Carta a um jovem treinador

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Por Victor Faria

Prezadíssimo Senhor Thomas Tuchel,

Sua carta chegou em minhas mãos há alguns dias, mas devido a compromissos com o clube, que com o tempo se torna seu templo, só agora posso com calma responder. Confesso ter ficado um pouco surpreso com a opção postal, mas considero essa troca, diante de toda pluralidade de informações, ser a maneira mais natural de se corresponder sem se corromper às impressões do momento.

Antes de tudo, quero agradecer-lhe a grande e amável confiança. Devido à nossa proximidade, percebo-me alheio a toda e qualquer intenção crítica. As palavras que seguem possuem caráter interpretativo e devem ser considerados em futuras reflexões.

Ao invés de falar sobre soluções táticas acerca do time, sobre o perfil dos jogadores, da fanática torcida, peço que pense antes de qualquer decisão: Sou um verdadeiro treinador? Por ofício ou condição? Noutras condições, teria o mesmo prazer em profissão?

Acuse a si mesmo, diga consigo que não é capaz, que não é treinador suficiente para extrair riqueza de suas ideias. Para o estrategista, não há pobreza nem lugar distinto. Suas conclusões serão sempre íntimas e pessoais e pouco interessarão ao público geral. Aproxime-se então da natureza do jogo. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, pensa, ama e perde.

Construa sai vida de acordo com esta necessidade.

A partir da infância, esse tesouro de recordações, retome o prazer de um futebol além do hábito. Perceba o prazer de linhas imagináveis, de campos sem alambrado, mas com torcida. A recordação presente apenas na memória dos anônimos, que sabem como poucos desfrutar do trivial. A maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma prancheta consegue projetar.

Evite de início as formas usuais e demasiado comuns: são essas as mais complicadas, pois precisa-se de uma força amadurecida para se produzir algo de pessoal num campo em que sobram tradições boas, brilhantes.

Pode acontecer de o senhor ser chamado de manager. Neste caso, aceite seu destino e carregue-o com seu peso e grandeza, sem nunca se preocupar com recompensas que possam vir de fora. Pode também acontecer de o senhor ter que renunciar ao cargo antes do tempo, devido à forte pressão por resultados, mas lembre-se de sua condição, da incapacidade de deixar de ser treinador, de querer construir e por isso possuir o direito de fazê-lo.

Parece-me que tudo foi dito segundo convinha. Queria apenas sugerir-lhe que se deixasse chegar com discrição e naturalidade ao termo de sua evolução. Nada mais perturbador que o olhar para fora e aguardar soluções a perguntas que talvez somente o seu sentimento mais íntimo possa responder.

Agradeço-lhe mais uma vez a cordialidade e a grandeza de sua confiança. Procurei por meio desta resposta, feita a melhor que pude, tornar-me um pouco mais digno dela do que realmente sou.

Com toda devoção e simpatia aurinegra,

Jürgen Klopp.

 

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