A vida no Lado B é uma corda bamba

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*Por Alcysio Canette

O seu Luiz é um suburbano típico. Um dos mais novos de uma família de nove filhos, foi morando na casa dos irmãos mais velhos durante a adolescência e a juventude até formar a sua família. Criou-se no Méier e adjacências, o coração espiritual da cidade.

Casou, teve uma filha, trabalhava na White Martins entregando cilindros de gases hospitalares, até que sua esposa demonstrou que algo estava errado. Depois descobriram que ela tinha lúpus e coube a ele tentar equilibrar uma esposa doente e um emprego. Quando ela se foi, o segundo também não durou muito mais.

A dor da perda foi grande demais e sua única amiga virou a bebida. Depois de uns anos, não havia na família quem aguentasse mais essa situação, então sobrou só a rua. Lá, o seu Luiz sofreu demais, teve suas coisas roubadas, apanhou, pagou por pecados que nunca cometeu.

Há um tempo, conseguiram convencê-lo a entrar numa clínica de reabilitação. Ele largou do vício da bebida, voltou a viver com uma irmã e se virava como camelô em um ponto na Dias da Cruz, a rua principal do bairro. As vezes vinha visitar aqui em casa, pegar uma praia em Niterói. Não é das mais limpas, mas quebra um galho. Até se livrar de um olho cego após um transplante de córneas ele conseguiu no ano passado.

Infelizmente, a vida no Lado B é uma corda bamba sem rede e a qualquer momento um escorregão te leva para o mais profundo abismo. Um incômodo no dedão que na verdade era sintoma de trombose de veia profunda e pronto, sua vida fica por um fio no CTI do Salgado Filho. Lutou muito, mas não resistiu.

A história do meu tio-avô parece trágica, mas é uma infeliz realidade para gente demais nesse país. Como ainda tem SUS para cuidar dos mais fragilizados, ainda há uma esperança.

 

*Alcysio Canette é um dos panelista do Lado B do Rio, semanalmente na Central3

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