Galvão Bueno, o maior de todos!

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*Por Luiz Thunderbird

Galvão Bueno é pra seus fãs e detratores o maior de todos. Sacaram? Amado por uns, odiado por outros, o maior narrador da maior emissora de TV do Brasil ameaça reivindicar aposentadoria há algum tempo. Já adiou algumas vezes; nada a ver com as novas regras impostas ao trabalhador brasileiro.

O primeiro grande narrador esportivo de que me lembro foi Luciano do Valle. Ele era global e mandava muito bem. A última lembrança dele pra mim, na Globo, foi na Copa do Mundo de 1982. O Brasil enfrentava a Itália naquele jogo maravilhoso, quando Paolo Rossi aniquilou uma das maiores seleções que já vi no torneio futebolístico mundial. Depois que a Itália fez 3×2, Luciano gritava que ainda havia tempo, que o Brasil empataria e se classificaria. Os minutos finais foram arrasadores e a insistência de narrador foi o alvo ideal pra minha raiva. Raiva, todos sabem, é a reação à realidade que não aceitamos de jeito nenhum. Que raiva! Acho que acabei direcionando minha raiva pro Luciano, coitado.

Não sei se foi isso, mas depois de um tempo, ele se transferiu pra Rede Bandeirantes. Realizou um trabalho importante ali, fazendo do domingo esportivo um sucesso. Incentivou o vôlei nacional, trouxe a Fórmula Indy. Obrigado Luciano.

Mas foi nessa época que Galvão Bueno ganhou força na Globo. A Fórmula 1 tinha Nelson Piquet, depois teve Ayrton Senna. E Galvão dominava o assunto ao lado de Reginaldo Leme. No futebol, Galvão teve seu ápice na Copa do Mundo de 1994. E aí, cabe uma explicação.

Eu passei o ano de 93 criticando Parreira e Zagalo. Sempre que surgia uma oportunidade, tirava uma onda deles no CEP-MTV. Tanto que, quando encontrei os dois no Camarote da Globo, durante o Carnaval, eu trabalhando na transmissão, houve um momento de confronto entre nós. Achei que Zagalo ia pular no meu pescoço. Agradeço ao Parreira por ter colocado juízo na cabeça do velho Lobo.

Foi nesta competição que Galvão cravou o inesquecível “Vai que é sua, Taffarel!”. Confesso que na final, contra a mesma Itália, não assisti o jogo. Estava no Rio, com amizades perigosas me divertindo com outros assuntos. Não liguei muito pra aquela conquista nacional.

Na mesma época, Galvão chamava meu programa “TV Zona”, que começava logo após as corridas da F1, na mesma Rede Globo. Ele dizia: “Daqui a pouco tem TV Zona com o Thunderbird, ele é muito loooouco!” e coisas do tipo, sempre muito simpático. Obrigado Galvão!

Galvão falava de Ayrton Senna com o mesmo amor e idolatria com que se refere hoje ao Neymar. Era muito amor! Ayrton se foi, naquela curva italiana ( a Itália, de novo!) e veio Rubens Barrichello. Rubinho teria que ser a bola da vez. E Galvão levantava a bola dele com toda a empolgação e pachequismo possíveis.

Nelson Piquet chegou a dar entrevista pra ESPN, aconselhando Galvão a se ater a narração, sem comentários técnicos. Piquet sempre foi mordaz, obviamente! Além de campeão, ele tinha um humor bem especial…

Com o tempo, esse exagero do Galvão começou a me incomodar. Por vezes, soava como “forçando a barra” mesmo. Bem, veio a Copa de 2002 e eu adorei ver a Seleção vencer a Alemanha (a primeira vez que o Brasil enfrentou a Alemanha em Copas). As corridas de F1 empolgavam menos, mas eu curtia mesmo assim. Veio Felipe Massa e Galvão adotou o rapaz como novo Ayrton. Eles se tornaram amigos, se encontravam em Mônaco. Dizem que o apresentador até comprou um lugar na cidade. “Ele dirige Ferraris, fuma charutos cubanos, tem casa em Mônaco.”. Isso, imagino, não ajudava na sua popularidade.

O tempo passou novamente, o tempo sempre passa, e aconteceu mais uma Copa do Mundo. Africa do Sul foi determinante para um dos maiores mêmes da internet.

“Cala boca, Galvão!” tomou conta da Rede Mundial de Computadores. Os primeiros sinais de aposentadoria vieram nessa época. Diziam que ele estava cansado das viagens, querendo curtir um pouco a vida. Isso pode até ter passado pela cabeça dele, mas pensem bem, o cara viaja o mundo pelo circuito de F1, narra as maiores partidas de futebol do planeta, acompanha de perto esses circuitos. E surgiu… Neymar! Sua nova paixão foi menosprezada por Dunga, que não levou o prodígio pra Copa do Mundo. Galvão ficou bravo. Eu também! Aliás, Dunga sempre me deixou bravo. Desde 1994 e aquela comemoração raivosa dele, erguendo a taça. A raiva de novo!

Deixemos o Dunga no passado, afinal temos Tite.

Daí, veio a baixa na Fórmula 1, a Copa do 7×1, as Olimpíadas onde Galvão anunciou Karol Conka, que ele chamou de Carol Cônca. Minha amiguinha brilhando na abertura e ele erra o nome dela. Raiva!

Desde então, eu perdi a paciência com ele. E percebi que a nação brasileira começou a demonizá-lo.

