Luganazo

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Por Denis Bertin

Desde que fiquei sabendo que Diego Lugano jogaria no Cerro Porteño e não no São Paulo, fiquei muito puto, de verdade, como é possível não querer o retorno de um ídolo? De qualquer forma, vi a possibilidade de vê-lo jogar novamente, da arquibancada, afinal de contas Assunção é um pouco mais perto que Gotemburgo, e ainda poderia conhecer uma nova cancha.

A oportunidade veio através de um convite de um amigo, o Fernando, que estava de férias e queria ir à Foz do Iguaçu conhecer as cataratas.

Respondi, dizendo que iria, se ele topasse esticar a viagem até a capital paraguaia, ainda sem saber que ficaríamos 5 horas dentro de um ônibus. Após a estadia na Tríplice Fronteira, embarcamos às 0h15 do domingo (13) dia do jogo e chegamos ao hostel às 6h30, horário local.

A ideia de entrar no quarto e dormir foi por água abaixo quando fomos informados que a região toda estava sem energia, sem acesso ao computador e a recepcionista não podia localizar nossa reserva para efetuar o check-in, ela nos sugeriu que esperássemos até as 14h, assim economizaríamos uma diária. Sugestão aceita, cochilamos no hall do albergue até umas 9h30. Depois de descansar um pouco achei melhor sair pra conhecer a região e descobrir o caminho até o Defensores del Chaco, já que La Olla está em reforma.

Depois de errar algumas ruas chegamos à casa do futebol paraguaio. sem nenhuma movimentação na região, todas as bilheterias que vimos estavam fechadas, até que encontrarmos um senhor – parecia um funcionário do estádio – saindo por uma portinha. Perguntamos como comprar as entradas e ele respondeu que só a partir das 15h, na bilheteria principal. Agradecemos e antes de sair meu amigo notou que a tal portinha dava direto gramado, perguntei para o senhor se podia entrar para tirar umas fotos e ele respondeu: “Claro!”.  A “mesma” burocracia que temos por aqui.

Após fotografar conhecemos o entorno do bairro Sajona. Cruzamos um ambulante com seu varal de camisetas “paralelas”, encostei nele pra checar algum cachecol para a minha coleção. Infelizmente, ele só tinha bufandas do Olimpia – não sei por que ele tinha coisas do Decano em dia de jogo do Ciclón – mas acabei levando uma. Aproveitei para perguntar se ele achava má ideia eu assistir ao jogo vestindo a camisa do São Paulo, com o número 5 e o sobrenome Lugano às costas, e a resposta foi negativa. Ainda disse que mais tarde teria ingressos pata vender, no melhor lugar do estádio por G$ 40.000,00 (algo em torno de R$ 28,00).

Retornamos ao hostel, almoçamos, finalmente fizemos o check-in, tomamos uma ducha e estávamos prontos para voltar ao Defensores del Chaco, localizado há cerca de 3 km da nossa hospedagem.

Eu ainda não revelei, mas meu amigo é torcedor do “Mal” – pra usar a terminologia do Alexandre Giebrescht, do VVT – e queria ir com a camisa deles, fiquei meio puto, não tinha nada a ver com a ocasião. Para tentar fazer ele mudar de ideia eu questionei: “Mano, você vai aparecer com essa camisa branca e preta no meio da torcida dos caras, tá maluco?”. Sinceramente eu achei que não tinha problema, as camisas do Olimpia e do SCCP têm as mesmas cores, mas são bem diferentes, porém meu questionamento deu certo, pois ele colocou uma camisa do Cerro, que nós compramos em Ciudad del Este.

No caminho de volta à cancha, percebi que algumas pessoas ficaram olhando pra mim, certamente pelo manto tricolor. Procuramos o “seu” Ramón, o vendedor de camisas, e pedimos os ingressos. Então, ele chamou outro senhor, que parecia um cambista, mas que na real tinha autorização para a vendea, com carteirinha e tudo. Claro que o ingresso acabou ficando mais caro, pagamos G$ 50.000,00 (aproximadamente R$ 36,00).

Os portões foram abertos e os senhores não mentiram e realmente o lugar era excelente. Entramos bem cedo e deu pra escolher o lugar tranquilamente.

