Enquanto eu testemunhava o terceiro rebaixamento da Associação Portuguesa de Desportos à Série A2 do Campeonato Paulista era inevitável relembrar da declaração de Fred no último domingo. Enquanto a permanência da Lusa na elite estadual representaria alguma estabilidade no Canindé – perdida após o imbróglio judicial do Brasileirão 2013 – para o centroavante do Fluminense, o Campeonato Carioca – do qual o clube das Laranjeiras é um dos fundadores – é uma pedra na chuteira.
O discurso do camisa 9 não é novidade, alguns jornalistas valorizam a tradição do Boxing Day e da Copa da Liga Inglesa mas enxergam nos estaduais uma barreira para a adequação à temporada europeia. Contudo, foi a primeira vez que um jogador se posicionou tão abertamente contra a realização dos torneios regionais.
Fred mirou o alvo, no caso a FERJ, mas errou na crítica. A grande questão não é o calendário apertado para uma minoria de clubes e jogadores, mas sim a estrutura de poder que faz com que os clubes de menor expressão sejam reféns dos ditos clubes grandes, que por sua vez, são praticamente extorquidos pelas federações ao assinarem regulamentos esdrúxulos. Foi esta conjuntura política piramidal que levou Marco Polo del Nero à presidência da CBF, dando continuidade ao status quo. Cabe lembrar que foi durante sua gestão à frente da FPF que o Paulistão passou a ser chamado pejorativamente pelo diminutivo.
O futebol brasileiro sagrou-se pentacampeão mundial com jogadores revelados nos mais diversos rincões do país, onde várias comunidades estavam integradas pela bola, aquecendo a economia e estimulando a competitividade. Este arranjo só foi possível graças aos campeonatos estaduais. Porém, o final deste ciclo centenário parece estar com os dias contados e quem pagará a conta são as pequenas agremiações que buscam seu lugar ao sol, mesmo que isso signifique jogar um clássico às 15h no meio da semana.