Na última sexta-feira, os nossos sudacas Gabriel Brito, Léo Lepri e Matias Pinto – reforçados pelo amigo Marcelo Mendez – trocaram ideia com ninguém menos que José Luis Chilavert. El Bulldog, fiel ao seu estilo, latiu para todos os lados. Mas, depois, mais afável lembrou com carinho de passagens marcantes da sua carreira.
Confira abaixo a entrevista transcrita e traduzida da língua do escritor paraguaio Augusto Roa Bastos, autor de Yo El Supremo:
Recentemente você disse que a Conmebol é “um antro de corrupção”. Por ter sido um ex-jogador, líder da categoria, como você consegue comprovar essa acusação?
Bem, é muito fácil. O balanço da Conmebol, que nós temos em mãos quando fomos à uma reunião (no Auditório do Parque São Jorge), aonde estiveram presentes Romário, Careca e Maradona, mostrava que o faturamento da entidade em publicidade e direitos de transmissão era de mais de 130 milhões de dólares. E eles não gastam nem metade desses valor com as premiações devidas aos campeões da Libertadores e Sul-Americana. Então, se Nicolás Leoz (ex-presidente) esteve 27 anos no poder, (Julio) Grondona esteve mais de 30 anos (à frente da AFA) – já faleceu – Ricardo Teixeira também – ninguém fala dele – um dos mais corruptos da história do futebol. Cada dia mais os clubes estão pobres e os dirigentes multimilionários. Por isso, para mim é uma honra, um privilégio, a luta que estamos travando contra essa gente, porque o que queremos e que os clubes voltem a enriquecer e, indiretamente, que o dinheiro sirva para melhores contratos para os jogadores e também premiações.
Já que você comentou sobre o Romário, você tem acompanhado o desempenho dele como senador, a carreira política no Brasil?
Romário tem muito respeito. Por alguma razão, o povo o quer e votou nele. Tem uma conduta, uma trajetória como esportista de lei, e que fundamentalmente está trabalhando muito bem na política aí no Brasil. Por isso, essa é uma luta que somente pessoas como nós, guerreiros e lutadores, vamos ir até o final. Até levar essa gente à cadeia. Vou contar um exemplo: houve uma reunião na FIFA, coisa de três ou quatro dias, em Zurique, e vocês devem saber que Marco Polo del Nero (atual presidente da CBF) dispôs seu avião privado para uso do presidente da Conmebol (Juan Ángel Napout) para a sua filha pegá-lo no Paraguai, pois tem medo de sair do Brasil e ser preso, por conta das investigações da justiça americana, já que é um dos corruptos listados. Outro presente era Gorka Villar (filho de Ángel Maria Villar, presidente da Real Federación Española de Fútbol). Eu me pergunto, quem pagou os custos deste voo? Para mim, Gorka é o cérebro, quem manipula a todos e maneja o antro de corrupção. O que faz um espanhol controlando o destino do futebol sul-americano?
Você lembra de alguma partida que tenha disputado e descobriu, posteriormente, qualquer tipo de manipulação?
Quando eu jogava nunca me ofereceram dinheiro nem nada, ok! Mas, a imprensa argentina divulgou uma escuta telefônica entre Julio Grondona e Abel Gnecco (representante da AFA na Comissão de Arbitragem da Conmebol) conversando com Carlos Alarcón (presidente da referida comissão) para designar o árbitro paraguaio (Carlos Amarilla) em benefício ao clube argentino (Boca Juniors, na partida de volta das oitavas-de-final da Copa Libertadores 2013). Isso tudo mundo sabe! E contra isso temos que lutar, porque o futebol tem que ser transparente para todos.
Em 1998, quando você liderou a seleção paraguaia nós sentíamos muito brio e orgulho daquele grupo que representava o seu país jogando futebol. Você acha que falta isso para os jogadores atualmente?
Falta mentalidade, ultimamente os jogadores não são profissionais. E é a melhor profissão do planeta, temos que cuidar do futebol e não permitir que o manuseiem. Muitos querem ser modelos para aparentar alguma coisa, cuidam do cabelo, usam cremes, se depilam e deixam de lado o profissionalismo e a disciplina. Gostam da noite e das mulheres, mas tudo a seu momento. Mas, se querem chegar longe têm que se cuidar.
Qual é a sua opinião sobre a escolha de Ramón Díaz para treinador da Albirroja?
