Nos anos 20, pouco antes da implementação do profissionalismo no futebol uruguaio, abundavam clubes de bairro por toda Montevideo. A capital do paisito segue bem representada nas três divisões organizadas pela AUF, mas se olharmos para trás os números eram impressionantes.
Segundo o historiador Yamandú González Sierra, existiam inclusive uma liga formada exclusivamente por esquerdistas:
Los comunistas que sostuvieron durante décadas su adversión al fútbol burgués trataron de incorporalo, como a otros fenómenos populares, dándole un riguroso contenido político. ¿Cuánto se mantenía del juego y del goce? Es difícil saberlo. Los anarquistas colocaron el fútbol fuera de la frontera del proletariado. Los comunistas lo politizaron y lo convirtieron en expresión e instrumento de la lucha por el poder del proletariado. Así, el 17 de julio de 1921 crearon la Federación Roja del Deporte. (…)
En 1924 participaron en esta Federación Roja, entre otros: La Comuna, Soviet, Chicherín, Carlos Liebneckt, Sportivo Ejido, Libertad, Leningrado, Retoño, Hacia la igualdad, Alba Roja, Misterio, Mate Amargo, Zabala, Chaná, Oriente, Bristol y La Checa. En 1929 militaron en ella nuevos equipos: el Deportivo Volga, Canillitas Rojos, Los Rojos, Brisas Rojas, Guardia Roja, Vanguardia, Fraternidad, Ideales del Porvenir, 7 de noviembre, Campesino, Peñarol Cerrense, Obreros en Barro, Moscú, Siamo Tre, Salvataje, Aguada, ¿Que te importa? y Vanguardia Roja.
Um dos remanescentes destes idos é o Club Atlético Basáñez, fundado em 01 de abril de 1920, a partir da fusão do Artigas e Volcán, duas equipes que disputavam a supremacia do barrio Unión, ao sul de Montevideo. O nome escolhido homenageava uma figura carismática da região, no caso Tomás Basáñez, juiz de paz e militante anarquista.
A escolha das cores do novo clube foi alusiva à ideologia política de Don Tomás. Sendo assim, a primeira camisa do Basa possuía listras verticais em vermelho e preto, combinação similar da bandeira anarco sindicalista. No começo da década de 1940, o uniforme principal foi alterado para o desenho que se mantêm até a atualidade, quando os dirigentes foram inspirados pelo Newell’s Old Boys, da Argentina, a partir da capa da revista El Grafico, na qual aparecia o capitão leproso Juan Carlos El Pelado Sobrero vestindo a casaca rojinegra. Em 1949, por ocasião do cinquentenário do Club Nacional de Football, no qual diversos clubes desfilaram pelo Estadio Centenario, a delegação basañista foi eleita a mais bem vestida.
Em seus anos 95 anos de História o quadro Sangre y Luto jogou quase sempre no Ascenso, sendo campeão em todas as categorias até conseguir a tão almejada subida à Primera, em 1993. O acesso poderia ter vindo na temporada anterior, porém uma batalha campal seguida da morte do ex jogador Wellington Castro, pisoteado por um cavalo da polícia, após o triunfo local por 1 a 0 contra o rival Villa Teresa, impediu a promoção do clube, que liderava a Segunda División naquele momento e foi punido com 8 partidas de suspensão. Este episódio foi o estopim para uma greve de jogadores que paralisou o fulbo por 31 dias.
A estadia na elite durou apenas duas temporadas, tempo suficiente para o goleador Walter El Rifle Pandiani apresentar suas credenciais, convertendo 28 gols em 45 jogos que o levaram ao Peñarol quando o Basa foi rebaixado, e depois fez larga carreira no futebol espanhol e vestiu La Celeste por quatro oportunidades. Outro atacante com faro de gol que surgiu no Basáñez foi Richard El Chengue Morales, posteriormente tricampeão pelo Nacional, com passagens por clubes de La Liga, além do Grêmio Portoalegrense. O jogador de 1,96m ainda defendeu o Uruguai na Copa do Mundo de 2002 e nas edições da Copa América de 2001 e 2004.
À diferença de outras tradicionais agremiações montevideanas, o Basáñez nunca saiu do seu bairro originário, mandando seus jogos em cinco endereços diferentes em Unión. Desde 1981, a cancha do clube está localizada na calle Palma de Mallorca 4406, zona limítrofe com Malvín Norte. O acanhado estádio – apelidado de La Bombonera – foi erguido pelos próprios hinchas em quase dez anos de trabalho duro. A partida inaugural da nova casa foi em 11 de novembro diante do Racing, de Sayago, válida pela B, e terminou empatada em um gol.
Atualmente, o velho Basánez perdeu a vaga à Segunda Profesional para o Oriental na última rodada após liderar quase todo o torneio da Segunda Amateur – terceiro e último escalão do futebol (semi) profissional.