O lançamento do novo programa Sócio Torcedor do São Paulo FC coincidiu com a volta da minha visita à Buenos Aires e me fez repensar um bocado na vinculação com um clube de futebol. Explico. Um dos motivos da viagem foi a existência de outra agremiação esportiva, cuja afetividade está ligada diretamente ao Tricolor do Morumbi, pois compartilha as mesmas três cores com o Clube da Fé. Me refiro ao Club Atlético Chacarita Juniors – entidade da qual eu sou sócio desde o longo outono de 2012, quando o Chaca foi rebaixado à Primera B Metropolitana.
Aproveitando o feriado de 9 de Julho, em família, na capital argentina, tive a oportunidade de comparecer a dois eventos sociais do Funebrero: o jantar anual que celebra os campeões do Metropolitano de 1969 – único título da Primeira Divisão – e o jogo em casa, no município vizinho de San Martín, contra o Los Andes.
Ao comprar as passagens de avião, no mês passado, informei a subcomissão de sócios dos meus planos e fui agraciado com dois ingressos na platea baja – denominação dada às cadeiras numeradas. O valor desta cortesia, supera em quase o triplo o valor da anuidade de 200 pesos (aproximadamente R$50) que vence todo mês de Abril.
Já na Argentina, quando fui retirar as entradas na Sede Social, três dias antes da bola rolar, recebi o convite, desta vez da subcomissão de relações institucionais, para conhecer a cancha e a concentração dos jogadores no dia da partida. Sendo assim, posso afirmar que o melhor tratamento que eu recebi como torcedor, curiosamente, foi a mais de 2 mil km do Morumbi, estádio ao qual eu frequento há 21 anos.
Minha intenção não é comparar o relacionamento dos clubes com seus torcedores apenas por uma situação particular e nem pela realidade de ambas instituições, pois enquanto o Chaca resiste bravamente com cerca 5 mil associados na lanterna da B Nacional o São Paulo é um dos candidatos ao título do Brasileirão e passou a barreira dos 60 mil adimplentes. Contudo, a estrutura do SPFC, diferentemente do CAChJ, se assemelha cada vez mais a uma empresa e o seu sócio-torcedor um membro de buyers club, tomando emprestada a analogia do amigo Irlan Simões.
Dentre as milhares de vantagens oferecidas pelo Sócio Torcedor – ligado ao Movimento por um futebol melhor – poucas estão ligadas ao espetáculo em si. As ações promocionais, pouco divulgadas, premiam a aleatoriedade ao invés da fidelidade: “por ano, são mais de mil sortudos que passam por experiências incríveis”. É mais fácil comprar cerveja barata ou pagar uma mensalidade menor na Faculdade do que comprar um ingresso como visitante. Este sem desconto, obviamente. Por falar em desconto, não existe nenhum plano que incentive aposentados ou estudantes, que já possuem o direito à meia entrada.
Por outro lado, o ranqueamento para a venda antecipada já é um alento para aqueles torcedores que comparecem à maioria dos jogos, sendo um diferencial em partidas decisivas – vide as oitavas-de-final da Libertadores deste ano, diante do Cruzeiro.
De maneira geral, o novo programa do ST frustrou aqueles que esperavam mais economia e facilidade na compra dos ingressos, mas a campanha publicitária angariou 4 mil novos associados nas últimas 48h. Contudo, o São Paulo FC ainda não oferece um plano que faça o torcedor se sinta pertencente ao clube para além do título patrimonial, proibitivo para a maioria dos torcedores.