Para mim é o pior treinador que o Paraguai poderia ter escolhido. Ele não trabalha, só pensa em negócios. Assinou um contrato multimilionário por quatro temporadas e a seleção paraguaia não tem uma equipe. Voltaremos a jogar em outubro e ninguém conhece o time principal do Paraguai, porque ele e o corpo técnico não conhecem os jogadores paraguaios. É uma perda de tempo e eu sou muito pessimista com o que pode acontecer com o Paraguai nas Eliminatórias.
Você concorda com a opção dos jogadores naturalizados, sobretudo Lucas Barrios e Néstor Ortigoza, em defender o país natal de seus pais ou mães?
Eu creio que é normal, quando um jogador tem condições de jogar por outra seleção e é superior aos demais jogadores. Tanto Ortigoza quanto Barrios têm sangue guaraní e ojalá possam ter um grande nível.
Recentemente você incentivou o boicote ao próximo Mundial, a ser realizado na Rússia. Caso fosse o presidente da Federação Paraguaia você tiraria a seleção das Eliminatórias. E qual seria o seu argumento para convencer as demais federações?
É uma luta de todos! E tem que partir das grandes potências. Joseph Blatter está sendo julgado em seu país. Com Platini, eles venderam os direitos de televisão à Concacaf, fundamentalmente no Mundial disputado no Brasil. Porém, por uma cifra irrisória, coisa de 300 milhões de euros. Uma vergonha! Todos sabemos que por essa quantia ninguém consegue a licença para uma Copa do Mundo. Há que investigar quanto a Rússia pagou para ser sede, já que Vladimir Putin declarou que Blatter é um homem honrado. Vai ser o Mundial da corrupção, esta é a imagem que ficará de Rússia-2018.
Além da Rússia, temos a escolha do Qatar em 2022, edição que será disputada em novembro…
Sim, no inverno!
O que você imagina que vai ser do futebol depois de duas Copas do Mundo envolvendo tanta polêmica na escolha dos países sede?
Eu gostaria e pagaria para ver Joseph Blatter e companhia na prisão. E mesmo na Conmebol, Nicolás Leoz está em prisão domiciliar, assim como Juan Ángel Napout e Gorka Villar… Na Conmebol, todos devem estar presos porque fizeram parte do comitê executivo de Nicolás Leoz. E volto a repetir, os clubes devem boicotar porque a Conmebol é um antro de corrupção com dirigentes milionários e os clubes estão cada vez mais pobres. Não é possível que em uma primeira fase de Copa Sul-Americana se pague 150 mil dólares, entende? Com o dinheiro que entra na Conmebol, deveria se pagar entre 600 mil e 1 milhão de dólares. Tem muita diferença. Porque a Conmebol nunca construiu nenhum estádio em nenhum país sul-americano. Todo esse dinheiro terminava em outro lado e por isso a justiça americana está trabalhando bastante de uma boa maneira e tomara que não terminem presos apenas os cartolas, mas também seus filhos que hoje estão desfrutando do dinheiro roubado do futebol. Hoje em dia a família do Grondona, que já não está entre nós, continua aproveitando todo esse dinheiro. A justiça deve ser igual para todos. Eu gostaria que, com esse dinheiro, tivéssemos clubes ricos e que ajudassem os países onde mais precisam que se construam estádios para que as crianças mais necessitadas possam jogar futebol.
O Marín está preso na Suíça, o Del Nero já não viaja porque também tem medo de ser preso…
Marco Polo Del Nero também vai cair daqui a pouco. Assim como todos na Conmebol. Falta pouquinho.
Você acha que os clubes vão agir para reorganizar o futebol sul-americano ou os clubes são tão medíocres quanto os dirigentes que regem o futebol no continente?
Eu espero que, por exemplo, assim como o presidente da Bolívia, Evo Morales, que tem atuado muito bem pela transparência do futebol e que prendeu o tesoureiro da Conmebol, Carlos Chávez, que está preso na Bolívia, e a justiça de cada país, Brasil, Paraguai… a promotoria deve investigar como essa gente aumentou o patrimônio próprio sem trabalhar. Se nós não pagamos impostos, somos presos. Então como eles justificam o dinheiro que têm? Esse é um sonho que tenho: que todos eles terminem presos.
Logo depois que começaram a cair as cabeças na FIFA, começaram a veicular a possibilidade de ex-atletas ocuparem o cargo mais importante na entidade. Atualmente nós temos o Platini na UEFA, La Brujita Verón na presidência do Estudiantes La Plata… O que você acha de ex-atletas nestes cargos? Seriam boas alternativas?
