Dia 10 – A campeã voltou
por Gabriel Brito
Bélgica 5 x 2 Tunísia – Ainda de passeio
Segundo final de semana de Copa aberto. Karine continua espantada com o respeito que este cronista passou a nutrir pelo despertador.
Chego com meu cobertorzinho à sala e estes olhos nem precisaram se abrir tanto para notar que a badalada esquadra europeia ia mesmo passar o carro.
2 a 1 em 20 minutos, um golzinho norte-africano pra não fazer o jogo desandar cedo demais, mas a superioridade belga saltou aos olhos.
Além disso, o azar ou sabe-se lá o que em relação aos tunisianos marcou sua pobre campanha. Se na estreia contra a Inglaterra o goleiro Hassen teve de sair logo cedo, ontem vários jogadores sentiram ao longo do jogo.
O autor do primeiro gol Bronn teve de deixar o gramado e ao que parece o estilo físico e defensivo das Águias do Cartago cobraram uma boa fatura. Diante da precariedade técnica de um time apenas esforçado compreende-se.
A Tunísia fez o que podia para equilibrar o jogo, mas não resistia a uma saída de jogo mais desenvolta, pois logo um passe errado punha tudo a perder e os belgas esmerilhavam, como no terceiro gol, no apagar das luzes do primeiro tempo, daqueles que não se toma de jeito nenhum antes de ir ao vestiário.
À vontade, o time belga continuou criando espaços ante um adversário já desanimado e a naturalidade dos gols traduz bem o talento dos diabos vermelhos. No entanto, como dito anteriormente, terá de provar na hora do arrebento.
Seis pontos dos mais fáceis possíveis nesta Copa. Portanto, tudo pela frente ainda.
México 2 x 1 Coreia do Sul – Osório e os mariachis
Um técnico colombiano altamente intelectualizado e afeito a métodos de trabalho heterodoxos ao futebol. Um país de seleções tradicionalmente descompromissadas com a glória e enamoradas dos pequenos momentos de autorrealização que um campo de futebol permite.
Juan Carlos Osório e a seleção mexicana parecem uma combinação escrita nas estrelas, a unir estilos de vida, digamos assim, tal como um casal que gosta dos sabores incomuns e detesta a rotina.
No meio deste romance, uma Copa do Mundo, hora ideal para escrever paginas inesquecíveis que podem vir a ser contadas até por idiomas completamente alheios ao solo asteca.
Depois da belíssima vitória sobre a Alemanha, quando os vendavais Lozano, Layun e Vela lembraram a Joachim Low que Hummels e Khedira já não são garotos, a expectativa era grande.
Do lado oposto uma necessitada e sempre combativa Coreia não foi páreo. E mais uma vez o México sobrou em campo, voando pelos lados do campo e somando três pontos que começam a dar tintas épicas à campanha de um time que vem desacreditado há alguns anos, marcado por um 7-0 na Copa América Centenário que poderia fazer tudo isso aqui descrito ser atirado no lixo bem antes.
Bonito de ver o segundo tento da vitória deste sábado repetir quase à perfeição o golaço de Lozano. Desta vez, Chicharito mostrou a chamada jerarquia, excelente termo com que os irmãos da Pátria Grande definem jogadores que resolvem.
Son, aquele do Tottenham, porque coreano chamado Son deve ser algo na casa dos milhões, marcou bonito gol pra deixar seu nome na galeria das Copas. De todo modo, um time sem brilho, extremamente dependente deste jogador, e que terá de tentar de novo no Catar.
Um aspecto interessante, a ser averiguado na sequência do certame, é a condição física dos mexicanos. Aparentemente, estão na ponta dos cascos. Não é qualquer time que deixa coreanos deitados no chão de tanto cansaço ao final de uma partida.
Seis pontos e classificação que só não veio pela cagada que se lerá adiante. Mas o time de Osorio e seus mariachis esfuziantes já são nossa paixonite do grupo F.
Alemanha 2 x 1 Suécia – Deixando chegar…
Pra fechar a tarde, uma das partidas que o Brasil parou pra ver. Ao fazer tantas mudanças, algumas até inusitadas, Joachim Low deixou clara sua insatisfação com a derrota da estreia.
O que não mudou foi o ímpeto. De novo os alemães caíram matando. E de novo só podemos aplaudir a postura. Jogam como campeões, não querem saber de estudar adversários já estudados e tentam apavorar logo de saída.
O paredão sueco resistiu ao assédio. Numa boa estocada, Toivonen fez um bonito gol de cobertura e, dessa forma, já superou o insuportável Ibrahimovic em termos de história em Mundiais.
O drama estava desenhado e a partir daí passamos a torcer desbragadamente pelos suecos. Eliminações tidas como vexatórias são atração sempre irresistível.
O primeiro tempo foi embora e a cena do crime parecia montada: alemães resvalando para o desespero e suecos confortáveis com a situação. Naquele momento, o grupo estava liquidado.
Na volta, Marco Reus finalmente conseguiu fazer o que sabe numa Copa do Mundo. Ok, quem foi cortado de duas Copas e uma Euro por lesão merece um golzinho desses.
Mas o resultado continuava péssimo para o lado tetracampeão. A pressão seguia e o zagueiro Granqvist saía-se com uma atuação lendária. Bloqueava tudo e liderava seu time de forma exemplar.
O contra-ataque parecia pertinho de sair. Mais ainda depois de Boateng perder a paciência e varrer Berg com tudo.
Faltavam 10 minutos, era hora da tal frieza nórdica mostrar do que era feita. Segurar a bola, ousar um pouquinho só e matar o tempo ante uma cansada Alemanha.
Não foi o que aconteceu. Além da dificuldade em trocar passes com desenvoltura e ir passeando pelos espaços vazios do campo, os suecos se deixaram levar por uma tranquilidade que só seu IDH explica.
O jogo chegou aos acréscimos, hora em que a loucura supera largamente quaisquer aspectos táticos ou racionais. Os alemães também entendem disso, têm em seu histórico viradas e reações geniais.
Os suecos deviam saber. Tomaram uma bola na trave de Brandt já aos 46. Depois, ao perderem bola no ataque, apenas marcaram, em vez de, muito obviamente, assassinar a jogada no meio campo. Mas não. O último ataque alemão vinha incólume até que Durmaz, já quase na linha da área, tomou a providência negligenciada 50 metros antes.
Toni Kroos na bola. Ele certamente disse “foda-se”. O ângulo não era lá essas coisas. Mesmo assim, bateu com sua destreza de sempre e pôs lá dentro. Pois é só de vez em quando que camisa pesa. Tipo numa hora dessas.
Uma criança vizinha grita o gol. Fico estupefato na sala, pelos dois motivos. Se antes era bom ver os germânicos irem embora de forma inapelável, em duas rodadas, agora não há nada mais sedutor do que um Brasil x Alemanha logo nas oitavas para liberar de vez o caos pela terra da revolução. Que venha!