Por: Gustavo Chimure, palmeirense nas boas e nas más
De modo geral, eu sempre fui muito apaixonado por ir ao estádio. A sensação de estar junto de mais 20-30 mil pessoas empurrando meu time, todos presumidamente tão aficionados quanto eu, sempre foi algo que me encantou. Porém recentemente esse encanto tem diminuído dentro de mim. Não que eu não sinta mais vontade de ver jogos no estádio, o ponto não é esse, mas aquela excitação de ver que na próxima rodada somos mandantes fugiu um pouco de mim. E isto me intriga muito. Qual seria o motivo para que isso tenha ocorrido?
Refletindo um pouco sobre o assunto, eu cheguei à conclusão de que a resposta está no fato de que eu sinto uma necessidade inconsciente de estar efetivamente contribuindo para que meu time alcance o resultado desejado. Explico. Naturalmente todo aquele que vai ao estádio e canta os gritos junto da torcida contribui para que a atmosfera fique propícia para incentivar os jogadores a buscarem a vitória a todo custo. Todavia, existem momentos em que este apoio é mais necessário e existem momentos em que este apoio é apenas uma mera contribuição a toda uma conjuntura já estabelecida que tende a levar a este resultado. Imagino que não esteja sendo muito claro, então vou trazer exemplos pessoais para ilustrar o que eu quero expor.
No ano passado, assim como em muitos anos do passado recente, o meu time se encontrava em uma situação complicada. Estávamos ou jogando a segunda divisão nacional, ou disputando para não sermos rebaixados de novo, ou apenas presos em um marasmo entristecedor. Em todos esses anos, eu me sentia na obrigação de ir ao estádio junto dos 5-10 mil torcedores para dar meu grito de apoio, mostrar que o time não estava sozinho nessa, que esse time representa não apenas uma agremiação futebolística mas sim a alegria de 16 milhões de pessoas. Eu sentia que o fato de eu ir ao estádio ver aqueles jogos sabidamente horrendos demonstrava verdadeiramente a minha paixão pelo meu clube, expunha a necessidade de união e apoio que eram necessárias para que os jogadores continuassem acreditando em algo que eu acreditava cegamente. Não foram poucos os jogos contra equipes inexpressivas que eu fui e que na semana que precedia a partida todos já sabiam que este era um compromisso inadiável para mim.
Entretanto, da última temporada (na qual na última rodada eu comprei meu ingresso convenientemente alocado ao lado do vidro que separa a torcida do campo para que caso ocorresse o pior, eu pudesse contribuir com os demais companheiros de torcida no que pudesse vir a ocorrer no estádio) para esta parece que algo que fazia tão parte da essência do que me levava ao estádio se perdeu. Com o clube se reestruturando, o programa de sócio torcedor se expandindo, patrocinadores oferecendo montantes altíssimos de dinheiro para o clube, diversas contratações badaladas na janela de transferência e rendas exorbitantes para os padrões brasileiros com a venda de ingressos, eu senti que o meu grito tenha perdido a força que tinha dentro do estádio. As pessoas “normais” assumiram o papel de incentivar o time na medida do necessário e não tem mais razão para que eu empurre meu time para fora de alguma situação complicada.
Claro que isso soa muito como masoquismo, alguém que gosta de sofrer. Naturalmente eu fico muito feliz de poder vislumbrar em um futuro de médio prazo meu time disputando efetivamente todos os campeonatos que disputar. Porém a questão é que a minha identidade com meu clube se formou a partir de uma convicção muito enraizada de que ele precisava de mim. Agora, dada a nova conjuntura, eu sou apenas mais um torcedor, não alguém que participa de fato no processo de construção e fortalecimento do clube. Assim como um pai que vê o filho crescer, eu sinto que o meu clube já consegue caminhar pelas próprias pernas, de modo que o motivo que me fazia ir ao estádio religiosamente se esvaiu. Sinto de certo modo como se fosse só mais um torcedor indo ao estádio para ver um espetáculo e sair contente com um resultado positivo, assim como os demais 30 mil que passaram a acompanhar os jogos in loco.
Esta razão talvez tenha se mostrado tão clara para mim principalmente por esta semana. Agora que meu time perdeu a final do estadual e está teoricamente desmotivado, me surgiu uma vontade imensa de ir ao jogo de sábado incentivar a equipe e mostrar que estamos juntos para o que der e vier. Ou seja, agora que a minha presença passou a ter um valor agregado a ela, o meu interesse inconsciente voltou a se manifestar.
Enfim, futebol, assim como a vida, são fases. Esta talvez seja só uma fase. O meu amor pelo meu time certamente não mudou em nada, porém a minha relação com ele talvez esteja sofrendo alguma transição que ainda estou tentando descobrir. Como já comentei em outros momentos, a identidade entre time e torcida que o clube para o qual eu torço tem foi muito moldada por um sofrimento de anos, o que faz com que novos cenários, de maior pujança, impactem muito na relação entre o torcedor e o clube.