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Diego Jaume é um sujeito tranquilo e com pinta de atleta, ainda que a estatura – 1,80m – não escancare que o uruguaio de 41 anos tenha construído uma carreira de defensor no futebol local e também na Espanha, onde se aposentou em 2008, jogando pelo Hércules.
Mas saltava muito, a bola aérea era meu ponto forte, disse no último final de semana diante de uma plateia de peladeiros brasileiros e uruguaios (além de dois lituanos) num parque em Las Cañas, Fray Bentos, que recebeu a IV Copa América Alternativa Hombre Nuevo, primeira delas no Uruguai depois de um trio de edições em território argentino.
A presença de Jaume num encontro deste perfil – times amadores de esquerda, avessos ao modelo de comercialização do futebol atual – já demonstrava se tratar de um tipo diferente.
O pequeno Diego foi viver na Holanda aos quatro anos de idade, levado pelo pai, exilado político que seguiu para a Europa depois de ficar preso de 1975 a 78. Voltou já aos 11, hincha de Nacional, ainda que longe de ser fanático. E começou a carreira de jogador profissional atuando primeiro pelo Huracán Buceo, de Montevidéu, e depois pelo Bella Vista, também da capital, onde disputou a Libertadores da América de 1999 – campanha histórica, até as quartas de final – e se credenciou a jogar na Europa.
Na Espanha, fechou com o Numancia (1999-2003) e depois passou pelo Hércules (2007-2008); entre eles, defendeu as cores do Defensor Sporting e do Nacional, time da infância, por onde voltou a jogar La Copa. Também viu nascer a vitoriosa geração celeste comandada por Óscar Tabárez, já que fez parte da seleção em 2005, ainda sob a gestão Jorge Fossati, que caiu na repescagem para a Copa do Mundo diante da Austrália.
Futebol moderno
Jaume não esconde um certo incômodo ao lembrar das relações do mundo do futebol. Lamenta (e cita nomes de companheiros e rivais) as marcas dos carro estacionados na concentração, a preocupação de colegas com a aparência e, principalmente, a mudança de postura do jogador de futebol nessa transição para os anos 2000 quando, definitivamente, os chutadores de bola se autoproclamaram superstars globais.
Conta que resolveu se aposentar quando viu que não gostaria mais de fazer parte daquele mundo; e também quando percebeu que os atacantes adversários reclamavam de tudo, simulavam faltas, e qualquer chegada mais forte já era sinônimo de cartão amarelo. Chega.
Por esse perfil, chegou a enquadrar uruguaios no ambiente da seleção, incomodado com o fato de jogadores fumarem durante o treinamento, abusarem das festas nas concentrações e não mostrarem o comprometimento necessário para um time com limitações técnicas. Você sente no vestiário que o cara já está diferente, vaidoso, com roupas caras, no canto dele ouvindo música, lembrou. Quando chegou o Tabáres e colocou ordem na casa, afirmou, já saímos com o quarto lugar da Copa do Mundo.
Um caso que ilustra tal comportamento foi citado por Jaume em recente entrevista ao montevideo.com.uy: “A revista espanhola Don Balón fez uma nota onde colocava os melhores carros dos futebolistas e estavam Roberto Carlos, do Real Madrid, com uma Ferrari, um Audi e um Porsche, o mesmo para Figo, Beckham e outras estrelas. Depois, em outra lista, estavam os que não davam importância aos automóveis, e era encabeçada por dois uruguaios, Álvaro Núnez e eu, os dois do Numancia. Eu tinha um Seat Ibiza que o clube havia me dado para me mudar e nunca troquei. Me sobrava dinheiro, mas nunca compartilhei desse glamour, de tudo que acompanha o status de futebolista”.
Ainda nesse sentido, não poupa críticas aos grandes nomes do futebol contemporâneo, gigantes no campo e ícones do marketing e dessa mudança de comportamento fora dele: o jovem Suárez que já se preocupava com coisas além do futebol, o craque Forlán que foi morar em bairro nobre (“como Diego recebia 1,5 milhão no Internacional, num país com miséria como o Brasil, isso é uma vergonha!”), ou o Neymar com seu penteado assim, assim – faz cara de repulsa enquanto simula com as mãos o moicano e os brincos da estrela brasileira.
Ao mesmo tempo é um sujeito que gosta de falar de futebol. Perguntado pelos brasileiros presentes na conversa em Fray Bentos, elegeu Raul como o atacante mais difícil de ser marcado, e também destacou os embates contra Ronaldo ‘Gordo’ – “ele te deixava tranquilo, não era de contato, e quando você via, gol” – e Ronaldinho – “é um absurdo jogar daquele jeito indo pra noite como ele ia”.
Porto Alegre, sorrisos e Fernandão
Foram três os duelos entre Nacional, do Uruguai, e Internacional, de Porto Alegre, nas Libertadores de 2006 e 2007. Emblemáticos para Jaume.
Ele lembra com entusiasmo o calor da torcida no Beira-Rio. Se recorda também do duelo de estilos: de um lado, os brasileiros sorrindo, ouvindo música no reconhecimento do gramado, felizes da vida acenando para todos os lados; de outro, eles, os uruguaios, querendo arrancar até o último fio de cabelo brasileño que encontrassem pela frente.
Como bom zagueiro (também jogou de lateral-direito) sudaca que se preze, Jaume não esquece os embates com os atacantes que enfrentou nos principais jogos da carreira.
Alex? Bueno. Iarley? Um cagão, a todo momento caindo no chão, reclamando, um cagão. E o Fernandão?
“O Fernandão era legal de encontrar. A gente jogava duro, ele era forte, mais alto do que eu, então era pancada por baixo, por cima, uma disputa de muito contato e, ao mesmo tempo, muita técnica. Mas sempre com respeito e com hombridade, um jogador de verdade, que enfrentava”.
Enquanto simula com o corpo as melhores formas de se parar um centroavante, Jaume é informado da morte de Fernandão. O ex-jogador faleceu em junho do ano passado, num acidente de helicóptero quando voltava de sua fazenda nas margens do rio Araguaia, em Goiás.
– Muerto?
– Sí…
– Yo no sé, no tengo internet.
Onde vive, em Canelones, no sul do Uruguai, Jaume se dedica às atividades no campo, plantando e cuidando do gado. Não tem celular nem acesso a computador – já não tinha nos tempos de jogador – e vai mantendo sua vida simples de forma que, por que não, também milita e propaga as ideias de uma vida mais humana. Zagueiro firme, se dedica agora a defender o contato do homem com a natureza, com a terra. Sorte do Neymar, que desfila mais tranquilo no Camp Nou. Azar nosso.
*Grande entrevista recente de Jaume, onde fala de política, Uruguai e futebol: “Viví en un mundo donde la plata era todo y yo sentía que eran ricos pobres y ahora estoy en el campo, donde hay gente pobre que es mucho más rica”.
**Aqui, Jaume concede entrevista ao Espectador em outubro de 2012.
***Em vídeo, fala à TV Subrayado sobre seu atual estilo de vida em fevereiro de 2012.
****Antes, ainda jogador, fala sobre voltar ao futebol sul-americano, em 2005, ao El Pais.
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