Por Felipe Bigliazzi
“La mesa y la ventana y el mozo que se pasea como el mundo, yendo y viniendo, llevando y trayendo los copetines, que son los únicos motivos por los que tipos como la gente se bancan ese estúpido paseíto por el mundo” (Enrique Symns)
Com La Vida es un Bar na cabeceira e e os ensinamentos dissecados por Enrique Symns – poeta porraloca imortalizado na canção Mosca de Bar da banda Dos Minutos – que com sua pluma afiada anestesiava o dissabor da insônia em meio a noite de devaneio copero. Trajado como corresponde e com suas três listas abaixo do peito, cruzamos a Rua dos Pinheiros até encontrar o bar predileto dos centralinos. Para delírio dos convivas, salvamos os presentes de outra noite sintetizada na trama de O Império e uma versão imprópria de Lucy In the sky with diamond que faria Julian se arrepender de ter apresentado o desenho para o tal Beatle John. Por essas e outras, o pedido para sintonizar Danubio e San Lorenzo no “canal campeão” causava certa interrogações.
Eis que, atendido pela alma solícita e com uma Original de 600 na mesa, pudemos degustar o confronto derradeiro dessa primeira rodada do Grupo 2 da Libertadores com o copo devidamente preenchido. O Danubio, impossibilitado de jogar no belo Jardines del Hipodromo recebia o Ciclón de Boedo no estádio Centenário. Campeão da ultima temporada uruguaia, o conjunto de La Curva iniciava o jogo pressionando em campo rival. O gol, logo nos primeiros minutos, surge de um erro forçado na saída de bola azulgrana. O centroavante Matias Castro, argentino moldado nos duros embates da Primera C de seu país, vestiu o traje de protagonista. O goleador que chegou oriundo do pequenino Defensores de Cambaceres, por alguns segundo nos remetia a figura de Edinson Cavani e como fosse outra cria frajeada, griou entre Cetto e Caruso para bater no canto direito de Torrico.
O Danubio especulava no 4-4-1-1, levando vantagem nos rebotes e saindo rápido com os ponteiros Marcelo Tabárez e Leandro Sosa. O conjunto de Leonardo Ramos foge um pouco do nosso imaginário charrua e seu tradicional jogo viril. Nos depararmos com a leveza de um time jovem, quase totalmente formado nas canteras inesgotáveis de Maroñas. Do título nacional se foram: o goleiro Salvador Ichazo que partiu para o Calcio, além dos ótimos meias Gonzalo Porras e Santiago Mayada. O meio campo é técnico, o que se resume com a qualidade dos volantes centrais e a dupla afiada composta por Ignacio Gonzalez e Hamilton Pereira. Pelos flancos, Leandro Sosa e Marcelo Tábarez desbordam em contra-ataques que saíam quase sempre às costas de Matias Catalán e Emmanuel Mas .
San Lorenzo juega como el orto, dizem os críticos de Paton Bauza desde o segundo semestre de 2014. Com seu paladar canalla, Bauza configurou o San Lorenzo no 4-1-4-1 que liberava Ortigoza para a linha de armação ao lado de Sebastían Blanco. As saídas de Nacho Piatti e Ángel Correa se fazem sentir desde o desenlace da Libertadores. Por este setor, Leandro Romagnoli era deslocado para a esquerda, em uma posição pouco habitual nessa altura da carreira. Hector Villalba, bem aberto pela direita era um singelo fator surpresa nos últimos metros, sempre bem custodiado por Guillermo Cotugno, o firme lateral franjeado.
O jogo parecia controlado e um domínio cuervo que não se argumentava com ocasiões claras. Foi quando Edgardo Bauza optou pela entrada de Cauteruccio, o homem da casa, charrua de lei. Mauro Matos, que voltava a ser titular em 2015, foi o protagonista do empate agônico, quando os ponteiros quase marcavam 41 minutos. Uma estocada de Ortigoza e a total desatenção de De Los Santos, Pereira e Tognacioli, desencadeou o 1 a 1 que se apresentava oportuno para os majestosos.
Um último gole no copo americano, a conta devidamente pedida, quando Mauro Cetto se antecipava aos defensores uruguaios para definir uma vitória com a cara do último campeão das Américas; um time sem tantos argumentos, que se banca na personalidade e no caráter forte.
A despedida se fazia notar na esquina da Rebouças com a Cônego Leite e o chamado para o possível reencontro de parte da mesa marcado para o setor habitual do Cícero Pompeu de Toledo.