Dia 20 – It’s coming home?
por Gabriel Brito
Suécia 1 x 0 Suíça – À moda europeia (2)
Um jogo mais legal pela sonoridade dos nomes dos países em confronto do que pelo que se espera já devia levantar suspeitas.
Como muitos de nós latinos, exigentes de temperos que a prancheta não põe a mesa, pudemos prever o confronto entre duas medianas seleções europeias era mais um jogo condenado apenas à memória dos adictos.
Mais concentrada, a Suécia conseguiu repetir sua competente atuação contra os mexicanos e emparedou o time helvético desde o começo, com seu 4-4-2 um tanto estanque, mas que tem contado com um melhora no desempenho de alguns jogadores.
Forsberg voltou a fazer boa partida e ajudou a levar seu time adiante; a dupla de ataque Toivonen e Berg cumpre seus invariáveis papeis de pivôs e imposição física e também foi perigosa.
Aparentemente mais técnica, a Suíça ficou a ver navios com atuações apagadas de Shaqiri, Xhaka e Dzemaili. No caso do mais badalado, insistiu de forma irritante nos lançamentos.
Na área, não houve solução. Nem Drmic e nem Seferovic, que não à toa perdeu a posição durante o Mundial, deram conta de estufar as redes e o placar mínimo a favor dos escandinavos se justificou plenamente.
Num confronto repleto de obviedades, ganhou aquele que subiu de rendimento nos últimos dois jogos.
Inglaterra 1 (4) x (3) 1 Colômbia – Ay, Colombia!
No jogo que comoveu tantos brasileiros, pelos mais variados motivos, pesou, sim, a camisa. Provavelmente, foi a única ocasião em que não vimos a preferência nacional pender para o lado europeu frente a uma camisa sudaca. Pelo menos na queda de avião, o brasileirinho de bem é grato ou solidário.
Mas não me desce como se torce pelos europeus por aqui. Como bem registrado pelo amigo Biglia, deu raiva ver em Itaquera um Holanda x Chile onde a ampla maioria brasileira estava com os algozes da Copa de 2010.
Começando pelo momento final do tempo regulamentar, o gol de Mina distorceu a história real da partida.
Os ingleses não só foram melhores tecnicamente como estiveram sempre acima no aspecto mental. Neste aspecto, os cafeteiros foram um desastre. E seu reiterado destempero nos 90 minutos pendurou uma quantidade tão grande de jogadores que quando o árbitro norte-americano deu motivos para tal já não havia mais brecha pra interpelá-lo.
A falta que Trippier quase colocou na rede perto do fim do primeiro tempo já tinha sido desnecessária. O nervosismo de Barrios na barreira, quase a cabecear Henderson, foi mais inoportuno ainda. E a mesma conduta irritadiça se viu frequentemente num time que só tratou de jogar nos últimos 15 minutos, quando a água alcançava o pescoço.
Com seu esquema de três zagueiros, espaço para os alas e os criativos Dele Ali, Lingard e Sterling flutuarem à vontade por trás de Kane, a Inglaterra se impunha.
Entende-se a opção de Pekerman de povoar o meio com três volantes. Enquanto os britânicos tentavam abrir o campo, o argentino planejou dominar os duelos centrais. Faz sentido. Mas sobrecarregou demais Quintero e Cuadrado. Além do mais, Barrios, Lerma e Sanchez não oferecem armação de jogo e estancam o time.
Sánchez é um estorvo à parte. Não bastasse o insensato pênalti no início do jogo com o Japão ignorou os avisos do árbitro no escanteio que precedeu o pênalti em Kane. Daquelas penalidades discutíveis, mas não era por falta de aviso. A desconcentração em momento fatal, tantas vezes companheira de viagem dessa seleção tão querida.
E depois da abertura de placar foram pelo menos 15 minutos de reclamações, faltas duras e cartões para os colombianos.
Inteligentes, os ingleses aproveitaram. E, oh my god!, eles também fazem catimba. Todo mundo que sabe o que é vencer no futebol faz isso, trata-se de uma conduta universal. Mas nossos chatíssimos comentaristas virtuais aproveitaram a simulação de Maguire para enfiar Neymar, o ídolo compulsório, no meio da conversa. E adeus relatos da partida nos programas pós-jogo, que têm se especializado em falar de tudo depois que a bola deixa de rolar, menos do que se fez com a própria bola.
Não há histórias, dramas, decepções, explicações para as atuações de um e outro lado. Julgam-se condutas que sempre vão ocorrer enquanto o vídeo não destruir o jogo, memes pra todo lado, opinião de famosos que não estão nem aí pra futebol e daí pra baixo.
