Dizia um técnico meu na infância, o Valdo, na várzea mirim de São Bernardo: time bom não faz conta. Eram os primeiros tempos em que os resultados dos campeonatos eram postados na internet, e eu, adolescente ansioso, passava a segunda-feira no F5 para descobrir o resultado de Jabaquara x Mauaense, Vivaldi x Osasco.
Para com isso, time bom não faz conta. Quando começa a pensar no jogo dos outros, é que não fez a própria parte, e aí não faz diferença.
Palmeiras e São Paulo conseguiram até aqui na Libertadores façanhas das boas e dão poucos sinais de que conseguirão, nos jogos restantes, uma arrancada rumo à segunda fase da competição internacional. Esqueça os simuladores, torcedor. Secar, no caso desses dois, nem adianta, já que a dupla tem feito menos que o mínimo ao não conseguir se impor em casa, além de deixar escapar a vitória contra os mais fracos do grupo, mesmo fora, em jogos abertos e mais do que acessíveis.
A situação do Palmeiras é mais complicada: restam dois jogos e perder para o Central em Rosário na próxima jornada significa eliminação antecipada e um fim melancólico, abraçado no limbo, contra o River Plate na rodada final. Se vencer – o que seria um ponto fora da curva a esse momento, visto que no confronto de ida contra os argentinos o time brasileiro ganhou, mas não viu a bola por todo o segundo tempo -, faz da rodada final uma página em branco onde o outro resultado do grupo e o saldo de gols interferem diretamente. Matematicamente, a coisa ainda é nebulosa: duas vitórias por 1 a 0 podem não adiantar, ao tempo que empatar com o Central e vencer o River, de repente, seja suficiente. Na bola, a tendência é a Libertadores terminar já na rodada cinco.
O São Paulo, três jogos restantes, se classifica se marcar os nove pontos. Por inércia, deve vencer o Trujillanos – mais fraco do grupo e que levou 4 a 0 do River em casa, ainda que o São Paulo tenha conseguido só empatar na Venezuela -, e aí recebe o River Plate e visita o Strongest. Com o returno todo a ser jogado, são muitas as combinações possíveis, mas não há outro panorama que não seja vencer as duas no Morumbi e ir para uma final na altitude boliviana.
Ainda é meio de março, mas palmeirenses e são-paulinos já lamentam os vacilos que podem custar o planejamento para a temporada. Sim, é fato que uma eliminação precoce na Libertadores para times deste tamanho significam, muitas vezes, desmanche no elenco, troca de comando, clima interno mais que prejudicado. Mas alguém vai achar um motivo para dizer que, ao menos, entrariam mais focados no Brasileiro. É, não dá para fazer conta, Valdo, quando não se faz a própria parte.