Por Iuri Müller
Todos os dias de futebol, nas grandes cidades do país, torcedores de diferentes camisas economizam dinheiro, passam horas em trens e ônibus e chegam mais tarde em casa para se fazerem presentes no estádio. Entre as torcidas, a do Grêmio é a que, ultimamente, mais se desloca de olhos fechados: estamos movidos mais por uma vontade justificada em si mesma do que pela recordação próxima ou a expectativa dos títulos.
Quinze anos sem troféus de importância nacional, times e times montados e desmontados em temporadas recentes, com desfechos semelhantes, e uma dificuldade para ser campeão mesmo no torneio estadual – das últimas oito taças do Gauchão apenas uma foi para o Grêmio. A espera gera angústia e impaciência, mas não é capaz de afetar a intensidade com que a torcida do Grêmio se move, entre a cegueira e o ceticismo, atrás da Libertadores e dos campeonatos que fascinam.
A impaciência. 2016 começou como uma temporada promissora e havia motivos claros para se pensar assim: o elenco que foi longe no Brasileirão do ano passado foi mantido quase que por inteiro; as contratações, se bem que modestas, com a exceção do equatoriano Miller Bolaños, não foram descabidas; e na casamata estava (ainda está) Roger, o técnico que conhece o clube e que apresenta ideias lúcidas a cada treinamento. Mas o ano começa pelo Gauchão, e perder para o São José em casa provoca dois minutos de vaias ao final do jogo. E iniciar a Libertadores, dias depois, com uma derrota injustificável no México faz com que não saibamos mais de nada – a impressão é a de que, outra vez, iríamos presenciar um desmoronamento.
A busca. Grêmio e LDU, portanto, se enfrentaram numa quarta-feira em que os planos não estavam tão sólidos para o clube de Porto Alegre como se esperava. Mas a busca se mostrou alheia às repetições, ao final de trágico que alguns já descreviam como seria, tão parecido com o que já vimos. Foi uma vitória em que se fechou os olhos: a torcida foi massivamente ao estádio (quase 40 mil presentes), apesar do clima, do horário, da desconfiança; a equipe pareceu esquecer as atuações frágeis de dias atrás e firmou o pé para, desde o primeiro lance, inclinar o campo para o ataque do Grêmio.
Se o Grêmio de ontem for o Grêmio da Libertadores, as notícias são, todas elas, muito boas: Roger encontrou uma maneira agressiva de se jogar, Bolaños mostrou que mesmo com poucos dias no clube pode liderar o ataque e a defesa compensou o histórico recente de falhas com um esforço incomum. E se não for assim, se o que foi apresentado ontem tiver sido uma atuação inusitada, de nada adiantará, ao menos até a próxima quarta-feira: agora, os olhos fechados empurram para o lado o ceticismo e o Grêmio persegue outra vez, com a vontade de sempre, a terceira Copa Libertadores.