Por Leandro Paulo
No último final de semana entrou em cartaz nos cinemas brasileiros mais uma fita estrelada por Sylvester Stallone. Depois de anos apanhando através de comentários negativos e premiações bizarras, o ator finalmente recebeu elogios ao ponto de ter sido indicado ao Oscar por sua atuação em Creed (sequência da franquia Rocky). E se a vida imita a arte (e vice-versa) bem que esse ressurgimento poderia servir de reflexão para o futebol brasileiro.
Ao juntar Stallone e futebol brasileiro no mesmo paragráfo, certamente alguém vai lembrar-se do filme Fuga para a Vitória, no qual Sly contracena com Pelé e outros craques estrangeiros, mas gostaria de destacar algo diferente nesse enredo, principalmente na semana passada, na qual o jogador Wendell Lira, um talento quase desacreditado para o “futebol moderno”, recebeu o Prêmio Puskas, concedido pela FIFA, através de uma votação pela internet como o autor do gol mais bonito de 2015.
“Você sabe que tem gente lá, você sabe onde eles estão, os encontre, senão eu encontro você”, com essas palavras John Rambo intimida Marshall Murdock (burocrata da CIA) para organizar o resgate de prisioneiros de guerra no Vietnã. Eram soldados que a sociedade estadunidense já havia esquecido e tão pouco sabia da importância deles para o país.
No universo do futebol, quantos “soldados” estão marginalizados e excluídos dos gramados por regras e conveniências de quem organiza e negocia esse sistema?
Wendell Lira teve passagens destacadas pelas seleções de base, recebeu até sondagem do Milan, mas por circunstâncias comuns e involuntárias sua carreira declinou. Não tinha mais oportunidades e até dois anos atrás, para sustentar a família, estava trabalhando na lanchonete da família. John Rambo era um excelente soldado, mas não conseguia emprego nem de manobrista. Já Rocky Balboa só sabia lutar e para sustentar a família foi trabalhar em um frigorifico.
A oportunidade oferecida ao jogador pelo Goianésia foi louvável e rara. Vivemos numa doutrina que o jogador só tem oportunidades de negociações mediante critérios etários (é um tal de nove sete, nove oito etc). São jovens que passam a juventude confinada em clubes, com altas quantias financeiras imaginadas pelos empresários, mas quando chegam ao profissionalismo estão “cansados” para o futebol.
Quantos bons atletas acima dos vinte anos que não terão mais oportunidades? Será que somente uma carreira na base é fundamental? Vejam o exemplo do Leandro Damião, passou um bom tempo como amador e chegou tarde ao futebol profissional, arrebentou nos primeiros anos e agora quando se “adaptou” ao profissionalismo não rende o mesmo. As seleções sub 20 e sub 17 conquistam títulos e quando perdem lutam bravamente, algo que não vemos na chegada desses atletas na equipe principal. Os jovens tomam decisões muito cedo, sem preparo psicológico algum (vide o caso de Adriano, o Imperador), acabam perdendo a magia no profissionalismo.
Será que existe algum olheiro ou empresário que tenha um pouco de sensibilidade para avaliar e colocar um talento perdido com vinte cinco anos ou mais no mercado da bola? Talvez seja utopia ou romantismo, talvez esse fã de futebol que escreve essas “loucuras” esteja cansado de ver tantos “perebas” na seleção ou os craques do Brasileirão irem jogar em clubes do segundo escalão da China. No capitalismo o dinheiro nunca dorme… Mas aí já é filme com Michael Douglas e outra possível loucura textual.