Um acidente, uma doença, a perda de alguém próximo… São várias as razões que podem levar uma pessoa a parar e olhar a vida com outros olhos, pensar no tempo que há pela frente, no que foi bom, naquilo que não pode se repetir.
Com Breno, foi um incêndio provocado por ele mesmo, em seu próprio casarão, na chique Baviera e sua qualidade de vida incomparável, seguido de três anos de prisão e um breque na promissora carreira.
As razões para o ato quase de autoimolação da carreira de jovem craque são e sempre serão praticamente insondáveis, como costumam ser muitas das dores da alma humana.
E não cabe a nós procurar somente uma interpretação científica ou técnica a exemplo do que já cansamos de fazer com o errante Adriano que deixa a vida o levar, ao lado dos seus amigos e hábitos de sempre.
Até porque podemos imaginar. Os sonhos de riqueza e status que nos acostumamos a ver vendidos à nossa juventude também fazem suas vítimas, não apenas jovens milionários.
Breno não é o único que conheceu de perto a fábula do “pobre menino rico”. E sabemos que não deve ser fácil, pois sempre haverá aquele insensível maledicente que apontará o dinheiro em sua conta bancária como solução de todos os males – e prova da sua fraqueza cabal, por consequência.
Faz parte, o redivivo são paulino terá de saber lidar com isso e, como bom defensor, colocar para escanteio. Coisas de tempos cada vez mais materialistas e pessoas cada vez menos capazes de entender a vida por outro viés se não o da grana e do poder, ainda que ilusório.
Poucos se importarão em lembrar que não é fácil para os meninos de infância pobre e pouca escolarização encarar a vida do outro lado do mundo, suas regras, cultura, sociabilidade e mesmo métodos de trabalho.
O menino que nasceu na várzea do Pari, vestindo a tradicional camisa tricolor do Serra Morena (quase igual à do Morumbi e que inclusive ganhou uma bela bolada à época de sua venda) é mais um daqueles coagidos a sonhar com a Europa e suas pomposas camisas.
Aos 18 anos, não havia tempo de curtir o São Paulo Futebol Clube, o título brasileiro e a Bola de Prata conquistados em 2007, a primeira Libertadores da carreira, a relação com a torcida e os amigos que o viram crescer e poderiam agora observá-lo das arquibancadas onde forjamos nossa história.
Não dava tempo. Sabe como é, algumas oportunidades são raras na vida, o trem pode não passar pela segunda vez, uma lesão ingrata pode pôr fim a tudo, enfim, a velha cantilena que nada mais significa “assina aqui e vamos fechar mais esse negócio”.
Breno e toda a juventude brasileira crescem adestrados a querer e amar o mundo no qual não nasceram, nunca viram e ninguém próximo lhes contou se realmente é bom. Mas dizem que é, então não é possível dizer “tô bem aqui”.
Depois, se a vida não caminha conforme o roteiro pré-definido por empresários e seus comunicadores, o problema é individualizado, esquecemos de quem fica pelo caminho (ainda por cima munidos de argumentos “corretos”, “direitos”) e vemos a fila andar, novos jogadores vivendo a mesma saga, em escala industrial.
Felizmente, mesmo sendo poucos, ainda há quem se lembre de quem não foi o que poderia ter sido e estende a mão, ajuda a levantar, avisa que ainda há tempo pela frente e oferece de volta aquela velha camisa, a ser usada diante daquela velha arquibancada e daqueles velhos torcedores.
Fico imaginando o que devem ter sido aqueles poucos minutos, que preencheram anos de vazio, logo num clássico contra o Corinthians no estádio que o viu ganhar o mundo.
Depois, fica mais fácil ver o lado bom da vida e como até alguns problemas voltam a ser agradáveis, de tão banais. Bom saber que agora a preocupação é a posição no campo, a musculatura ainda desacostumada ao ritmo de competição, a disputa por lugar no time, a incógnita sobre quando sairá o primeiro gol etc.
De nossa parte, que um dia aprendamos a ser úteis àqueles que não cumprem o roteiro “fácil” da fama e da fortuna. Um brinde ao Breno e vida longa nos gramados brasileiros.