o clube, elenco renovado e desconhecido, os objetivos iniciais foram sendo alcançados. Inicialmente chegamos as fases finais do Estadual, depois de muita oscilação e mal futebol, conquistamos as duas primeiras vagas almejadas para 2016, passamos pelas semifinais e chegamos a nossa quarta decisão em cinco anos, dessa vez uma disputa inédita contra o Salgueiro, emergente equipe do Sertão de Pernambuco. Dois jogos duro – empate fora de casa e uma vitória pelo placar mínimo em um Arruda apinhado de gente – levantamos mais uma vez o título Pernambucano, apesar dos enormes problemas financeiros e da limitação técnica de seu elenco e treinador.
Com o inicio da Série B, o Tricolor chegou sonhando alto com a possibilidade de brigar pelo acesso à Primeira Divisão, categoria que estamos 9 temporadas sem disputar. Começamos mal, figuramos no Z4, Ricardinho não resistiu, os problemas especialmente financeiros se avolumaram e o fantasma do rebaixamento mais uma vez se fez presente em nossas mentes e corações. Mudar era necessário e o Santinha foi buscar um treinador que poucos anos antes nos deixou por um salário mais vantajoso e em uma divisão acima: Marcelo Martelotte voltou, outros atletas somaram e a recuperação foi tímida, mas constante. Saímos da degola e fomos subindo aos poucos na tabela, nesse meio tempo Grafite ídolo no começo dos anos 2000 retornou ao Arruda e encheu o coração da torcida coral de esperança. Mesmo com propostas mais rentáveis da Série A e do exterior, Grafite veio por que quis e a torcida o abraçou, o time cresceu e as vitórias vieram.
Na reta final pagamos por nosso inicio ruim, demoramos a chegar no G4, passamos apenas duas rodadas nele e saímos, perdemos o clássico local dentro de casa e aumentando desconfiança da imprensa e de parte da torcida. Após a derrota para o Náutico, precisaríamos vencer fora e ter um desempenho que não tínhamos atingindo até então, tendo de ganhar nas visitas ao Bahia, Botafogo e Mogi Mirim. Mas em uma sequência de jogos que jamais esqueceremos, empilhamos vitórias dentro e fora de campo. Até então tínhamos vencido apenas dois jogos fora, na reta final foram três vitórias fora e duas em casa, o acesso depois de 10 anos veio novamente e não apenas isso, o Santa Cruz experimentou realizar a maior recuperação até hoje já vista na Série B de pontos corridos. Saiu do rebaixamento ao acesso, tomando uma das vagas e na última jornada vencendo o clássico regional contra o Vitória e conquistando o vice-campeonato da Série B. O Santinha é também a primeira equipe do futebol brasileiro a descer da Série A a D e voltar, dentro de campo como tem que ser…
Diferentemente do que se fala, não acredito que ninguém possa efetivamente se estruturar e organizar jogando sempre a série B. É na elite do futebol brasileiro que estão as melhores cotas de televisão – embora ainda injustas na sua distribuição – e também os melhores horários e dias para jogos. É maior visibilidade para o clube e para a captação de patrocinadores. Os desafios para o ano que vem serão ainda maiores, já nos dando a faixa de candidato ao rebaixamento, a realidade é dura, a desigualdade maior ainda, mas acredito que para nós que enfrentamos três divisões, quase inatividade e rebaixamento em série, o Brasileirão 2016 será um grande prazer, uma disputa cheia de tabus e saudades.