Por Gil Luiz Mendes, do Baião de Dois
Zé Teodoro (Zé, te adoro), comandante da nau tricolor, quando esta navegava pelos turbulentos mares da Série D, repetia um mantra de quatro palavras a cada vitória do time: “não ganhamos nada ainda”. Naquela época discordava do treinador e me permitia sonhar em sair daquele purgatório que já durava mais do que qualquer pecador merecesse.
Hoje acordei com essa frase do Zé ecoando em meus ouvidos. Está difícil conter a empolgação. Até esperava um Santa Cruz competitivo no seu retorno à primeira divisão do Campeonato Brasileiro, tendo em conta que vencemos o Campeonato Pernambuco em cima e dentro da casa do maior rival e conquistamos a taça da Copa do Nordeste. Tudo isso no espaço de uma semana.
Cada amigo que me encontrava dizia que estava feliz com a volta do Santinha à elite do futebol nacional e que, de alguma forma, se juntaria a mim e torceria pela cobra coral. Pois bem, se passam três rodadas e o meu time é líder da competição, com direito a duas goleadas e o artilheiro e melhor jogador do torneio até o momento. Some isso tudo a dezesseis jogos de invencibilidade no ano.
Junto à boa fase surgem as malditas comparações. Por que um time considerado pequeno resolveu ser campeão do Campeonato Inglês justamente nesse ano? Justamente no ano da redenção tricolor? Talvez seja para que a estupidez do imediatismo grite a plenos pulmões: “É o Leicester do Nordeste”. Calma, por favor, calma.
Tal qual Jorge Ben na música É Proibido Pisar Na Grama, eu também quero “ver mais vitórias do meu time e se for possível vê-lo campeão”, mas seria pedir de mais de um elenco que, sim, é bastante limitado. Louvemos Grafite, que hoje é um atacante completo tendo um fôlego de menino e a malandragem e experiência que as rodagens pelo mundo do futebol o deram; e Milton Mendes, que coloca na prática as teorias, até então distantes do Arruda, do futebol de intensidade.
Por mais que o coração de três cores tente não deixar, mantenho o discurso do dia que soube que o Santa Cruz jogaria a primeira divisão em 2016. Se o time chegar na 16ª colocação abram os portões da sede do clube e liberem o tradicional banho de piscina pra massa coral. Tudo que eu mais quero no momento é que o Santinha chegue logo aos 48 pontos. Depois disso poderei falar qualquer coisa que não seja permanecer na Série A.
Enquanto revejo os gols de Grafite pela nonagésima vez, Zé Teodoro não para de entoar seu mantra no meu ouvido.