Com a caneta, Hazard

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Por Leandro Iamin

 

Sucede que afirmo sem remorso que a Copa do Mundo, tecnicamente, está ruim. Não interfere no quanto curto o mês mundialista. Sigo assistindo todos os jogos, alguns teipes, repercutindo e acordando ansioso como uma criança. A linha emocional não sabota a racional neste espaço, as duas convivem bem, inclusive, e olha, puxa, já me dói o coração pensar que nunca mais veremos um grupo de 4 times e que daqui 12 dias amar o futebol e usar camisas de clubes e seleções voltará a ser atividade estranha, discriminada, excêntrica.

Então Paulo Júnior, este meu irmão de jornada, avança na concordância de minha impressão sobre o nível técnico da Copa com uma observação muito interessante: quantos times negaram fogo nos seus jogos mais importantes, ou seja, aqueles em que era preciso ver bola e provar algo? Vários, eu digo. A explicação para isso caminha para todos os lados e é possível até acreditar que o tamanho de uma Copa do Mundo, tão midiática e mobilizadora, engole alguns atletas que em outros tempos conseguiam jogar “só uma partida de futebol” mesmo quando era Copa. Alguma coisa une suiços e colombianos, espanhóis e mexicanos, times que, quando o mundo sentou e falou “agora eles vão”, eles não foram. E tem a Bélgica.

A Bélgica não foi um fiasco em 2014. Chegou entre os oito, tá razoável, mas sua partida eliminatória contra a Argentina, derrota por 1×0, foi fria, insossa, um gol no começo do jogo e 80 minutos de uma impotência resignada. Já achávamos a Bélgica forte como hoje ainda é. Veio a Euro de 2016, e a seleção belga começou o caminho cheia de otimismo em vão. Derrota acachapante para uma Itália aguerrida, outra atuação fria e murcha de um time previsível e estático. Tudo bem, era fase de grupos, a tabela do mata-mata não estava difícil e, nas quartas, era vencer o País de Gales. Que nada: mais uma atuação abaixo de qualquer crítica, uma derrota incontestável, um novo vexame – chamo de vexame porque recuso o paternalismo com um time que considero de primeiro nível técnico.

Então, os belgas trocaram de técnico, e mais uma vez trilharam o caminho das vitórias quando as vitórias não eram assim tão assistidas e incríveis, em amistosos e eliminatórias. Novo modelo de jogo, louvável postura ofensiva, e novo desembarque para disputa de uma Copa com tudo em cima. Como era previsto, tudo andou bem até o momento dos jogos grandes. O que aconteceu no segundo tempo de Japão x Bélgica merece que recorramos aos vexames pregressos desta que é talvez a mais técnica geração de jogadores deste país. Tal qual o México abraçou a sina de não conseguir fazer o maldito quinto jogo de um Mundial, a Bélgica tem, sexta-feira, em Kazam, a missão de evitar que suas derrotas virem uma incômoda e constrangedora sina. Afinal, se mexicanos perdem porque seus times são limitados, os belgas negam fogo por qual razão?

Modric, saindo do gramado domingo após a Croácia eliminar a Dinamarca, afirmou que aquele tinha sido o principal jogo de sua geração. Mesmo sem ser o melhor, foi o principal, o que muda a delimitação, troca as palavras do livro de história, transforma a promessa em algo efetivamente realizado. A Bélgica de Hazard tem uma tarefa bastante ingrata de superar o Brasil, mas é assim o jogo, né? Sair da Copa sexta-feira não será um vexame para eles, a menos que voltem a jogar um futebol frio e sem brio. No entanto, não haverá nada que possamos fazer pelo menos até 2020: o muro é alto, mas conseguir passar por ele ou não é determinante para que lá no futuro falemos da Bélgica desta ou daquela maneira. Na Copa das atuações frouxas nas horas decisivas, ninguém sofre a pressão que os belgas sofrem.

Não é crueldade. É só a história sendo escrita. Com a caneta, Hazard.

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