Sim. Para mostrar ao mundo que existem profissionais que podem cuidar disso muito bem porque se necessita transparência. Volto a repetir, a questão principal é, por exemplo, cada país possui jogadores que atualmente estão sofrendo economicamente, certo? Não custa nada a Conmebol providenciar uma lista com os nomes destes jogadores, que deram sua vida para o futebol, e pagar a eles um salário normal e também um plano de saúde. Esta é uma forma de devolver algo a ele. Um presente da Conmebol. Esses dirigentes devem saber que a honestidade e a transparência é, antes de mais nada, para o bem do futebol.
Você também disse em uma entrevista recente que 99% dos dirigentes sul-americanos são corruptos. Quem seria o 1% restante? Ainda sobra alguém potável na Conmebol?
Existem dirigentes de segundo nível… No meu país, a Asociación Paraguaya de Fútbol é conduzida por Alejandro Domínguez, o segundo homem no esquema de corrupção. Eles também devem investigar a APF, que é outro antro de corrupção, assim como a Conmebol. Deve ser feita uma limpeza muito profunda na FIFA, na Conmebol, na CONCACAF… deve ser feita uma limpeza a nível mundial. E os únicos que se animam a denunciar sou eu, o Romário, o Maradona… nós não temos medo de mostrar ao mundo que os jogadores também estão preparados para conduzir os destinos do futebol. Estes senhores que estão aí hoje nunca jogaram futebol. Os “Reis Magos” nunca trouxeram uma bola de futebol para eles. Eles não sabem nem mesmo chutar. Então eles lucram às custas dos jogadores e dos clubes.
Você atualmente mora em Buenos Aires, onde construiu grande parte de sua carreira, e por isso gostaria de saber quais são suas aspirações no Vélez Sarsfield, clube onde você se destacou como jogador profissional?
Vélez Sarsfield está atravessando uma situação muito difícil, está sendo dirigido por pessoas incompetentes, pessoas analfabetas, sem um respaldo econômico, que não conhecem o controle administrativo e isso é transportando, no mundo do futebol, para o campo de jogo. Não se pode passar garotos tão novos das categorias de base a responsabilidade da primeira divisão… Vélez corre um risco sério de ter que lutar, na próxima temporada, contra o rebaixamento.
O Rubén Darío Orué, da rádio Fútbol 780, de Assunção, pergunta sobre a ideia desse novo projeto de torneio de clubes internacional, a America’s Champions League…
Estão tentando mudar a Copa Libertadores da América, querem mudar o torneio porque dessa forma tudo acaba e sem ser investigado, por toda corrupção que a Copa Libertadores e a Copa Sul-Americana geram. Isso é inviável neste momento. Primeiro devemos ir com tudo para que a justiça americana chegue com suas investigações até o final. É uma utopia pensar uma Champions League americana hoje em dia.
E se você tivesse que escolher entre dois cargos: técnico da seleção paraguaia ou a presidência do Vélez Sarsfield? Você se imagina ocupando algum destes dois cargos?
Não, não, não… Se aparecer alguma oportunidade na Conmebol, as grandes figuras da América do Sul devem conversar. Temos que escolher, entre todos, um referente importante… São poucos os jogadores de elite da América do Sul que estão lutando contra esses corruptos que roubaram todo o dinheiro do continente.
Queria que você falasse um pouco sobre o seu início de carreira no Sportivo Luqueño e também no Guaraní, clubes que ganharam destaque nas competições continentais nessa temporada…
Eu comecei a jogar no Luqueño, de 1979 até 1983, e fomos vice-campeões. Em 1984 passei a jogar no Guaraní, onde fomos campeões, e são lembranças que jamais se apagarão. É uma instituição que tenho muito apreço. Sou fanático do Sportivo Luqueño e me encanta que as coisas estejam indo bem a nível internacional. O Guaraní também está trabalhando muito bem.
Você vê alguma possibilidade que o jogador de futebol perceba sua importância e assuma uma postura mais atuante neste atual momento, de turbulência no futebol? Até mesmo pra tentar mudar isso…
Eu não acredito, porque o jogador atualmente não quer misturar-se com isso e tem medo dos dirigentes. Eles acham que o futebol dura a vida inteira. E também não são todos que ganham bem, essa é a realidade. Temos que lutar. Os corruptos devem ser expulsos para o bem do futebol, para o bem de todos. Essa é uma luta permanente, mas o jogador de futebol acha que a carreira dura para a vida toda, quando na realidade é bem curta. Aos 18 anos todos dizem que você é jovem, mas aos 30 já dizem que está velho. Hoje em dia o jogador tem medo, não quer lutar.
