por Gabriel Brito
Dia 5 – Segunda europeia
Suécia 1 x 0 Coreia do Sul
Ainda com a ressaca da estreia brasileira, pegamos um começo de semana leve. O despertador toca, cochilamos mais um pouco e novamente vamos à sala imaginando os minutos perdidos. Mas ainda estavam a executar os hinos.
Suécia e Coreia é mais um daqueles jogos que só os irrecuperáveis fazem questão de ver e, como se imaginava, não deixará lembrança alguma pelo que se fez em campo.
Apenas o VAR, de novo, foi capaz de dar emoção a um jogo marcado pelas versões mais simplórias de ambas as escolas. Correria, disciplina e burocracia. Jogo para o olvido.
Sobre isso, me satisfaço com o comentário de Vitor Birner nesta Central3. O recurso tem de ser usado para decidir lances de falta dentro ou fora da área, saída ou não de bola em jogada que termine em gol e, no máximo, impedimento. Ou seja, pode ser benvindo naquilo que não é interpretativo.
Depois de uns doze replays, até achei aceitável a marcação do pênalti. Mas a plastificação do lance capital já é um evidente perigo.
Bélgica 3 x 0 Panamá
Na abertura do grupo G, deu a lógica, pura e simples. O ufanado time belga de fato é bom, não há como brigar com as evidências de tantos jogadores bem sucedidos nos clubes.
Mas a questão é que se trata de um time “fresco”, na acepção pejorativa. Busca demais a perfeição nas jogadas, sempre um toque a mais, um capricho. Por isso um jogo que sempre foi fácil passou o primeiro tempo em branco.
Quando Mertens pegou um rebote e soltou o pé sem pensar demais, abriram-se os caminhos. Depois, foi fácil amassar o envelhecido time panamenho.
Para este, seria melhor ter vindo ao Brasil em 2014, quando a vaga foi perdida de forma inacreditável nos minutos finais de um jogo em casa contra o classificado Estados Unidos. 2018 é um prêmio para uma geração de jogadores discretos, mas com algumas carreiras razoáveis. No entanto, não há força para fazer nada em campo, quem sabe beliscar uma vitória para o almanaque contra a Tunísia e só.
Blas Perez e Tejada são os dois principais exemplos de atacantes que em seu momento foram bons, mas chegaram tarde demais a uma Copa.
Quanto ao selecionado europeu, terá de mostrar que não é “pecho frio”. Não há porque atirar confetes depois da grotesca derrota para o País de Gales, de virada, na Euro-2016. Ademais, seu estilo blasé também se fez presente na derrota para a Argentina nas quartas de final do Mineirão, quando parecia completamente satisfeita em ter ficado entre os 8 melhores após quatro vitórias e perder de um honroso placar para o time de Messi e sua camisa.
Vamos ver do que são feitos.
Fora de campo
Como bem alertou nosso amigo Fagner Torres, certa emissora que de vez em quando escolhe alvos internacionais para fazer críticas a violações de direitos humanos deve desejar aquele antigo pedaço da Colômbia fora da Copa o quanto antes.
Pois como somos um país ainda infantil, há quem acredite que burguesias e seus representantes midiáticos – ou seja, vertentes da burguesia – combatem a corrupção, como se dela não fossem os mais históricos e óbvios beneficiários. Combatem a “concorrência”, isso sim.
Assim, é óbvio que não veremos nada a respeito dos famosos Panama Papers, expostos pela investigação sobre a empresa Mossack e Fonseca, intermediadora de vultosas transferências de renda para contas off-shore em mais esse pobre entreposto colonial da América Latina.
O fato de bilhões de reais serem evadidos do Brasil parece não ter nada a ver com crise econômica, desemprego ou desigualdades intoleráveis, segundo nossos defensores da boa moral política e pública. E tampouco na Argentina, onde o outrora aclamado Macri também foi revelado com um dos “investidores” desse escândalo de saques tipicamente neocoloniais de nosso “capitalismo de faroeste”, como definiu o insuspeito Demetrio Magnoli por esses dias, ao atacar o programa econômico de Jair Bolsonaro (liberal, claro) em debates no jornal O Globo.
Tanto lá como cá, temos uma pura e simples justiça classista e seletiva. O resto é papo pra manifestoche (o vocábulo do ano) aplaudir.
Inglaterra 2 x 1 Tunísia
Com mil fantasmas sobre a cabeça, a Inglaterra fez boa estreia em Copas. Os primeiros minutos foram de enquadro total, 1-0 merecido e vinha mais.
No entanto, a distração de Walker, flagrada por Wilmar Roldán, trouxe de volta velhas assombrações. Pênalti que se fosse dado pelo VAR também me deixaria puto, diga-se.
Dito isso, interessante ver os ingleses com um novo desenho, a buscar uma nova ideia de jogo, parecida com a que Antonio Conte aplicou no Chelsea da temporada retrasada. Linha de 5 atrás que pode virar 3-4-3 se for o sistema for bem executado.
Pode não dar nada, mas finalmente saiu-se do fetiche da linha de quatro e estilo velha escola de se jogar, cujos fracassos se acumularam a tal ponto que até perdemos um pouco do encanto em ver o English Team em campo.
Mas a Tunísia e sua retranca fizeram jogo duro, souberam resistir. O mérito inglês foi não se abalar como se viu em outras partidas decisivas e martelar até o fim. Se não vai por bem, vai na força. E Harry Kane descolou o justíssimo gol da vitória. Se Sterling, Dele Ali e Rushford decolarem pode dar um caldo bom.
Triunfo importante para um time bastante renovado e de pouca rodagem em grandes torneis de seleção. A autoestima inglesa precisava de um empurrãozinho.
Do lado norte-africano, mais um time sem uma gota de talento. Imagina na Copa de 48 seleções…