Quando um general como Villas Boas, comandante do Exército chantageia a Suprema Corte do País utilizando a bandeira contra a impunidade, é hora de perguntar o que o general tem a dizer sobre a impunidade aos torturadores da Ditadura Civil-Militar brasileira?
Este ano completa 45 anos do sequestro, tortura, estupro e assassinato brutal da menina Ana Lídia, de apenas 7 anos (foto). Em 1973, investigações apontaram a participação de filhos de políticos, traficantes, o sítio do vice-líder da Arena no Senado Federal e até o filho do Ministro da Justiça na época. O crime foi abafado pela polícia. Os arquivos foram destruídos. Sobre esta impunidade não me recordo do general falando absolutamente nada.
Da mesma forma, não me recordo do general Villas Boas falar sobre o sequestro, prisão e tortura de Samuel Dias de Oliveira, Luis Carlos Max do Nascimento, Zuleide Aparecida do Nascimento e Ernesto Carlos Dias do Nascimento. Todas elas crianças detidas pela Ditadura com idades entre 1 e 9 anos.
E sobre a tortura de Rosa Maria Barros dos Santos, no Recife? Rosa estava grávida. Foi brutalmente torturada por militares e induzida a abortar seu filho. Sua ginecologista ainda lhe disse que ela teve muita sorte por ter feito um aborto completo! Do contrário teria morrido. Também não lembro do general ter falado nada sobre a tortura e assassinato do jornalista Vladimir Herzog na sede do Doi-Codi.
Desconfio que o comandante jamais irá condenar a impunidade destes casos.
Outro dia, o general Hamilton Mourão enfeitou de elogios o torturador e comandante do Doi-Codi, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Em vez de uma reprimenda, o comandante do Exército achou melhor enfeitar o apologista de torturadores de elogios, mesmo sabendo que o artigo 287 do Código Penal brasileiro estabelece que é crime fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime.
O general poderia falar sobre todos esses casos de impunidade. Mas não vai, porque não é a impunidade o que o general repudia. O que ele repudia é outra coisa. Uma coisa que começa com a D e termina com cracia.