Voltando ao futebol e sua carreira, como apareceu a ideia de cobrar faltas e pênaltis, marcar gols etc.?
Antes de ser goleiro, fui camisa 9. Gostava de fazer gols. É por isso.
Algum treinador te impediu de fazer as cobranças de pênaltis e faltas?
Não. Porque antes só me dedicava a defender, mas apareceu uma situação limite no Vélez de Bianchi e recebi a oportunidade. Graças a ele, passei a bater faltas. E também temos exemplos importantes, como Rogério Ceni, um grande amigo, uma lenda viva, excelente profissional e também ganhador de tudo. Um grande goleiro e excelente cobrador de faltas e pênaltis. O importante é que criamos uma escola, a ponto de ser difícil lembrarem do que fizemos debaixo dos três paus.
O que você comenta daquele episódio polêmico com o Roberto Carlos em Porto Alegre?
Circunstâncias de jogo. Naquela ocasião ele chutava de todos os lugares e não conseguia marcar o gol, pois eu pegava todas. Aliás, minha grande pergunta sobre esse jogo é: o que fazia um árbitro alemão numa partida de Eliminatórias Sul-Americanas? Vamos lembrar que se o Brasil empatasse ou perdesse podia ficar fora daquele Mundial. Perdemos de 2 a 0, Roberto Carlos caminhou até a metade do campo e me disse: “índio, ganhamos”. Por isso dei a cusparada. Porque se fosse pra ir pra cima dele eu lhe arrancava a cabeça. Do jeito que falou, parece até que era um alemão de olhos azuis… O importante é que tudo termina dentro do retângulo. Trabalhei na cadeia RCN (da Colômbia), estive em vários estádios na Copa do Mundo de 2014 e as pessoas falavam disso. Mas não há rancor, são coisas do calor do jogo.
Quais são as suas lembranças daquela final da Libertadores em 1994?
O Morumbi é um estádio maravilhoso, um dos melhores do planeta. A torcida do São Paulo também é fantástica. É difícil ser campeão no Morumbi, foi um jogo muito duro. Tenho respeito e admiração pela torcida e pelo clube. Havia uma pessoa que eu adorava: para mim, Telê Santana era o máximo como treinador. Falei apenas uma vez com ele na vida e achei uma pessoa maravilhosa. E enfrentar seu time era difícil, complicado, ainda mais com todas as figuras que tinha o São Paulo. Como disse, é muito difícil ser campeão no Brasil. Tinha o goleiro Zetti, um colega extraordinário, Válber, Juninho, Muller… Um time fantástico. Sempre dizia aos meus companheiros: quando um time está unido tudo é possível. Éramos 11 guerreiros que lutamos de igual pra igual. E, de fato, depois de pegar o pênalti do Palhinha as coisas ficaram mais fáceis para ganharmos de um grande time.
Retomando questão de o Roberto Carlos se sentir europeu, lembro que naquela final as pessoas no Brasil sabiam pouquíssimo sobre o Vélez. Quando o São Paulo perdeu de 1 a 0 na Argentina achavam que aqui seria goleada. Por que você acha que há falta de integração do Brasil com os vizinhos, e o brasileiro não se sente um sudaca, como de fato é?
Sempre digo que a discriminação existe no mundo todo, em todo país. Na Espanha era assim, nos chamam de sudaca, índio. Na França me chamavam de macaco… Mas o interessante é que o Brasil, obviamente, sempre teve figuras que se sobressaíam e confirmavam sua supremacia. Hoje, acredito que o Brasil não tenha tantas figuras como antes e agora as coisas ficaram mais equilibradas. Cada jogo se vê um equilíbrio, inclusive físico, e há mais igualdade. Por isso que desta vez as Eliminatórias serão duras. Porém, pessoalmente me agrada que a seleção tenha trazido Dunga de volta. Tenho admiração por ele e seu estilo, apesar de saber que muita gente não gosta de seu trabalho. Ele leva a cabo um futebol prático e simples, do qual o Brasil poderá tirar vantagem.
Vou citaro nome de dois técnicos, para você responder qual a importância deles em sua carreira: Carlos Bianchi e Paulo Cesar Carpegiani.
Carlos Bianchi foi parte do êxito do Vélez, ganhamos tudo com ele, que é um homem muito inteligente e sábio. Carpegiani conhecia perfeitamente a mentalidade do jogador paraguaio e fizemos história juntos. Uma pessoa capaz, muito trabalhadora e que no Paraguai adoramos.
