Por Leandro Iamin
Dani Alves foi o personagem da semana passada no futebol brasileiro, superando contendores do naipe, por exemplo, de Vanderlei Luxemburgo. O lateral assinou um texto no excelente site The Players Tribune, que se dedica a publicar material do tipo em vários idiomas, sempre com uma narrativa dramática muito bem construída e em primeira pessoa: é o atleta falando com o leitor, sem um intermediário direto. O texto do Dani, chamado O Segredo, você pode ler clicando aqui.
A reação ao texto de Dani Alves foi muito positiva, e não era para menos. Comemoro quando algo bem escrito chega a um número grande de pessoas. Além disso, a história do Daniel, embora seja comum aos jogadores de futebol brasileiros, é inspiradora, agulha no palheiro, um em milhares, tudo isso que a gente admira em quem superou a falta completa de persperctivas e virou o que Dani virou: alguém cuja personalidade é o maior trofeu, o trofeu da vitória contra o outro Daniel Alves possível, quieto, humilde, sem instrução, destratado e escondido no interior da Bahia. O Dani Alves poliglota, colorido e divertido é quase um milagre. Sou capaz de observar tudo isso com simpatia.
Na Central 3, Paulo Júnior defende Dani com força. Enxerga nele o Salvador Dalí do futebol brasileiro, um incompreendido adorável que desconstrói e derrete as paredes do comportamento da bola. Minha namorada gargalha com seu estilo de vida e cada vez mais o futebol de Dani Alves varre as críticas e as antipatias. Seu final de carreira é ótimo, a maturidade lhe fez muito bem, o desafio proposto a si mesmo fora do Barcelona deu muito certo e, como dizia, na última semana seu texto provocou no público uma empatia que, aqui, eu rejeito e ponho um ponto.
Daniel Alves disse, em entrevista à ESPN em 2015, assinada pelo amigo Thiago Arantes, a respeito do 7×1 e da Copa do Mundo de 2014: “Na minha maneira de entender, o final da Copa do Mundo pra gente foi drástico, foi doloroso… E eu não aceito que ninguém fale, que ninguém critique, que ninguém tenha opinião sobre isso. Porque só quem viveu pode falar, pode sofrer ou não sofrer. O resto vai opinar sempre à distância”.
Quando li esta entrevista, revivi tudo que aquele dia medonho me deu, os piores sentimentos possíveis no esporte. Mais que isso, relembrei que por causa daquele dia, muita coisa do mês de Copa foi apagada da memória afetiva, e o sonho de uma vida virou frustração de sete tentos, que depois viraram dez, Holanda 3×0 Brasil. Cada detalhe de cada briga que comprei em nome desse elenco enquanto os amigos desencanados com a Amarelinha me olhavam meio torto, eu também recordei. E o cara disse que só quem estava lá pode sofrer. Pois bem.
Nada contra a empatia entre jogador e torcedor, aliás, muito pelo contrário, é do que o futebol mais precisa, só existe torcida quando existe identificação, e é cada vez mais raro enxergar-se em algo ou alguém de dentro do jogo. Mas me permito negar este sentimento a Daniel Alves. Afinal, foi ele quem interditou a empatia ao “não aceitar” que se tivesse opinião sobre o 7×1, a menos que você estivesse lá. Segundo sua ideia na hora da maior derrota, só “quem viveu” pode falar ou sofrer. Por que isso mudaria na hora de um texto bonito sobre a vitória de sua vida? Eu não “estava lá” nas glórias em campo, nem em Juazeiro no começo da carreira, mas como estamos falando de vitórias, aí então tudo bem, devo me sentir parte disso e aplaudir de pé? A regra do 7×1 também vale pra final da Champions, Dani, e não fui eu quem a criou. Foi você. Festeje seu sucesso sozinho.
A vida segue e ninguém será um novo Barbosa, nem eu quero que sejam – aparentemente a vida seguiu normal para todos eles. Mas ainda espero, quando abro um site, jornal ou ligo uma TV, que os presentes no 7×1 respeitem a dor de quem os defendeu até o último minuto. Ontem, domingo, foi a vez do Julio Cesar gargalhar na TV Globo dizendo que se houver uma brecha, ele tá aí para assumir de novo o gol da seleção. Disse também que pensou em abandonar a carreira e ouviu a família para seguir. Nenhum vestígio de preocupação em falar com o torcedor no tom devido, de débito. Falam “para”, mas não “com” a gente. Ou então sou eu que teimo em acreditar que um 7×1 e um 3×0 na fase final de uma Copa do Mundo em casa precisam ser tratados com uma solenidade diferente – nada contra os insolentes, mas certas coisas precisam dela.
A insolência de Dani Alves é divertida. Sua história, que já está escrita, é bela. Pena que fomos afastados dela quando foi conveniente a ele. Um texto bem acabado em um site internacional pesa mais, mesmo, que uma entrevista replicada no Uol, que, para sorte de muitos, quase ninguém mais lembra muito bem do que leu uma semana depois. Mas eu me lembro, Dani Alves, e não compro mais a sua briga.
Kauê disse:
Sou muito fã do Dani Alvez, mas ele errou nessa.