Quando se assiste a um filme cujo protagonista é um boxeador, se espera que ele comece empolgado com os treinos, leve uma surra de perder o rumo de casa logo na estreia, passe mais tempo nas cordas que sobre os tornozelos e, num último ponto de virada, tire forças dum sonho de criança, de uma memória com o pai, de um retrato com o sorriso da mãe, e vence, soca o rival e entra para a história feito aqueles causos que de tanto que duvida chega a acreditar, meio Senna ganhando a corrida só com a sexta marcha, ou o Confiança vencendo o Flamengo na noite de véspera de aniversário de Aracaju.
O Confiança, atual bicampeão do Sergipe porém das piores campanhas e já eliminado na Copa do Nordeste, começou o jogo da noite de abertura da Copa do Brasil tão mal, mas tão mal, que chegou a parecer estar construindo o personagem. Em oito minutos, Caíque deixou o braço e cortou o supercílio de Guerrero, e Elielton, faixa de capitão no braço, que já havia também dado uma chegada no peruano, desta vez encarnou o kickboxing e encheu o pé no rosto de Ederson – vermelho direto e escândalo em rede nacional.
Aí começou o festival de chances perdidas pelo Flamengo, total posse de bola, já planejando o segundo gol, o da eliminação, antes do primeiro. Emerson deu por cima do goleiro e raspou a trave, Ederson limpou na entrada da área e parou no goleiro, Wallace também tocou de cabeça para a defesa de Rafael Sandes, Guerrero viu o toque ser tirado em cima da linha, o próprio lateral Lucas Rocha quase marcou contra, Arão mandou por cima, Cirino tentou de canhota, o bandeirinha errou uma linha ou outra. “Hoje a bola não quis entrar”, estão falando até agora, na reprise da subida para o ônibus.
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A noite já beirava o show do Wesley Safadão, astro maior da capital sergipana nesta madrugada de aniversário, e o repórter já anunciava que a renda de R$1 milhão era de muito valia para a folha de pagamento de R$150 mil do Confiança. E eram 34 minutos quando um contra-ataque filho único encontrou Everton para dominar, soltar o pé de perna esquerda e fazer história: 1 a 0. Se antes do jogo foram homenageados os atletas que defenderam o Gigante Operário no único encontro com o enorme rubro-negro carioca, uma derrota no Maracanã nos anos 1970, os de agora, ao vivo, em HD e diante de 15 mil torcedores no Batistão, têm ainda sequência marcada. É ver se no episódio Volta Redonda, o segundo, o Rocky vence no final.