Como bem disse o Bruno Bonsanti, amigo desta Trivela, como é difícil quebrar hierarquia em Copa do Mundo. Por mais que o grande assunto do último dia das oitavas fosse a possibilidade de se garantir um finalista inédito no torneio, lá foram Suécia e Inglaterra vencerem seus rivais, cada um a seu sufoco particular, para derrubar a indicação pela metade. A tabela dá uma bagunçada, parece sem chão, mas no fim podem ser três campeões do mundo nas semifinais, e tudo irá parecer mais óbvio de novo.
Não que os livros de história vençam os jogos por inércia, e nesta Copa está mais do que claro que vivemos um momento do jogo em que os grandes talvez nunca foram tão pouco grandes dentro das quatro linhas. Preparo físico e troca de informações fizeram com que qualquer Irã saiba neutralizar qualquer Espanha, para não falar da Islândia anulando a Argentina ou a Coreia vencendo a Alemanha.
O Brasil sabe que não vencerá a Bélgica de véspera, nem com a barriga. Time concentrado ao extremo, a seleção é disparadamente o time que menos deu bobeira na Rússia. Levou um golzinho e num lance que até caberia falta do suíço. Alisson, quatro jogos mundialistas, ainda não olhou fundo nos olhos de nenhum atacante, e tem seu lugar de espectador incomodado por alguns mínimos tapas na bola.
Mas outra grande história do confronto, para além da recuperação brasileira depois da semana de 10 a 1 em casa há quatro anos, é a tabela ter oferecido à Bélgica um novo jogo da vida. Há partidas em que você vai forjando a identidade, criando casca, maturando o estilo de jogo, contrastando o estilo e o repertório. Contra o Brasil num mata-mata de Copa você vence e entra para a história.
Não é preciso racionalizar demais para retomar a influência das derrotas brasileiras na memória construída do futebol internacional. Andando para trás, é só lembrar de como marcaram alemães em Belo Horizonte, holandeses em Porto Elizabeth e franceses em Frankfurt, para não voltarmos no Maracanazo ou na Tragédia do Sarriá. Pode chamar de arrogância, de soberba, de romantismo, de exagero: ganhar um jogo desses do Brasil te marca para sempre.
Porque essas intermináveis horas antes do jogo de sexta-feira já dão conta de imaginar os pontos fortes, fracos, as mudanças no time, as reações para cada combinação do rival. Dá para imaginar que a Bélgica pode oferecer o maior espaço para o Brasil até aqui, tal qual os atacantes da talentosa equipe europeia têm bola para finalmente sujar os cotovelos do goleiro brasileiro.
O que ainda pago para ver é se os belgas vão para o jogo de suas vidas, decepcionado pela atuação pobre que tiveram na queda contra a Argentina, em 2014. Se alguém acha que o chaveamento do lado de lá é mais favorável, discordo. Olha como a tabela da Copa do Mundo sorriu. Quatro jogos, quatro vitórias, melhor ataque e a maior camisa de todas pela frente. Tem caminho mais bonito? O Brasil é favorito, mas a Bélgica tem mais uma chance de se redefinir e, se para alguns essa sorte mal sorri duas vezes, talvez a terceira não chegue jamais.