Por Gabriel Brito, do Conexão Sudaca
Se em condições normais já é difícil para o povo verde e amarelo e sua mídia reconhecerem valor naquilo que cerca o gigante alegadamente acordado, não se poderia esperar que o fizessem na noite em que o Galo mineiro já traçava suas próximas rotas e o Palmeiras jogava sua última ficha.
Mas vale, sem perder o gracejo, a pena mencionar o que acontece na ignota cidade de Sangolquí, no meio da serra que conduz ao norte do Equador, logo ao lado da grandiosa capital Quito. Já é a terceira vez que o Clube de Alto Rendimento Especializado Independiente del Valle participa da Libertadores, e a segunda em que enfrenta altivamente um time brasileiro.
A própria alteração recente do nome já denota alguma ambição diferente, dado que até os estertores de 2014 pairava o Club Social y Deportivo Independiente de José Terán no registro da agremiação criada em 1941. Pois nesta quinta-feira, após 90 minutos de épica resistência ao assédio do Colo Colo e todo o peso do lotado estádio Monumental de Santiago, o negriazul confirmou sua passagem às oitavas de final da nossa Copa mãe.
Nada mal para um clube que vive apenas sua quarta temporada na primeira divisão nacional, após passar a imensa maioria de seus anos na terceira categoria, seguidos de um rápido estágio na B.
Vencedor em uma ocasião dos dois degraus de acesso do futebol cafeteiro, o clube se destaca pelo eficiente trabalho de base, não à toa é o único equatoriano que já participou três vezes da Libertadores sub-20 e coleciona títulos nas divisões formadoras.
Se em 2014 nem a brilhante vitória por 5-4 contra a Union Española permitiu passagem no grupo (que contava com o futuro campeão San Lorenzo), desta vez, novamente com Junior Sornoza na batuta, o quadro da província de Pichincha carimba passagem, a despeito de mais um dissabor do cacique chileno em sua própria cancha.
Tudo isso sediado numa cidade considerada dormitório de Quito e jogando num modesto estádio de 7 mil lugares, cujo aspecto deve embrulhar o estômago de muitos que juram compreender as maiores necessidades do futebol atual.
Ainda assim, o clube não só revela jogadores do nível do atleticano Juan Cazares como ainda os mantêm ao menos por algum tempo, de modo a desfrutá-los antes de uma inexorável negociação.
Nessa toada, já foi vice-campeão da primeira divisão duas vezes e, com as defesas de Ascona, as sacadas de Mina e um elogiável futebol, ousa almejar novas façanhas.
Se a sorte já se mostrou forte aliada na noite em que os bravos Beausejour e Paredes ainda lamentam, não há motivo para não continuar sonhando. Pois ainda que a trave tenha sido muy amiga nessa emotiva noite de Santiago, já está claro que de acaso não se trata.