A vida em um recibimiento de cancha

Want create site? Find Free WordPress Themes and plugins.

Por Léo Lepri

O que eu vou contar a seguir, poderia ser simplesmente mais algum conto escrito por Roberto Fontanarrosa. Do tipo destes que, no instante em que a gente lê, curiosamente bate um vendaval repentino que traz todos os ciscos do mundo bem para dentro dos nossos olhos. O lacrimejar é algo inevitável (e até mesmo aconselhável para todo aquele que ainda sente um coração saltar dentro do peito).

 

Recibimiento

Talvez poderia ter sido algo pensado por um brilhante Benedetti, ou então fruto da sagacidade única de algum Eduardo: sendo ele Sancheri ou Galeano. Poderia ter sido escrito por qualquer outro autor brilhante, mas não foi. O autor é alguém bem mais terreno, bem mais afeito às impossíveis coincidências. O que eu vou contar a seguir foi impecavelmente rascunhado por essa coisa tremenda chamada vida.

A história ganhou repercussão em diversos meios na Argentina. Não há como ser efetivamente comprovada, mas nós, que somos seguidores cegos dessa seita entorpecente chamada futebol, com seus heróis e histórias particulares, não temos qualquer razão para desconfiar de que assim foi. Pode parecer improvável demais até para ser fictícia, e talvez por isso mesmo é crível o suficiente para ser realidade.

Benjamín, de apenas 6 anos, sentiu toda a aspereza do destino no começo deste ano. Em um trágico acidente automobilístico, o garoto perdeu os pais e o irmão caçula de uma só vez. Foi um tio quem assumiu a responsabilidade por cria-lo.

E como o processo educacional passa também pelos ensinamentos que apenas o cimento de uma cancha pode transmitir, no último fim de semana o tio levou os filhos e o sobrinho ao estádio para acompanhar uma partida do Instituto de Córdoba, o time da família.

Entre os milhares de pedaços de papéis picados que a torcida faz chover obrigatoriamente cada vez que o time sai a campo, Benjamín, que ainda pouco sabe ler, fixou os olhos especialmente em um. Recolheu o pedacinho do chão e entregou ao tio.

O resto é a história que eu queria contar.

“Sábado ocorreu algo assombroso e necessito compartilhar. Meu sobrinho Benji, único sobrevivente do acidente onde faleceu meu irmão Miguel, minha cunhada Jimena e meu sobrinho Joaquín, estava triste. Então o meu cunhado Carlos, com quem ele vive atualmente, decidiu leva-lo ao estádio para ver o Instituto, de quem são torcedores (…) Já na cancha, instalados nas tribunas, Carlos com seus filhos e Benji recepcionam os times imersos em uma chuva de papéis picados que caí do setor mais alto. Quando se sentam e com o chão tapado de papel, Benji, de apenas 6 anos e que apenas sabe ler, levanta do chão um desses papéis entre milhares, ele o lê e surpreso entrega ao Carlos.

Papelito

O pedaço de papel era o aviso fúnebre que havia sido publicado em um diário. O acidente ocorreu no dia 3 de janeiro e a família voltava depois de ter passado o Ano Novo em Jujuy. A família de Benji faleceu no ato, mas ele não saiu ileso.

Isso não foi uma casualidade, e foi o que explicamos ao Benjamín, foi um sinal de que os pais dele estão aí, olhando e cuidando dele”.

*Palavras escritas por Fernando González Chával, tio de Benji, em uma rede social

Did you find apk for android? You can find new Free Android Games and apps.

Posts Relacionados

Deixar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar algumas tags HTML:

<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>