Nosso companheiro Felipe Bigliazzi é um grande bielsista. É dele a pergunta: como foi seu relacionamento com el Loco, no Vélez?
Normal, de profissionais, essas coisas. Mas é um homem muito difícil, possessivo. É muito difícil suportá-lo. Eu aguentei só dois anos, mas, enfim, fomos campeões.
O Bielsa constrói um imaginário de um personagem bem particular, concorda?
Sim, por exemplo, ele não gosta de voar de avião, tem muito medo. Certa vez, com todas as nossas diferenças, estávamos sentados lado a lado dentro de um avião. Não nos falávamos, por diferenças táticas e afins, mas o avião começou a acelerar e se mexer de um lado pra outro, como um cometa.
Então, me disse, muito assustado:
– “Chilavert, você é feliz?”. Em pleno voo.
– “Sim, sou”, respondi.
– “Como?”, retrucou ele.
– “Vendo as coisas bem na vida, estando minha família, tendo férias com ela…”
E ele me disse:
– “O carro que você tem eu não poderia ter”. Eu tinha um BMW 540, em 1997.
– “Por quê”, perguntei.
– “Porque custa muito dinheiro, é um tapa na cara do povo”.
– “Ah, não me diga que você é mais um socialista de Mercedez Benz?”
Todo mundo quer ser exemplo com bolso cheio. Por isso o populismo que lamentavelmente muitos manipulam é um sistema que, em meu pensamento, é totalmente diferente. É bom ajudar as pessoas a crescerem, ensinar a trabalhar aqueles que têm vontade. Pois hoje em dia em países como Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador, dizem ser preciso ajudar as pessoas humildes. Mas sabemos que são governantes multimilionários. E esquecem do povo. A educação vem antes de tudo. Falar é fácil, mas quando vamos ver são todos corruptos e milionários.
E o que você comenta da transição política de seu país, com a perda de mando do Fernando Lugo e a eleição do Horacio Cartes?
Achei fantástico que os deputados e senadores tenham tirado Lugo. Porque ele estava transformando o Paraguai em Venezuela. Aliás, aproveito para lançar minha solidariedade ao povo deste país, porque esse personagem e miniditador Maduro está matando gente inocente e o Mercosul finge que não vê. Temos de nos solidarizar. Estão deixando as pessoas sem comida, estão matando as pessoas, deixaram Leopoldo Lopez numa prisão, por defender a democracia, de forma desumana. E nenhum país, incluído o meu, faz nada. Isso deve ser denunciado. Maduro é um sem vergonha que tem de ser preso, uma vergonha mundial. Voltando ao meu país, o Paraguai está indo por um caminho muito bom, com boa economia, gado, exportação de soja, coisas que vão muito bem, felizmente. O que deixa claro que a maior parte do orçamento do país precisa ser colocada na educação e na saúde. Duas deficiências que precisamos superar.
Voltando ao futebol, na sua despedida oficial, em 2004, você reuniu grandes craques no estádio do Vélez, como Zamorano, Francescoli, Higuita, Valderrama… O futebol te deu mais amigos ou inimigos?
Muito mais amigos. Inimigos não. Há momentos de calor, nervosismo dentro das quatro linhas. Mas fora de campo somos todos amigos. É o que fica. E também conheci muita gente. Por exemplo: em casas humildes, não se encontra foto do presidente do país – a não ser que seja um ditador como Maduro na Venezuela – mas encontra-se a foto dos ídolos. O carinho das pessoas pelos esportistas e, em especial, futebolistas é a diferença que existe.
E com o Ruggeri, já está tudo bem, pois até aqui no Brasil ficou-se sabendo de sua briga com ele?
Já passou também (risos). É só história agora. Coisas do momento.
Você também passou pelo San Lorenzo. O que você poderia falar da rivalidade que se criou recentemente entre os clubes?
Realmente, não entendo porque tem que existir rivalidades. Os clubes deveriam ser amigos, são duas grandes instituições e não deveria haver violência entre eles. Todos somos humanos, gostamos de ver nosso time ganhar, mas daí para se passar a matar pessoas não dá. Temos que superar essa situação.
Você bateu, e também impôs, diversos recordes, por ser pioneiro, como nas faltas e pênaltis. Quais gols você considera mais especiais na sua carreira?
O mais especial é o que marquei de falta contra a Argentina nas eliminatórias para a Copa de 1998. E também contra a Colômbia, na classificação do Paraguai para essa Copa. Foi muito bonito. Mas quando se trata de goleiro todos os gols são importantes, todos são diferentes.
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