Cheguei ao cruzamento entre as avenidas Francisco Morato e Jorge João Saad por volta das 19h30, acompanhado de um dos muitos irmãos que o futebol me deu. Paramos no hipermercado em frente ao ponto de ônibus para nos abastecermos etilicamente e encontrarmos com outro irmão, que também esperava um conhecido.
Seguindo um ritual de outras quartas-feiras chuvosas como esta, fomos bebendo pela alameda que nos guia à nossa segunda casa. Estavam presentes quase todos os elementos de uma noite copera, exceto um: aquele movimento intenso que corta a monotonia noturna do bairro do Morumbi.
A sensação era de vazio. Os cambistas nos abordavam desesperados, já na altura do córrego da RuaCorvêtaCamacuã. Encontramos outro camarada no bar, parcialmente cheio, na esquina da Rua Regente Leon Kaniefsky. Os poucos ambulantes presentes driblavam as viaturas do “rapa” com a mesma habilidade de um Canhoteiro.
Chegamos à Praça Roberto Gomes Pedrosa, indevidamente cercada, com certa antecedência ao ônibus que traria o plantel tricolor. Tempo suficiente para a chegada de mais uma companheira e três aliados, que traziam uma faixa branca com os dizeres em vermelho “R$ 120,00 É Roubo”, pintada poucas horas antes, que serve também de protesto para a nossa última visita à Itaquera.
Assim que passou a comitiva uruguaia, nos posicionamos rente à calçada e alguns membros da Independente se somaram à nossa causa. Logo após a chegada da delegação local e a festa sem restriçõespor parte das dezenas de torcedores no local, nos aproximamos do portão principal do Cícero Pompeu de Toledo, com algumas letras apagadas, e bradamos contra a lógica elitista que privou milhares de torcedores de acompanharem a goleada que viria logo mais.
“Ingresso caro afasta o torcedor”, “Muito respeito com a torcida tricolor”, “Morumbi virou estádio de patrão” e o universal “Ódio eterno ao futebol moderno” foram os gritos de guerra contra o descaso com o principal ativo do clube: o seu torcedor.
Associados ou não, organizados ou não, todos aqueles que se indignaram com a atual gestão, que teve mais de dois meses para se preparar e deixou tudo para a última hora, se tornando responsável direta pelo pior público dos últimos 23 anos de Libertadores.
Análises canalhas – não confundir com os hinchas do Rosario Central – inverteram os valores que regem um clube de futebol e comemoraram o campeonato econômico, contrastado pelo “rebaixamento” observado nas arquibancadas.