Por Marcelo Mendez, publicado originalmente no ABCD Maior
Em um domingo cinza, de tempo fechado e chuvoso, Rogério Miranda jogava futebol. Dono da camisa 5 do Itapiruna, da terceira divisão da várzea de São Bernardo, o rapaz corria em passos largos, elegantes, chamando atenção de quem o via no campo do Orquídeas. Poderia tranquilamente passar despercebido, ou atrair os olhares apenas pelo breve destaque daquele jogo contra o Moraes. No entanto, a vida de Rogério Miranda, 37 anos, revela uma história típica da bola.
“Eu jogava na escolinha do Jardim do Lago, quando um olheiro me viu e levou para as categorias de base do Vasco em 1996. Fiquei por lá durante uma semana em testes e acabei agradando. Fui aprovado e então começou minha história no futebol”, recorda.
Seguindo naquela crescente, o menino de São Bernardo logo foi visto por times de fora e o destino naquele mesmo ano inesquecível foi Portugal. Não demorou muito para que voltasse à equipe cruzmaltina. Promovido pelo técnico Antonio Lopes, Miranda faz parte do grupo do Vasco entre 1998 e 2000. Se tornou campeão da Libertadores e disputou o Mundial, vivendo o sonho de qualquer garoto que joga futebol no Brasil.
“Convivia com craques como Edmundo, Romário, Mauro Galvão, Donizete, olhava para o lado e não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo.”
Talvez não estivesse. Os seguidos empréstimos para times do interior do Rio de janeiro, depois para o Nordeste, as contusões e a perda de foco, geraram os primeiros problemas.
“Não tive ninguém do meu lado para me orientar, era muito novo, menino, deslumbrado com tudo e então começaram os problemas. Até que enquanto joguei conseguia segurar a onda. Mas, depois que parei, me perdi de vez.”
Depois de seguidas operações no joelho, sem conseguir jogar em alto nível, Rogério passa por um turbilhão de acontecimentos. A morte do pai, o ócio, desemprego, tudo isso colaborou para o desvio na vida.
“Menino novo, cabeça perdida, me deixei levar por algumas situações que me pareciam facilidades e que achei que resolveriam meus problemas. Caí para o mundo do crime, para o tráfico.”
Essa incursão no mundo do crime resultaram em consequências drásticas para o Rogério. De uma hora para outra, o jovem meia promissor deixou de habitar os gramados para morar na cela do presídio C.D.P de São Bernardo e depois Franco da Rocha – num total de um ano e três meses de reclusão.
“Pensava a todo instante no fui e no que era naquele momento. Não tinha mais os craques do meu lado, agora eram presos como eu. Doía muito, mas fui forte e dei a volta por cima. Quando saí decidi mudar de vida. Larguei as drogas, parei de beber, de fumar, nada dessa vida ficou”, garante o jogador.
Procurando ajuda, Rogério entrou no time do Itapiruna, onde se sente em casa.“Estamos falando com um pessoal de empresa que conhecemos, tentando uma colocação para ele. É mais difícil porque a vida toda apenas jogou futebol. Mas vai dar certo e ele merece”, torce Paulo Roberto, um dos dirigentes do Itapiruna.
Feliz da vida, Rogério pensa em retribuir jogando bola.