“Quando você constrói e troca quase 600 passes, aí vem um erro de início de temporada [erros de finalização]. Não é por sorte. Ela tem construído os resultados ao longo do jogo”.
A frase acima é do técnico Tite, que recusa, a cada semana, a palavra ‘sorte’. Tem asco, se incomoda, acha coisa menor. Nega um grande trunfo que muitos não têm, ou melhor, que no seu caso, e de seu Corinthians, tem sido sucessivamente um fator positivo. Sim, a sorte. Acontece, professor.
Oscar Schmidt, mais conhecido jogador de basquete da história do Brasil, era outro que sempre cerrou os dedos ao ouvir a paroxítona que parecia contradizer os conceitos de um obcecado por treinamento. A maior lição que aprendi com o Oscar é que sorte não existe, falou certa vez Elias Awad, autor de uma biografia sobre o Mão Santa (aliás, deveria ser Mão Treinada então, não?).
O que me chegava dos papos do meu pai, das revistas Placar e das noites de Mesa Redonda e Cartão Verde é que tal time tem a sorte de campeão. Ou que goleiro bom precisa de sorte. O que artilheiro em boa fase também conta com a sorte, aquela bola que o goleiro espalma, mas vai raspar a trave e entrar devagar… Mas na era da objetividade, da prancheta, dos analistas de desempenho e dos números em tempo real com mapa de calor, a sorte é renegada a segundo, terceiro, quarto plano.
Tite, meu caro, é claro que time ruim não ganha na sorte. É claro também que, se o Corinthians chega ao final do jogo criando chances de marcar, é porque tem seus méritos. Mas veio de uma sequência em que venceu o Cobresal, no Chile, em 17 de fevereiro, em bola desviada quando já firmava contrato pelo 0xo; empatou com o São Bento, dia 24, num chute espírita de André com o relógio já apontando a primeira derrota na temporada; e agora ganhou do Oeste, último dia 27, num chute no estouro do tempo que percorreu os exatos milímetros entre os trocentos defensores que tentaram evitá-lo. Sorte, oras.
Foi ainda na semana passada que o José Trajano, na ESPN, disse que o novo Corinthians estava tendo essa sorte, vencendo jogos no fim. Para ser repreendido por comentários de alvinegros indignados, sorte?, esse cara só assiste aos melhores momentos!
Sorte não faz mal, corinthianos. Ainda mais em tempo que os vizinhos têm menos bola e, claro, menos sorte que os que vestem a camisa do atual campeão brasileiro.
Palmeiras e São Paulo não só têm jogado bastante mal como não passam por rivais seja na Libertadores, seja no Paulista, nem com aquele golzinho sortudo no fim. O Santos, só no Estadual, lidera seu grupo, mas muito distante de repetir que seja um rascunho de uma boa atuação do excelente segundo semestre do ano passado. Recusariam um dose de sorte vinda de Itaquera? Duvido. Ainda que, depois do gole seco, negariam. Aqui é trabalho, que sorte o quê, ora. Tsc.