Por El Biglia de la Gente
Pensando em Gaston Sessa, lembro de jogo viril, do hit “Ferrolho Italiano” do Sentimento Carpete e principalmente das tradicionais tardes no sobrado da Jesuíno Maciel. No reduto do Campo Belo imperava a vagabundagem domical ao lado de Gabriel Brito. Após a rodada do Brasileirão, era momento de comprar guloseimas e ver o clássico do futebol argentino na ESPN ou o streaming, novidade da época, com algum compacto da TV porteña. Era Abril de 2007. Naquele domingo de outono surgiu certa vez ao fundo da placa de aúdio: “Outro Escândalo de Gato Sessa!”. Morríamos de rir com a cena que parecia tirada das Videocassetadas da Rússia, pois o então goleiro do Velez, o popular Gastón el Gato Sessa, havia saído do estádio Mundialista de Córdoba direto para a delegacia após aplicar uma sonora bolada na cara do gandula e mostrar que “tenia huevos” para uma televisão local.
“Lo que le pasa a Gastón Sessa?” pergunta o incrédulo o locutor da Todo Noticia, canal sensacionalista e clássico da TV na Argentina. Naquela mesma semana, em jogo da primeira fase da Libertadores contra o Internacional em Porto Alegre, Sessa havia enchido a cara do zagueiro Maximiliano Pelegrino de alegria em pleno Beira Rio. Escapou da expulsão, porém não da manchete em todo continente.
Seu primeiro escândalo doméstico foi em 2002 quando em um Velez x San Lorenzo, no José Amalfitani, Sessa agarrou o arbitro Sérgio Pezzotta pelo pescoço após uma saída transloucada que lhe renderia outra expulsão. Pegou 10 de jogos de suspensão e começou a rubricar seu histórico de maluquices contra companheiros do mesmo time, árbitros, gandulas ou rivais.
Nascido em La Plata, em bairro tripero de tradição, Gaston Sessa começou profissionalmente por ironia da vida no Estudiantes de La Plata. Passou pelo Rosario Central, também por Racing nos anos de remate, porém encontrou seu auge no Velez Sarsfield. Em Liniers venceria um título argentino, em 2005, sob o comando de Miguel Ángel Russo. No ano seguinte, em jogo contra o Lanús, no sul da Grande Buenos Aires, válido pela Copa Sulamericana, Sessa não gostou da tola expulsão de Lucas Castroman e saiu correndo após o apito final direto para o vestiário afim de dar uma coça no meio campista. Foi contido com um tackle digno de um full back dos Pumas pelo então preparador de goleiros do Velez.
El Gato, com seu mullet sagaz e presepadas mil, já assumia uma total idolatria em nosso imaginário. A fama internacional seria conquistada com a ação mais insólita da Libertadores de 2007. Oitavas de Final, no jogo de ida entre Boca x Velez em La Bombonera, Sessa deu um golpe digno de Senhor Miyagui e Daniel Sam em Rodrigo Palacios. O relógio marcava 25 minutos e o placar apontava a vantagem xeneize por 1 a 0. Hector Baldassi não teve outra escolha: expulsão e penalidade para o Boca. O jogo terminaria 3 a 0 com um dos shows de Riquelme naquela edição que culminaria na conquista bostera. Era o fim das presepadas de Sessa com a camiseta do Fortin.
A fúria de Gaston Sessa se transladou para as divisões menores da Argentina, onde foi defender a meta do Boca Unidos de Corrientes, na B Nacional. Em jogo disputado em Mendoza contra o Independiente Rivadavia, Sessa novamente atacou um gandula com uma bolada singela. Para finalizar a jornada inspirada, “se agarro a trompadas” com um torcedor do clube mendocino, sendo novamente obrigado a depor na delegacia da capital vinícola da Argentina.
Já estávamos sentindo falta de algum escândalo de Gaston Sessa, quando no mês passado chegou a nova cafajestada do veterano goleiro. Eis que, mesmo aos 41 anos, El Gato segue nos deleitando com ações intempestivas. Ainda defendo a meta do Boca genérico no segundo escalão do futebol argentino, Sessa deu um backflip certeiro na coxa de Marcos Pichio do All Boys. O jogo estava empatado, quase no final, mas o camisa 1 não teve critério e foi expulso de forma cinematográfica. Como num samba de Moreira da Silva, Gaston Sessa assumiu o refrão que o persegue durante toda a carreira: “Pra se topar uma encrenca, basta estar distraído, que ela um dia aparece. Não adianta fazer prece”.