Por Vitor Vecchi
Desde que o padre-chefe dos católicos é o argentino Jorge Bergoglio (com o nome de Francisco), notório torcedor do clube azulgrana de Buenos Aires, o San Lorenzo tem recebido o complemento “O time do papa” pela imprensa brasileira. Há quem se incomode com a situação, e o caso me faz lembrar Tom Brady. No Brasil, ele é o marido de Gisele, antes de ser um grande campeão do futebol americano. Mas não podemos ignorar os fatos. O papa não se envergonha da sua paixão. Muito pelo contrário, são mundialmente conhecidas suas manifestações públicas sobre o futebol. “Siete a uno fué poco!”
A conexão do San Lorenzo com a igreja católica vem de berço, literalmente. Em 1908, o padre Lorenzo Mazza foi o mentor do grupo de meninos que fundou o clube. A ligação com os padres fez com que a instituição ficasse conhecida como los cuervos, alusão ao hábito negro dos religiosos e a plumagem dos corvídeos. 106 anos depois, o clube alcançava a glória máxima do continente, a Copa Libertadores. Mas passada a euforia dos títulos, a edição de 2016 está colocando a fé católica do fanático cuervo à prova.
Uma boa mostra da provação pela qual está passando o cuervo foi o jogo de ontem contra o Grêmio. Apenas iniciada a partida, um pênalti infantil foi cometido por Marcelo Oliveira em Fernando Belluschi. El Gordo Ortigoza cobrou com categoria, para a alegria de outro gordo ilustre em Bajo Flores. “Revoleá bien esta remera, gordo!”
Assim que, nada mais haver começado a disputa, La Gloriosa Butteler cantando no estádio fazia tremer o Cemitério de Flores, a um quilômetro dali. Logo na sequência, Geromel, que vem sendo a RESERVA MORAL do Grêmio desde que se firmou na equipe quase empatou. Mas o resto da etapa inicial serviu para ressaltar as qualidades milagreiras e beatificantes de outro gremista, o goleiro Marcelo Grohe.
Uma falha grotesca de Maicon, após um escanteio do Grêmio, proporcionou um contra ataque aos argentinos em que Grohe evitou o gol de Cauteruccio. E não parou aí, ainda vimos outra grande defesa no chute a queima-roupa de Blanco, uma bola na trave de Más e Geromel tirando quase de cima da linha do gol. E o primeiro tempo que deveria ter sido uma goleada, teve apenas o mirrado gol de pênalti do BEM-NUTRIDO argento de alma guaraní, Ortigoza.
A etapa complementar foi um martírio para qualquer espectador, no estádio ou na TV. O Grêmio mantinha a incompetência na criação de jogadas e nas tentativas de passes mais diretos para frente; enquanto o San Lorenzo não conseguia entrar mais na área e se contestava em arriscar de longe.
E quando todos já estavam considerando que o resultado seria mesmo o 1 a 0, aos 44 minutos do tempo regulamentar veio o famoso GOL FODE LIDE. A defesa azulgrana dormiu na saída de bola; Ramiro, de bom desempenho defensivo na partida, lança para a área e a jogada é rematada por Lincoln, o guri de 17 anos da base, pro gol. Num indicio de que Deus abandonou os cuervos à própria sorte, Caruzzo não conseguiu evitar que a bola passasse entre suas pernas, balançando as redes de Torrico. Um empate injusto pelo que ambos criaram. Porém, justo se levarmos em conta a velhíssima máxima que se mantém atualíssima: “Quem não faz, leva”. O San Lorenzo levou na única vez que o Grêmio conseguiu trocar mais de três passes dentro da área adversária.
O autor do gol redentor aparenta ser a mais nova versão de um tipo de jogador que o torcedor gremista está acostumado a ver nos últimos anos, o menino-da-base-que-é-deixado-
E, embora tenha criado bastante nesta partida, o San Lorenzo continua PECANDO (rá!) nas conclusões. Nos quatro jogos em LA COPA, converteu em apenas três oportunidades, todos de bola parada e sendo dois de pênalti. Então, numa combinação de falta de pontaria e azar, os argentinos saíram de campo com poucas chances de seguirem vivos na competição. Agora só restam duas partidas, visitando o Toluca no México e recebendo a LDU em casa. Além das vitórias, secar os adversários será vital. A grande dúvida é saber se o papa, como o maior exemplo de conduta católica, OFERECERÁ A OUTRA FACE aos seus agressores.