Quando o setor começou a encher aqueles olhares começaram a vir com comentários, as pessoas sussurravam: “São brasileiros? Acho que sim”. Um vendedor de chipa (um pãozinho típico deles) passou por nós e disse: “Eu falo português! Vamo colabora?”. Como a grana estava contada não deu para comprar o quitute.

Meu amigo já estava mais tranquilo, tirou a camisa do Cerro, logo em seguida veio um comentário: “São Paulino e Corintiano juntos? Que legal, tem que ser assim mesmo”. Era do Walter, um rapaz paraguaio, filho de brasileiros e falava muito bem português.

Nos aproximamos dele e conversamos pra caramba. Ele contou um monte de coisas bacanas sobre o Campeonato Paraguaio, e como acompanha o Brasileirão também, até compartilhou a internet móvel comigo, para eu acompanhar o duelo de tricolores entre Grêmio e São Paulo.

Antes do apito inicial, começamos a ouvir os bumbos e os cantos das barra bravas entrando na arquibancada. La Plaza e Comando disputam o espaço atrás do gol – de forma pouco amistosa, segundo o Walter – e fazem o uma festa muito bonita apesar do restante do estádio não ter muita gente. Fiquei ansioso esperando o recebimiento ao Cerro Porteño.

Bola rolando e ai veio àquele tapa na cara chamado realidade. O nível jogo era bem fraquinho, apesar da disposição de todos os jogadores. Poucas jogadas trabalhadas e raros chutes no gol, lembrou bastante alguns jogos do São Paulo nesta temporada.

Obviamente quem chamava mais à minha atenção era o camisa 5 azulgrana. Pelo alto não perdeu nenhuma, por baixo sempre chegando firme, tomando a bola e tocando de lado, sem frescura, só tentou um lançamento e colocou a bola no peito do lateral-esquerdo, na velocidade ele ficou devendo, mas a cobertura que ele faz e o senso de posicionamento são perfeitos.

Até os 20 minutos do 2º tempo praticamente nada aconteceu, me deixando decepcionado. Viajar 1400 km pra ver um 0x0 era sacanagem. Aos 22’ Guillermo Beltrán fez 1 a 0 para o Ciclón e deu uma aliviada na tensão da galera, o jogo ficou melhor.

Aos 24’ falta pela direita para o Cerro cobrar. O camisa 17, Jonathan Fabbro – a quem o Walter comparou com o Ganso; um excelente jogador, mas que some em boa parte do jogo – colocou na área e Lugano voou por cima da defesa adversária e meteu um golaço. Um senhor ao meu lado gritou: “QUÉ CABEZAZO!”. Minha sensação foi de felicidade intensa. Naquele momento já tinha “zerado” a viagem, iria embora mais do que satisfeito.

Contudo, aos 30’ nova falta para o quadro do Barrio Obrero pela direita e Fabbro se apresentou novamente para a cobrança. Meu novo amigo me cutucou e disse: “Olha lá! Outro gol do Lugano”. Como no primeiro lance, o meia alçou a bola à área, dois jogadores disputaram pelo alto, ela sobrou na linha da pequena área para o zagueiro uruguaio, que soltou uma patada de esquerda, com gosto, sem chance para o goleiro. 3 a 0, dois gols do meu 2º maior ídolo (abaixo de Rogério Ceni, óbviamente).

Não dava pra acreditar em tanta sorte, as pessoas mais perto de mim começaram a bater nas minhas costas e me cumprimentar, falavam alguma coisa boa, pelo sorriso no rosto deles e o momento, mas eu honestamente não consegui entender direito, até que o Walter virou para mim e disse: “Pô você é pé quente! Tem que vir para o clássico”. Se ele soubesse que estava no Morumbi nos jogos contra Goiás e Ceará, talvez ele não dissesse isso.

Nos minutos derradeiros o Sol de America ainda fez um gol de pênalti, nada que tirasse minha alegria. Apito final, o Walter se despediu de mim e saiu um pouco apressado do estádio, eu ainda demorei um pouco e fiquei pensando em descer até o limite da arquibancada para tentar chamar a atenção do autor do doblete.

https://www.youtube.com/watch?v=ZhYDVjm_XAE

Decidi não fazer nada, o dia já tinha sido perfeito demais. Saímos do estádio junto com alguns hinchas locais e seguimos a pé até o hostel. Já deitado na cama, tive a certeza que nunca esquecerei o Luganazo!

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