por Gil Luiz Mendes
Marcos Rocha cruza da direita, Patric se enfia entre dois zagueiros, fica de frente para o goleiro do Melgar e mete a bola de canela nas alturas. Somado aos 2.300 metros do nível do mar da cidade de Arequipa, no Peru, a bola deve ter chegado a vários cinco mil metros de altitude. Passam-se cinco minutos e a jogada se repete. Exatamente igual em distâncias e personagens.
Nesse mesmo momento, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, o atleticano toma de uma vez só a sua dose de Seleta e pensa: “Por isso que em Porto Alegre ninguém gosta desse Aguirre. Não passa de um professor pardal. Onde já se viu colocar um lateral direito ruim para jogar de ponta-esquerda? E ainda mais na estreia de uma Libertadores?”
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Ficou claro que a competição mais catimbeira e truncada do mundo tinha começado para parte alvinegra de Minas Gerais quando com menos de três minutos de jogo Arismendi já estava com a cabeça enfaixada. Para o atleticano que já bebericava a sua segunda dose no pequeno copo de vidro a Libertadores começou com o gol de Osmar Fernandes. Típico gol que o Galo toma em competições sul-americanas. Chorado, sofrido e com falha dos zagueiros.
O pensamento do atleticano, enquanto bicava a sua terceira dose de aguardente, estava em Robinho e na dúvida de quando ele vai estrear com o manto preto e branco e colocar Patric no banco para nunca mais sair de lá. A realidade voltou enquanto ele gritava para Rafael Carioca, da intermediária, colocar a bola na área. Lucas Pratto de alguma forma cabecearia aquela bola. O volante alvinegro ignorou o apelo do distante torcedor, chutou de fora e marcou um gol mais bonito que qualquer sonho de estreia de um atleticano.
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Antes da quarta caninha, Patric tinha virado craque inquestionável. São poucos os jogadores no mundo que mantinham uma frieza daquela em frente a um goleiro. Driblar ele e um zagueiro de lambuja para tocar com calma para redes. “Patric, eu te amo!”, berrou. Era a virada, 2 a 1.
Ainda faltavam alguns elementos para o atleticano ter certeza que o que via pelo monitor de 29 polegadas, naquele típico boteco mineiro, era uma partida do seu torneio favorito. Todos vieram no segundo tempo. O craque Patric sendo xingado por conta da cor da pele pela torcida adversária, plaquinhas de substituição de madeira no lugar daqueles trambolhos digitais erguidos a cada troca de jogador, volante brasileiro perdendo a cabeça e dando pontapé em gringo, e São Victor do Horto, sempre ele, garantindo mais uma vitória e suportando o tradicional sufoco de fim do jogo que o Galo tradicionalmente toma nessas partidas.
Subindo a ladeira e voltando para a casa, com cinco doses de cachaça na cabeça, o atleticano voltou a matutar: “Robinho talvez seja bom pro Galo, mas pode esperar. Temos o melhor lateral direito ponta-esquerda desse hemisfério. E o nosso técnico? Que visão de jogo, que visão de futuro! Tem algo nele que me lembra o Cuca…”