*Por Gil Luiz Mendes
– A bola passou por cima do chinelo.
– Não passou.
– A bola foi alta.
– Mas passo no meio das sandálias.
– Mas foi por cima.
– Não foi.
– Me dá minha bola. Vou pra casa.
***
– A bola saiu.
– Saiu uma porra.
– Olha a linha aqui.
– Que linha? Tá tudo apagado.
– Mas a linha ficava aqui.
– Mas não tá.
– A bola saiu.
– Saiu um caralho.
***
– Foi no peito, professor.
– Se afaste.
– Olhe a marca da bola na minha camisa.
– Solte a bola ou te dou cartão.
– Não pegou na mão e você sabe.
– Solte a bola e não fale mais comigo.
– Vai tomar no cu.
– Tá expulso! Tá expulso!
***
– E aí, entrou ou não?
– Espera que estamos voltando o vídeo aqui.
– Vai logo, porra. Que demora.
– Esconde a boca com as mãos que estão com a camêra fechada em você.
– E aí, fala logo.
– Espera não dá para ver direito. Tem um zagueiro tapando a imagem.
– Bandeirinha nojento. Eu achei que não entrou, mas esse infeliz levantou a bandeira.
– Segura aí que o coronel tá ligando no meu telefone. Alô…
– …
– Seguinte. Falta seis minutos para acabar o jogo. Valida o gol, dá mais cinco de acréscimo, amarra o jogo com faltas no meio de campo e depois acaba. Pode ser?
– Beleza.
– Boa sorte.
– Obrigado.
*Gil Luiz Mendes é escritor e jornalista e comando o Baião de Dois na Central3