Dito isso, quando perceberam que os ingleses não iam entrar na pilha e já acariciavam a classificação, os colombianos enfim acordaram no jogo. Pena não terem posto em prática seu bom futebol desde o início.
Muriel entrou bem (pena que Pekerman sacou o ótimo Quintero pra isso), Mojica cresceu na esquerda, Cuadrado fez sua parte e, quando tudo parecia perdido, Yerri Mina novamente mostrou seu gigantismo e achou a maravilhosa testada do empate. Monumental.
O crime ficou desenhado. Em choque e também sem Dele Ali e Sterling, os ingleses entraram acéfalos na prorrogação com a qual não contavam. Os primeiros 15 minutos de tempo-extra foram o verdadeiro bom momento sul- americano em campo. Quase veio a virada que faria o estádio do Spartak vir abaixo, tomado que estava de amarelo.
E alguém pode explicar o que foi a anulação da cobrança de lateral que contou com a distração de Maguire e podia dar no segundo gol colombiano? Notem que o bandeira evitou que a segunda bola voltasse ao gramado e corre pra seguir a jogada. Um paizão, Mike Geiger mandou voltar.
Já no segundo tempo, cruzamento de Cuadrado foi claramente desviado a escanteio. O ianque deu tiro de meta. E onde estão os sopradores do vídeo pra resolver um lance de tamanha simplicidade? Pena que aí os colombianos já tinham gastado todas as suas reservas de queixas.
Pra completar, novamente parabenizamos a Conmebol por achar tudo certo em ver um estadunidense apitar um jogo de seus comparsas anglófilos. Não desconfiamos da idoneidade de Mike Geiger, mas há afinidades culturais e psicológicas que podem interferir em algumas interpretações num caso como este. O lance da segunda bola que não entrou no campo foi uma camaradagem daquelas.
No segundo tempo extra Southgate acertou o time de novo e as ações se equilibravam. Pênaltis. Ainda bem, pois não havia mais energias nem mesmo neste que vos escreve. E entre dois times com pouca ou nenhuma mística copeira neste rubro nada era possível de prever.
A paulada de Uribe quando podia colocar o 4-2 que tornaria tudo definitivamente desesperador para os britânicos é para o eterno muro das lamentações. Dava pra ser mais frio, o momento era “nosso”. Ou que soltasse a paulada no meio. Mas não. O resto foi água abaixo de quem em momento algum soube ser grande, por mais que nos doa admitir.
Quatro europeus e quase nenhum sal disputarão uma vaga na final. E os ingleses têm uma chance enorme de retornar a uma decisão e fazer valer o jargão ufanista local “it’s coming home”, válido tanto para o projeto de sediar uma Copa quanto para a rara expectativas de levantar uma taça.
A la mierda.
Fora de campo
Sempre poupada dos grandes noticiários, a Colômbia passou por eleições presidenciais que podem marcar um novo rumo na vida do fraturado país.
Há cerca de 70 anos em estado de guerra civil, o segundo maior país da América do Sul tenta conciliar os diferentes setores da sociedade. No entanto, não é fácil.
Com a vitória do ultradireitista e liberal Ivan Duque, os Acordos de Paz correm risco e os setores oligárquicos e paramilitares ganharam novo fôlego. A mídia lixo local fez sua parte e instigou todo o medo possível na população, a fim de eleger um representante que desagrada até a setores dominantes.
De toda forma, a votação de Gustavo Petro, herdeiro de movimentos reconciliadores e democratizantes como a Marcha Patriótica – isso pra não voltar aos anos 80 – foi histórica e pela primeira vez em décadas a esquerda se fez presente na disputa pelo poder central do país recordista no número de refugiados internos no planeta.
A omissão internacional se explica. Signatária de tratados de livre comércio e protagonista da falida guerra às drogas, a desastrosa democracia local nunca é alvo de sanções e críticas internacionais. No entanto, seus índices de violência – foram mais de 200 mortos na campanha eleitoral deste ano, que incluiu os municípios – são absurdos e nos últimos anos pelo menos 15 mil lideranças indígenas, sindicais e comunitárias foram assassinadas.
Ontem mesmo, aos 10 minutos de jogo, Luis Barrios foi assassinado diante da família em Palmar de Varela, no departamento caribenho de Atlantico, cuja capital é Barranquilla. O mesmo se passou com Felicinda Santamaria, presidente de uma associação comunitária do departamento de Chocó. Outros sete camponeses também foram mortos em Argelia, departamento de Cauca. Tudo isso ontem.
Em 7 de agosto, movimentos pela pacificação do país, convocados também por Petro, irão à rua mais uma vez rogar pelo fim da violência que encontra paralelo em pouquíssimos lugares do mundo.