O mundo físico é quase o mesmo de antes: rios, planícies, morros, avenidas, prédios, carros, pessoas, animais… Mas há o vírus, agora, em forma de micro-ondas e celulares invisíveis, o 4G, o iPod (sim, escrito desta bizarra maneira). Há o vírus no sistema natural das coisas, e isto está confundindo o entendimento de maneira insuportável (quase…). Não por coincidência, e sim por fluência da polarização de tudo o que vive, o natural deu lugar ao artifício, a vida imitada e não vivida. Robôs, macacos, Zoolander, Matrix…
Quando me falaram sobre a bola com chip, lá pelos anos 1990, não acreditava ser um dia possível algo tão desumano entre nós, humanos formados em energia pura, que carregamos todas estas alegrias, tristezas, vida e morte conforme nossas próprias, autônomas e livres escolhas – tudo isto em essência, claro, pois na pratica da realidade, estamos mesmo vivendo como robôs, macacos… Eu não duvidava da existência de tal tecnologia nas bolas de futebol. O que não queria aceitar (e nunca, de fato o farei) era nossa pacífica, passiva, inerte convivência com tal aberração, a transformação do jogo tesudo na ciência exata, cuja ausência perpétua o fez como o é. O monstro da aberração resulta na falta de ação dos homens, o homem covarde, o homem abobado, sempre carente deste novo “ser” à nossa volta (agora e para todo o sempre, se assim continuarmos…). As ondas sonoras que produzem estes aparelhos barram as ondas naturais que, quando não domados por este demônio do novo milênio, reluzimos sem parar, com nossa espetacular capacidade de receber e transmitir e, assim, unirmo-nos.
Na caravana juventina para Osasco, domingo último, pela copa miserável que a merda da federação concebeu-nos, mais uma evidencia desta loucura toda de ser vivida. No meio de um caminho que conhecemos há tempos, que já percorremos varias vezes (naturalmente!), os carros grenás se perdem, perdem tempo, entram e saem de ruas desconhecidas – adeus marginal, adeus Cebolão, me faz chorar outra vez por eles! Motivo? O juventino que liderava a jornada usava o tal de GPS para chegar ao campo. Como as antenas do aparelho falharam, a conexão também, e, logo, falhou o homem, o humano, a caravana, o caminho, a vida. Como formigas envenenadas, nos dispersamos, saímos do foco, andamos sem rumo, sem força, sem ação, como querem os putos amos (que, claro, criaram estes GPS, 4Gs, iPods…). Eu me encontrava no segundo veiculo, mal sabia o que se passava.
Mas assim que recebi a informação percebi que, realmente, o homem se deixa levar, se deixa enamorar, se deixa seduzir e viver como querem os putos amos e não como nós mesmos, nossas próprias células nos comandam. Perdemos-nos junto com o futebol a nossa frente. E com razão seguiremos, tudo é nada, e nada é tudo. Então, ficamos a rir a valer daquela perdição dentro do nosso veículo, pois estamos vivos, ao lado da excitação de um dia de futebol. Você só vai chorar, mais tarde, quando o entendimento te abraçar. Eu, logo, entendi o porquê da bola com chip ter vencido, ter conquistado o que era nosso. Eles conquistaram-nos primeiro, implantando o chip na carne, como Nostradamus e Spielberg nos avisaram. O vírus vem vindo de dentro para fora, e as antenas de plástico seguem confundindo tudo isso. O mundo já é da bola com chip, é dos putos amos.
A nós, ainda vivos e com tesão de viver (naturalmente!), resta-nos agir, sair da doença, buscar a cura, acreditar, ter a porra da fé intacta para compartilhar (e nunca competir!) planícies, morros, avenidas, carros, pessoas, animais. Sem medo, com confiança. Saio do Rochedale e penso no Cebolão, mas me vejo logo no bar do Cebola, nos meus cânticos, no meu canto, o canto de cada um de nós. Há espaço para todos, por enquanto só falta o espaço para o entendimento. Somos o outro lado deste homem que se entrega aos putos amos, não vive mais sem ele, mas com ele (falho ou não) também não parecer viver normalmente. Bom dia.