Confesso que, às vezes, faço questão de assistir os jogos da Seleção com narração dele. Acho engraçado os papos dele com o Casão, as provocações com o Arnaldo. Na F1 ele deixa claro que conhece o métier, que janta com os chefões, frequenta festas com os pilotos, é amigo daquele cara influente no box da equipe tal…

E tem os herdeiros do Galvão. Na F1 tem o Cleber Machado, acho legal, tem aquela cena antológica dele narrando o final da prova com o Rubinho deixando o Schumacker ganhar.

Tem o Luis Roberto que também é substituto do Galvão na F1 e em jogos de futebol. Teve aquele momento na última copa que marcou seu estilo…

Sérgio Mauricio, do SporTV aposta pizzas por qualquer coisa e sempre grita: “No capricho, no capricho, no capricho!”. Enquanto isso, eu recorro ao Rivotril sub-lingual pra não socar o televisor.

O Milton Leite, do SporTV, fica só no futebol e tem seus bordões: “Que beleeeeeza!” e “Agora eu se consagro!”

Dizem por aí que alguns jogadores se sentem ofendidos. Será?

Tem o Luiz Carlos Jr, conhecido como o narrador capslock, pois parece narrar sempre em alto volume. Ele é muito empolgado e sempre termina todas as frases com um sorriso. E volta a falar muito alto! Dizem que ele tem 3 pulmões.

Ele só é superado pelos gêmeos carecas do Esporte Interativo, não é mesmo? Me disseram que os “irmãos” vêm do rádio, portanto imprimem uma dramaticidade necessária ao ouvinte do blaupunkt transistorizado. Ok, mas eu tô vendo que aquela jogada não passa de uma cobrança de lateral. Não adianta valorizar daquele jeito. Estilos, compreendo.

Na categoria dos narradores empolgados também tem o Everaldo Marques, que foi injustamente criticado por chamar Lady Gaga de ridícula.

https://www.youtube.com/watch?v=aM6ix40omyk

Acontece que esse é um bordão do Evê. É um elogio, ele até se explicou no dia.

Nivaldo Prieto da Fox Sports é um perigo. O narrador garanhão trabalha a luz de velas, com um cálice de vinho tinto e vozeirão. Bobear, manda flores pra sua namorada depois do jogo. Evito muito! Aliás, cabe comentar a novidade da Fox Sports que permite desligar a narração. O telespectador fica apenas com o audio ambiente do estádio. Parece que você está vendo o jogo de uma janela. Eu curti isso. Parabéns, Fox Sports!

Temos um narrador muito especial ao nosso alcance. Trata-se de Rômulo Mendonça, mais conhecido pelos jogos da NFL. A boa surpresa veio nas Olimpíadas do Rio. Um mês antes dos jogos, ele foi informado que narraria os jogos do vôlei. Era uma novidade pra ele, que passou esse período estudando escalações dos times que participariam dos jogos. No Thunder Radio Show, questionei se ele havia decorado o elenco feminino da China. Ele não só confirmou, como repetiu ao vivo o time titular e as reservas! Ele teve a sorte e o talento ao seu lado. Virei grande fã dos bordões dele!

Algumas duplas de narradores e comentaristas são especiais e bem sucedidas. Rogério Vaugham e Gerd Wenzel no campeonato alemão é um exemplo. Química perfeita!

Ary Aguiar é outro fenômeno. NFL, NHL, Baseball, basquete, futebol, mas principalmente o Rugby, ao lado do mestre Antônio Martoni. Aprendi a admirar esse esporte graças aos dois!

As voltas ciclísticas narradas pelo Ary e comentadas pelo Celso Anderson, me fazem assistir todas as etapas. Ou gravá-las pra assistir depois. Eu aguardo o início das temporadas da Vuelta de España, Giro d’Italia e Tour de France, ano a ano!

No futebol, acho que Paulo Andrade é dos meus prediletos. Preciso, informativo, bem humorado, sem exageros, muita finesse! Faz duplas no campeonato inglês com Mauro Cezar. Sou torcedor do Liverpool (por causa de uma música do Pink Floyd “Fearless”, do disco Meedle, onde se ouve no final “You’ll never walk alone”). As vezes, vejo os jogos da seleção brasileira com o Paulo, sempre bacana. Essa é a música do Pink Floyd que me fez curtir o Liverpool:

Mas, por vezes, eu sinto falta do Galvão! Dos RRRRRRs dele, das adulações ao Neymar, da bronca que ele tem dos argentinos, dos palpites absurdos, dos erros constantes, aquela pausa que ele parece fazer pra ouvir o ponto eletrônico. Claro que, as vezes, isso tudo enche o saco! Mas eu não resisto a sofrer com ele, um narrador/torcedor desvairado.

Na última transmissão da Fórmula 1 ele cometeu outro erro. Anunciou o “Grande Prêmio do Barão” ao invés de Bahrein.

Ele mesmo emendou: “… hahahaha, essa foi boa! Todo mundo vai escrever!”

Claro, Galvão! Você sabe que muita gente espera pelo seu erro pra poder correr pro twitter e emplacar outro même de internet.

Eu não vejo nenhum dos citados acima substituindo Galvão Bueno. Nenhum deles seria capaz de superar suas qualidades e defeitos. São características dele. Ele é o maior! No que ele é ‘o maior’, é com cada um, claro!

Não se aposenta não, Galvão! Com as novas regras, você vai precisar de mais uns 20 anos pra conseguir os benefícios.

Fica com a gente. Mas se acalma! Tô te achando muito nervoso. Calma, Galvão, você é o maior…

 

*Luiz Thunderbird é músico, apresentador de TV e comanda o Thunder Radio Show, na Central3.

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